Experimentem jogar videojogos durante 30 anos (eu sei, alguns de vocês não eram sequer nascidos, mas tentem acompanhar e façam um esforço imaginativo) a um ritmo regular e semanal. Agora experimentem ligar a consola, computador ou outro qualquer dispositivo e após o ecrã iluminar-se e aparecerem as primeiras palavras e logotipos das empresas que criaram os jogos, vocês são brindados com a incrível história de um soldado acabado de fazer a recruta, que se vê atirado para uma guerra que não quer lutar mas que nela cresce para se tornar um combatente feroz e um herói da pátria, passando horas a evitar chuvas de balas enquanto descarrega dilúvios de carregadores. Este emocionante jogo só tem um pequeno problema. Já o ando a jogar nos últimos 30 anos.

Nos últimos 5 anos, o mercado dos jogos independentes desatou aos saltos tal e qual o burro do Shrek e saiu das caves, garagens e dormitórios de faculdade, para a atenção generalizada do público e da crítica. Isto foi o resultado de uma das melhores conjugações de factores da história dos videojogos, que permitiu este destaque para os jogos indie: O advento das lojas online Steam, Xbox Live e Playstation Network que funcionaram como montra para uma enorme fatia da população de jogadores. Com volumes de vendas a tornar os criadores pessoas ricas, com casos célebres como os de Jonathan Blow de Braid ou Notch de Minecraft, a palavra independente começa até a ser dúbia.

Exemplos como os de Lone Survivor fazem regressar a curiosidade dos tempos em que tudo era novidade.

 

Digamos que independente passou a ser cada vez mais a designação de uma criação que quer ser mais do que apenas um produto seguro e provado, que arrisca e que surge de uma vontade dos envolvidos em levar às pessoas uma experiência diferente, mesmo que seja com orçamentos maiores como os casos de Flower ou Unfinished Swan. A realidade é que a novidade, a surpresa, o inesperado, o riso e até o choro (Journey) estão a ser proporcionados pelos jogos mais “pequenos”.

Little Inferno é a nova proposta dos criadores dos excelentes World of Goo e Henry Hatsworth in the Puzzling Adventure, o que faz prever um título apostado na inovação das mecânicas acompanhadas de apuro estético. A produtora Tomorrow Corporation promete que vamos poder incendiar robôs aos gritos, cartões de crédito, peixes explosivos e até dispositivos nucleares instáveis, numa aventura que se passa quase toda em frente a uma lareira. O trailer é uma mistura dos momentos mais acutilantes de South Park com um toque da célebre curta-metragem Vincent de Tim Burton.

Precisamos de produtoras com tomates.

 

Para quem quiser experimentar a versão beta, a produtora permite comprar a mesma a partir de hoje por 15 dólares (cerca de 12 euros). Quando o jogo for lançado comercialmente, quem tiver a versão beta recebe a versão final sem qualquer custo adicional. É um modelo de negócio idêntico ao que Minecraft utilizou.

David Cage de Heavy Rain afirmou recentemente que “se a indústria não inovar vai acabar por morrer”. São palavras exageradas para figurar em cabeçalhos de notícias, mas mesmo não acreditando que a indústria pode morrer, já não tenho assim tantas dúvidas que se pode tornar uma coisa muito aborrecida. Precisamos de jogos como Little Inferno como de pão para a boca.