Debate-se muito o facto de os jogos actuais contarem cada vez mais com narrativas e temáticas mais adultas. A comparação com a indústria cinematográfica é inevitável e muitos parecem aguardar o momento em que um jogo pode emular a emocionalidade de um “Half Nelson” ou de um “Lars and the Real Girl”.

Se é certo que alguns dos maiores sucessos comerciais recentes começam a aproximar-se de narrativas muito amadurecidas, como Heavy Rain, e que vários indies se interessam cada vez mais por contar algo emocionalmente mais denso como Analogue: A Hate Story, esta maturidade nas temáticas já esteve muitas vezes presentes no passado. Um dos géneros onde mais repetidamente se verificou um amadurecer do contar de estórias foi no mais longínquo domínio das Aventuras Gráficas, titãs da qualidade narrativa adormecidos que agora estão a regressar em força.

Analogue: Ir onde nenhuma mulher foi.

 

Para jogos lançados num passado remoto como Beneath a Steel Sky, Neuromancer, KGB, B.A.T., Dark Seed ou The Journeyman Project, entre muitos outros, vários com mais de 20 anos de existência, narrativas trabalhadas e detalhadas é algo Dejá Vu (curiosamente uma óptima aventura gráfica também). Se tiverem curiosidade no género podem ler um dos melhores artigos já publicados até hoje, a história das aventuras gráficas pela Ars Technica. Quem sabe não estão a encontrar um dos vossos amores e passatempo futuros.

O género está actualmente, e felizmente, cada vez mais forte no seu regresso, com uma população adulta a querer reviver os excelentes jogos do passado e novas gerações a fascinarem-se por uma mecânica de apontar e clicar ou tocar que se acreditava perdida no saudosismo. É por isso que excelentes aventuras como Resonance, The Shivah ou Deponia estão a aparecer todos os dias, e é por isso que se está a investir tanto dinheiro no Kickstarter para recuperar os melhores jogos do passado ou permitir que criadores favoritos como Tim Schafer possam criar novos projectos.

O nosso site nunca achou graça ao género das aventuras gráficas. Nunca.

 

Uma das melhores séries de todos os tempos foi a de Broken Sword, por sempre ter emprestado um toque mais adulto ao universo BD e às narrativas exóticas do “detective” Stobbart e da jornalista Nico e que agora tenta continuar com o apoio dos fãs. A próxima aventura de Broken Sword: The Serpent’s Curse (a quinta da série) está a procurar financiamento para o jogo através do Kickstarter. Porquê? É óbvio. Desde Tim Schafer e de Brian Fargo que se percebeu que os fãs estão dispostos a pagar de antemão para a produção das suas propriedades favoritas. Isto permite não só controlo criativo do projecto nas mãos da editora, mas também a possibilidade de todo o lucro ser para os criadores e não ter de ser repartido pela editora. Para um fã, faz todo o sentido entregar o dinheiro directamente a Charles Cecil, à conhecida equipa de vozes do jogo e aos artistas e programadores que já provaram por quatro vezes que nos conseguem entregar aventuras gráficas de primeiro grau.

Por cerca de 13 euros de apoio já têm direito ao jogo, quando estiver pronto, mas existem contribuições para todos os gostos. É mais que certo que Stobbart, a sofisticada Nicole Collard e muitos outros vão estar de regresso, pois em poucos dias cerca de metade do valor de financiamento já está garantido. Façam um favor a vocês próprios: apoiem este projecto, ou então vão ao G.O.G. buscar uma ou duas aventuras gráficas gratuitas como Beneath a Steel Sky ou Lure of the Temptress. Nunca é tarde para começar.