What happens in Jurassic… Stays in Jurassic!

Steven Spielberg é um génio.
Não é um génio porque fez filmes como Jurassic Park – Considerado quase unanimemente como um dos seus piores filmes de sempre – Mas é um génio porque, até quando faz um filme como Jurassic Park, consegue manipular a matéria prima de que o cinema é feito e criar uma certa empatia com os espectadores.
Mas eu não estou aqui para escrever uma análise a um filme.

Ou estou? A verdade é que ao longo dos quatro episódios que constituem este Jurassic Park – The Game a coisa fica confusa. E não é para menos. No início de cada um aparecem créditos que normalmente associamos à 7ªArte. ‘Directed by’, ‘Written by’… só não tem ‘Starring’ porque se devem ter esquecido!
Isto só por si não seria grave. Mas não é bom sinal.

A coisa não melhora propriamente quando o filme (perdão, o jogo) começa.
O que a TellTale Games tentou é envolver ao máximo o espectador (perdão, o jogador) nesta aventura gráfica. Mas a tentativa é francamente um desperdício. Um jogo, seja ele qual for, deve fomentar a decisão e a participação dos intervenientes. Ora esse aspecto é deixado um pouco ao acaso neste Parque Jurássico.

Vejamos a mecânica, por exemplo.
Como é que se joga Jurassic Park? É simples. Existem pistas que o jogador tem de descobrir, servindo-se para tal do movimento do ecrã nos quatro eixos e no clique ocasional numa das lupas ou ícones de contexto que vão aparecendo.
Por vezes a coisa varia um pouco e passamos a ter algo vagamente semelhante a um Guitar Hero com dinossauros onde não é preciso ter ritmo mas é preciso adivinhar o que raio é que querem que façamos. O que é impossível.
Imaginem por exemplo que são perseguidos por um Velociraptor. O que é que fazemos? Corremos, como é óbvio! Mas aqui não. Aqui carregamos em duas ou mais direcções, geralmente esquerda-direita, que vão aparecendo no ecrã até que um dos realizadores (perdão, Game Designers) decide que no momento tal o jogador deve carregar duas vezes na tecla para baixo e uma na tecla para cima. Resultado? Morte de estilo sacrificial por mandíbula de criatura do período Cretáceo!!

Se para os humanos basta uma noite mal dormida para ficarem com mau hálito imaginem o bafo que este tipo deve ter se ainda vem do periodo Cretáceo!!

 

Ou seja, morrer neste filme (perdão, jogo) é tão fácil quanto não adivinhar a combinação de teclas aleatória e ilógica que um dos developers escolheu para resolver determinada situação. Portanto, para jogo oscila entre o fácil demais ou o impossível. Para filme… Bem, para filme digamos que a história é demasiado Domingo-à-tarde-na-TVI para meu gosto.
Quanto às personagens temos um pai preocupado que trabalha como médico no parque jurássico. Temos a sua filha, adolescente, rebelde e vagamente irritante. Temos uma mercenária sul-americana bem intencionada mas que tenta obter dinheiro da forma mais tortuosa possível. Temos um grupo de soldados que se vão revelando cada vez mais estereotipados nas suas atitudes e decisões. Temos cientistas que se vão parecendo mais e mais… como cientistas!
E temos dinossauros. Que são sem dúvida o único aspecto vagamente interessante neste título da TellTale.
Mas nem assim vamos lá.
Onde o filme era excepcional, ou seja na técnica, o jogo, esse compromete.
Graficamente estamos em territórios perigosamente obsoletos. As animações da maioria dos répteis são repetitivas e demasiado «presas» para um jogo actual. Com a excepção dos episódios com o T-Rex (aahhh… desculpem o spoiler… não estavam mesmo à espera que houvesse um T-Rex, pois não??) e de um episódio com uma montanha russa, tudo parece datado e feito um pouco à pressa. Salvam-se algumas cenas aquáticas (a minha fase preferida no jogo inteiro) e um ou dois apontamentos musicais que, felizmente, recuperam o tema original de John Williams.
Há aqui momentos com algum suspense, sim. O problema é que depois somos literalmente arrastados por uma gameplay medíocre a passar por estes momentos como se de um filme se tratasse.

Glamossaurus. Menos conhecido que os primos mas muito mais espampanante.

 

Sem acção directa sobre o que se passa à nossa volta ou então, muito pior ainda, com um tipo de acção que não lembra a ninguém.
Repito, a ninguém.
Lembro-me de uma dessas sequências em que temos de injectar uma seringa num paciente dentro de um carro em andamento. A coisa resolve-se tentando centrar o mouse com um círculo que anda à roda a uma velocidade assustadora. Solução para este problema? Escolher a frase “Abranda o carro! Estou a tentar dar uma injecção neste doente!”  numa das opção de diálogo possíveis e voilá… o condutor desacelera, o carro abranda e lá conseguimos acertar com o ponto no círculo. Dá para acreditar? A sério…
Se se tratasse de um jogo casual, enfim, mas a este preço?? (29,99$)
Depois há uma coisa um pouco chata nisto tudo mas que não posso deixar de mencionar. O jogo tem bugs. Não são muitos, é certo, mas notam-se talvez devido à fraquíssima interactividade que o filme (perdão, o jogo) proporciona. Às vezes perdemos o ponteiro do rato.
Escusado será dizer que não há outra forma de resolver esta situação senão voltar ao menu e fazer ‘load’ de um jogo anterior. E pronto. Somos obrigados a ver o filme outra vez! (perdão, a jogar o jogo outra vez) E assim por diante.

Ahhh... O inexplicável terror que alguns homens têm face às mulheres latinas.

 

Há uma altura onde notamos um esforço por parte dos criadores em revestir toda esta encenação de alguns toques narrativos mais subtis.
Episódios relativos ao filme original são revelados, referências a Hammond, o milionário e autor do Parque Jurássico, uma trama que envolve espionagem industrial, enfim coisas que nos passam ao lado porque não são vividas na primeira ou na terceira pessoa sequer.
Mas apetece sempre dizer: “Show me. Don’t tell me”. Estão a ver?

Resumindo: Os diálogos são piegas, as informações de um diário (journal) são irrelevantes e há ainda as opções que mudam o final possível da história. Uma dessas tem de ser tomada num abrir e fechar de olhos e obrigou-me a voltar atrás, ver o filme todo até à parte da decisão fulcral (não há forma de fazer skip nas sequências!) para depois, confuso, voltar a enganar-me na tecla que devia ter carregado.
Esquerda em vez de direita. Cima em vez de baixo. Tudo se resume a este tipo de decisões neste Jurassic Park.
E no final fiquei com um sensação de que passei demasiado tempo a ver televisão.

É um jogo que é um filme. É um filme que é um jogo. Spielberg não aprovaria, de certeza.

(Versão analisada PC) (Também disponível para XBox 360, PS3, Mac e Ipad 2)