Existem dois momentos principais na minha vida de jogador e de, em tempos, surfista. O primeiro foi em 1988. O segundo, é aquele que ainda está por acontecer.

Embora California Games tenha sido lançado em 1987, só no ano seguinte eu o recebi para o Amiga 500. Este jogo que juntava vários desportos de Verão, incluía a mais divertida versão digital de Surf que já alguma vez experimentara ou que já experimentei até hoje. A forma como a onda enrolava por cima das nossas cabeças, os saltos em que nos cruzávamos com gaivotas ou a fantástica sensação de sair do tubo no último segundo, juntos são momentos perfeitos de um conjunto de mecânicas muito bem programadas.

http://www.youtube.com/watch?v=_9U93TOeLAI

Cinco anos depois, em 1992, continuava a remar fortemente para descer as ondas e a deixar-me fascinar com a espuma branca a cavalgar atrás de mim. A diferença é que a prancha que tinha nos pés não era digital e a água fresca sentia-se mesmo na cara. Desde esse ano até hoje alguns jogos tentaram recriar a experiência do Surf mas, para um surfista, essa adaptação tem sido sempre falhada. Em Surfing H3O, Kelly Slater Pro Surfer ou Sunny Garcia Surfing, a jogabilidade é tudo menos aproximada à realidade e até mesmo o mais fiel de todos, Transworld Surf, não consegue acertar com a física. Este é aliás o grande problema, acertar com a física.

Quase todos os fãs dos outros desportos radicais têm as suas recriações digitais muito próximas da emoção real das suas práticas. Da BMX ao Skate, do Snowboard ao Trial, existem não só as experiências arcade mas também as recriações hardcore mais autênticas. O problema do Surf e da nossa espera eterna é causado pelo elemento que está mais presente em nós: a água. É a física da imprevisibilidade de uma onda que é quase impossível de recriar. É a forma como uma prancha afunda mais ou menos numa massa de água em movimento, o facto de termos que variar a pressão que os pés fazem em cada zona da tábua, chegando mesmo a ter de “bater” com o bico na água para tentar acelerar, as variações que a própria onda possui como empurrar-nos para cima ou para baixo em certas secções que tem feito os programadores puxar pela cabeça sem sucesso.

Parado, The Surfer está perfeito. O problema é quando começa a mexer.

 

O estúdio independente Bungarra está a tentar trazer até nós essa jogabilidade que seja a recriação fiel do desporto. No papel, THE SURFER parece estar a tocar em todos os botões certos. O sistema de física real baseada no momento da onda, a mecânica de controlo PUMP que nos permite subir ou descer as melhores secções com a finalidade de atingir a melhor velocidade, ou o facto de as ondas poderem partir a qualquer momento atrás de nós ou à nossa frente (incluindo a espuma) fazem todo o sentido quando já se esteve fechado no interior de um sonoro tubo.

O problema é que quando vemos o jogo a mexer, lá regressa a sensação que vamos voltar a ter mais do mesmo. É certo que o jogo apenas está em versão Alpha, mas esperemos que a produtora não esteja a levar demasiada areia à sua camioneta, pois senão é na areia que vão mesmo acabar. Vamos continuar a acompanhar este futuro lançamento para PC e Playstation 3 para ver se é desta que alguém acerta.

Entretanto, a internet está carregada de pequenos jogos flash com uma jogabilidade lateral side-scroller e muitos deles são até bastante divertidos de jogar. Curiosamente, em quase todos, a mecânica é a mesma de California Games. Velhos, são os trapos.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=T7MFSXGxZxE