Aqui levantam-se pesos melhor que o Super Homem.

 

Ele é Forte, Duro e tem uma barriga bem cheia. Ele é John Rochard. Mineiro de astros destemido, com sotaque do Este dos Estados Unidos e uma voz não estranha, mas quem será? Reconheço a voz de algum lado a partir do momento que John Rochard aparece em cena e proclama as primeiras palavras. É Jon St. John, voz do notável Duke Nukem. Duke is King! Por isso o sotaque dessa zona da América, pois Jon St. John provém da Carolina do Norte e John Rochard diz sentir falta de Mississipi, depois de estar à espera durante muito tempo pelo jogador dar ordem ao comando. John não consegue ficar muito tempo calado enquanto espera. Às vezes parecem grunhidos vindos da sua imensa barriga, mas não, é a pensar como sair do local em que está. À beira do despedimento colectivo (como acontece em Portugal), os empregados da empresa Skyrig pela qual John também trabalha encontram um mineral raro que procuravam há quatro anos. Mas este achado desencadeia uma série de eventos que levam John e os seus colegas ao encontro de algo muito mais valioso que o próprio mineral em si.

Rochard apresenta-se como um jogo neo-retro cartoonizado, não no melhor que já se viu, embora tenha um aspecto bastante encantador. Não encantador no sentido fabuloso, mas o design das personagens e ambientes fazem de Rochard um jogo visualmente apelativo. Também se sente carácter nas vozes dos actores, em todo o jogo e em todas as personagens, mesmo muitas não sendo personagens com uma importância significativa. Caso dos Wild Boys, bandidos com pouca masculinidade que dizem precisar de massagens e que olham para caixas a voar à sua frente e segundos depois deixam de dar importância. Caixas a voar enquanto anda o John à solta com a sua G-Lifter e a Rock-Blaster é perfeitamente natural.

Já disse ao John que não podia levantar o chão, mas insiste.

 

A G-lifter e a Rock-Blaster são as duas armas que John utiliza para resolver os puzzles e enfrentar os Wild Boys. A primeira possibilita agarrar objectos e inimigos ao longe, controlando a gravidade. A segunda é uma arma de fogo e servem as duas em conjunto, permitindo alternar entre estas. Mas é certamente a G-lifter a mais utilizada e que requer mais destreza, pois Rochard é mais um jogo de puzzle/plataforma do que combate. É também um jogo onde a física por este controlo de gravidade é um dos pontos-chave, não só pela potencialidade da arma e de todos os objectos que se movem (alguns bastante pesados), mas também pela capacidade de John dar saltos em grande distância. Pudera, estamos no espaço, onde a vida extraterrestre é possível. Se não acreditam, vejam esta foto de Danny Trejo, o mesmo coitado que morre em primeiro lugar no (pobre) filme Predators, mas que também desempenha um bom papel principal no excelente filme Machete.

Voltando aos astros, aventuramo-nos em vários a resolver puzzles e descobrir troféus que requerem ainda mais perícia para encontrar e apanhar. Rochard pode ser um jogo rápido de jogar se não quisermos estar a perder tempo a apanhar estes troféus, mas a dificuldade do jogo também se prova por aí e é feito para se aproveitar e deslumbrar, sem pressa. A própria progressão do início ao fim está bem encadeada, dando ao jogador momentos de tudo menos frustração, porque mesmo havendo situações em que se fica algum tempo a tentar descobrir o que fazer, não demora muito tempo a resolver. Gostava, pessoalmente, que a quantidade e a dificuldade de puzzles fossem ainda mais e mais complexas e acho que a Recoil Games podia ter apostado mais nisso. Não para se tornar um concorrente directo de Portal, pois são abordagens diferentes, mas para elevar o teste ao jogador. Contudo, sente-se uma boa progressão na dificuldade e não digo que Rochard seja fácil, principalmente para jogadores que não estão familiarizados com jogos de puzzle.

A sério, é fácil!

 

A aposta numa boa banda sonora é igualmente visível, desde música de dança dos anos 80 ao Rock e Blues, estando bem adaptada ao ambiente visual. O design de som transmite uma carga indispensável, sendo que este não é exagerado e flui de acordo com aquilo que é mais importante perante a acção. Há jogos que custa interiorizar a música ou ambiente sonoro desde o início e que não demonstram uma solidez logo à partida, mas não é o caso de Rochard. Aqui saboreamos, com todas as letras (e um gelado à parte), os vários momentos que nos chegam aos ouvidos e leva-nos várias vezes a parar só para ouvir (e dar outra dentada no gelado).

Rochard é um jogo que dá vontade de jogar uma segunda vez, não só por ser um jogo bem progressivo, mas para tentar recolher todos os troféus que passaram desapercebidos desde o início. É um bom jogo, mesmo com alguns entraves e repetição nos loads e de outros pontuais problemas com pouca importância, como ter um objecto impossível de apanhar depois de ter sido lançado para trás de uma parede. O seu lado cómico e a jogabilidade são os pontos fortes, sendo bem conseguida pela movimentação de John e de todo o aparato que possui para modificar, interagir e dar um pontapé na gravidade. E para terminar, já viram a que preço de chuva está o jogo?

 

Versão analisada: PS3. Também disponível para PC e Mac