Leg godt.

Corre o ano de 1935, com a Grande Depressão a fazer-se sentir um pouco por todo o Mundo. Ole Kirk Christiansen, um humilde carpinteiro Dinamarquês procura forma de enfrentar a crise e resolve criar uma empresa de brinquedos de madeira. Abreviou as palavras, dinamarquesas, Leg godt (brincar bem) e deu o nome de LEGO à sua empresa. Pelo caminho cruzou-se com um pequeno bloco de plástico, patenteado pela Kiddicraft (uma empresa inglesa de brinquedos), para em 1949 comprar os direitos sobre esse mesmo bloco e fazer dele um dos ícones da infância (da minha e da vossa certamente) de muitas crianças em todo o mundo, inclusive nos dias de hoje. Com visão, acompanhamento das tendências e inovação, a LEGO nunca se deixou ficar para trás no tempo, oferecendo um brinquedo com quase 70 anos, mas muito actual. Os blocos LEGO são vendidos em caixas, caixinhas, baldes, sacos, saquinhos e de há uns anos para cá, também sob a forma de pixeis! É isso que tem feito a Traveller’s Tales, actual detentora dos direitos para desenvolvimento de videojogos da LEGO. Começou por criar LEGO Star Wars: The Video Game (2005) e actualmente com Lego Batman 2: DC Super Heroes já vai no seu 15º franchise da LEGO.

E vamos então jogar apenas mais um jogo LEGO? Não vamos, não. Aquela fórmula cansativa e repetitiva a que já estamos habituados foi relativamente agitada e surtiu ligeiros efeitos positivos! Pela primeira vez no mundo electrónico da LEGO, somos brindados com um open world e diálogos entre os personagens. Dispomos assim de uma Gotham City altamente detalhada, com um mapa em aberto para espalhar o charme justiceiro de Batman, e dão-se por finalizados os teatrinhos de mímica tão característicos das séries da LEGO.

Por conveniência, Joker e Lex Luthor aliaram-se para atormentar o inimigo que ambos têm em comum: Batman. Mas Bruce Wayne não está sozinho nesta luta, pois tem a seu lado Robin e a Liga da Justiça. O cenário está montado, pecinha por pecinha, dando inicio à nossa aventura. Controlamos Batman e Robin; caso joguem acompanhados cada um assume o controlo de um dos personagens e dá início ao hit and smash que já é da praxe, para recolha de fundos monetários que tanto precisamos no mundo LEGO. Mais tarde somos encaminhados para a Batcave, que será o nosso centro de comandos, sendo de lá que temos acesso ao mapa da Cidade de Gotham. A estória vai-se desenrolando de forma bastante linear e divertida, e a introdução de cutscenes longas, com diálogos usualmente bem humorados e vozes bastante bem caracterizadas, são pontos a favor deste título.

Reparem só na carinha de inocente do Joker. O manhoso!

 

A resolução de puzzles para progredir nos níveis é muito fácil, não deixando no entanto de ser divertida, porque para determinada acção é necessário um personagem específico. Veja-se o exemplo mais comum ao longo do jogo. Batman e Robin têm uma serie de fatos que podem ir trocando, consoante os obstáculos a ultrapassar e muitas das vezes trabalhar em conjunto. Fatos que permitem a Batman tornar-se invisível perante câmaras de vigilância, que absorvem electricidade, etc. Robin tem fatos de acrobata, magnético, que lhe permite congelar água, à prova de agentes químicos perigosos, entre outros. Mas depois aparece o Super-Homem e descamba isto tudo!

Quem é que quer estar sempre a trocar de fatiota, quando tem ao seu dispor o Homem que mais bem veste lycra em todo o Universo e com super poderes numa única combinação? A partir do momento em que Clark Kent entra em cena (mais ou menos a meio do jogo), sentimo-nos como que impelidos a controlar este personagem durante a maior parte do tempo, roubando o protagonismo a Batman, pois tudo se torna ainda mais fácil, dinâmico e de um tremendo gozo. Os restantes membros da Liga da Justiça, pecam por uma aparição tardia e só nos capítulos finais é que temos acesso e possibilidade de os controlar. São eles Flash, Green Lantern, Wonder Woman e Cyborg, cada um deles com habilidades exclusivas específicas. E porque mais vale tarde do que nunca, teremos oportunidade de os utilizar com mais intensidade, na exploração de Gotham ou re-jogando os níveis da estória que desbloqueámos. Erm… não era bem isto que nós queríamos.

Catwoman, The Riddler, Two-Face, Harley Quinn, Poison Ivy, The Penguine e Bane, são alguns dos vilões do Universo de Batman que andam à solta por Gotham City. Cabe-nos a nós implacáveis justiceiros, andar pela cidade e encontrar cada um deles, para os derrotar em pequenas batalhas, e depois os comprar para aumentar a nossa colecção de figurinhas. Alguns deste vilões são também necessários para encontrar blocos dourados escondidos, pois só eles conseguem abrir determinado mecanismo.

E quem nós somos?! Justiça Justiça Justiça!

 

Jogar só ou acompanhado? Eu escolheria acompanhado, afinal é esta uma das excelentes características destes jogos da LEGO, poder pintar a manta na companhia dos nossos BFF’s. Jogar Lego Batman 2: DC Super Heroes de forma solitária, é relativamente aborrecido e frustrante; isto porque a inteligência artificial do boneco que nos acompanha (Batman ou Robin) é má, fazendo do nosso companheiro um inútil. Segue-nos pelo cenário com um ar atrapalhado, não ajuda a lutar e bastantes vezes esbarra contra o personagem que controlamos, não permitindo que avance. Ora isto não deixa alternativa senão desmanchá-lo logo ali, para que vá morrer bem longe e não atrapalhe. Mas… mas… ele volta para nos atormentar! É uma tormenta necessária, visto que temos que ir trocando sistematicamente entre personagens, para uso das suas habilidades específicas. Portanto venha daí um companheiro humano e vamos lá tomar conta disto.

Nos títulos LEGO anteriores assistiam-se a movimentos de câmara tresloucados, em que tínhamos que andar sempre juntinhos para saber por onde andávamos, pois a divisão do ecrã era muito inconformada consigo própria, o que para alguém que tenha cinetose, é dose! Com Lego Batman 2: DC Super Heroes, a Traveller’s Tales adoptou o sistema de câmara fixa, tornando-se de extrema importância principalmente quando estamos a explorar a Cidade de Gotham. O ecrã fica divido em dois na vertical, e pode ir cada um para seu lado, rentabilizando assim a procura de moedinhas e blocos LEGO especialmente escondidos. Se a dois é divertido, um menage a trois não é lá muito interessante, não. Então não é que quando estávamos Batman, Robin e Super-Homem a unir esforços para ir progredindo no nível, aconteceu o Super-Homem ficar preso num canto da sala a ser eternamente electrocutado, num dos terminais de energia que só Batman pode aceder com o seu fato absorvente energético? E do outro lado do ecrã estava o meu companheiro, com Robin a cair de um precipício eternamente, também? Os bonecos após a sua morte vão ressuscitar exactamente no spot onde morreram! Vimo-nos obrigados a recomeçar o nível do zero.

É de salientar o pouco funcional sistema de saves. Estes são feitos sob a forma de checkpoints no início e meio de cada nível, inserindo uma disquete numa pequena maquineta. Se por alguma razão tenhamos que reiniciar o nível (o que me aconteceu com a situação acima mencionada) ou até mesmo fazer uma pausa para ir explorar Gotham City, ao fazer loading para voltar ao nível e continuar a estória, somos depositados na Batcave! É necessário então  ir ao mapa, traçar o caminho para esse mesmo nível, pegar num dos nossos veículos e conduzir até lá. E acontece termos que recomeçar o nível do zero, quando tínhamos feito um save no checkpoint mais adiante. Senhores da Traveller’s Talles, isto não se admite. Estes já são erros bastante recorrentes ao longo dos títulos LEGO, não queremos mais isto por favor!

Hey malta, olhem só esta pinta! Abrir os olhinhos e… já foste!

 

Como dito anteriormente, um open world é o que temos aqui. Funciona? Para primeira tentativa não está mau, mas funciona de forma algo inibida e confusa. Nos títulos anteriores existiam pequenos mundinhos, que despoletavam os níveis da estória e que podiam ser explorados. Desta vez é-nos dado um mapa massivo das coisas possíveis de se fazer e procurar. É como pegar num balde enorme de LEGO’s e despeja-lo no chão, para dar inicio a brincadeira sem fim à vista! Na Batcave temos acesso ao computador central que mostra o mapa de Gotham, o qual de início se encontra totalmente escuro e onde não identificamos nada. Existem diversos terminais de computador espalhados pela cidade, que comunicam com a central, ou seja a Batcave. Quando activados por nós, vão progressivamente desvendando zonas do mapa (a fazer lembrar os mapas de Assassin’s Creed), para termos imediatamente acesso às várias informações sobre a localização de blocos dourados, veículos para comprar e personagens vilões. No mapa aparece também o bem conhecido e tradicional sinal de pedido de ajuda que é enviado ao Batman quando Gotham está em apuros. É esse o sinal que indica onde estão os níveis de estória e é para lá que nos devemos dirigir. E como agora temos um mundo aberto, consultamos este mapa, marcamos o nosso destino, pedimos ao Alfredo (que não é Marceneiro) que ponha à disposição o veículo por nós solicitado e ala dali para fora, conduzindo o Batmobil pelas ruas e becos de Gotham City em direcção ao alvo escolhido.

Aquela estátua ali ao fundo está numa posição algo estranha e o tinoni da policia está a ir para lá! Ai ai.

 

No entanto, é quase impossível dirigirmo-nos directamente para o local que marcámos previamente, isto porque a nossa atenção é logo desviada para a agitação que por aquelas ruas acontece. Queremos de imediato dar inicio à exploração desta pequena grande cidade e desde logo somos afastados do nosso objectivo primário. “Está ali uma velhinha LEGO a ser assaltada por um gatuno LEGO! Não vacila! Não vacila! Páro e ajudo a LEGO-velhinha pois claro! No mapa indicava que algures por aqui perto está escondido um bloco dourado. Pois bem, Robin vai vestir o teu fato de acrobata e saltita por esses prédios a procura do apetecido bloco. E já que estamos com a mão na massa, vou usar o Super-Homem para ir recolher umas moedinhas que estão na estratosfera desta zona.”

Quando damos por nós já passámos uma hora ou mais a vaguear pela cidade e quase sem rumo. Porquê? Ora porque para além de ser divertido desvendar o que se esconde em cada recanto de Gotham City, é também muito fácil nos perdermos nela, devido ao fraco sistema de orientação que é fornecido. No canto superior esquerdo do ecrã, existe apenas uma pequena linha horizontal que oscila para a esquerda e para a direita, querendo dar a entender que estamos a ir na direcção certa, mas que no fundo não clarifica nada acerca da nossa posição no mapa. É possível aceder ao mapa a qualquer momento, mas servimo-nos dele é como jogar ao “Quente e Frio”, porque a precisão de localização das coisas é muito má. Com uma pequena mira é possível marcar no mapa o local para onde nos queremos dirigir, sendo que para chegar ao destino traçado somos orientados por uma linha ténue de cor rosa choque, formada de pequenos blocos LEGO, que vai aparecendo pelo cenário. Por defeito ou feitio (vá-se lá saber) essa linha desaparece do nosso olhar, muitas vezes dependendo da perspectiva de como a câmara se movimenta, e em especial quando estamos a conduzir veículos, quer seja em terra, no ar ou no mar.

“Cuequinha Maravilha”, com o patrocínio das Industrias Wayne.

 

Requer alguma habituação e paciência andar por este protótipo de mundo aberto. Cabe portanto a cada um de nós orientar o nosso tempo de jogo, bem como a forma como o queremos jogar. Se optarem por se dirigir sempre directamente para os níveis da estória e guardarem a exploração de Gotham City para o fim, terão cerca de cinco horitas de jogo, com relativamente 50% de progressão total, isto dependendo da percentagem com que completaram cada nível. Optar por ir fazendo as duas coisas em simultâneo também é divertido, mas faz-nos perder a noção do tempo, podendo demorar muitas horas a ter o jogo 100% completo e com alguma desorientação pelo meio.

Lego Batman 2: DC Super Heroes é visualmente muito atractivo. Ver a Cidade de Gotham tão bem recriada por peças LEGO, é maravilhoso. Parques de diversões com montanhas russas e carrinhos de choque, o Jardim Zoológico, onde “roubar” girafas e andar a cavalgar com elas pelas ruas de Gotahm é a pura da loucura e até Arkham Asilum está presente! Com pecinhas LEGO seria de esperar um cenário colorido e infantil, mas nada disso acontece. O ambiente sinistro e pesado de Gotham está bem presente. Está tudo tão bem equilibrado, que fará as delícias de miúdos e graúdos. Especialmente se for jogado em modo cooperativo. Modo esse que infelizmente não existe online! What a shame.

Após 7 anos e 15 títulos LEGO, Lego Batman 2: DC Super Heroes finalmente nos mostra que algo está a mudar na fórmula bastante repetitiva destas aventuras LEGO que nos têm sido oferecidas. Não são mudanças colossais e não alteram em muito a forma como jogamos, mas são sem dúvida uma pequena lufada de frescura que revela vontade de inovar, embora o pareça fazer com algum receio e timidez. Pode-se considerar que Lego Batman 2: DC Super Heroes é o melhor de todos os títulos da LEGO até à data. Ficamos ansiosos a aguardar por Lego Senhor do Anéis, no qual depositamos muitas espectativas.

(Análise da versão Playstation 3.)

(Disponível para PS Vita, Windows, Nintendo DS, 3DS, Wii, Xbox 360 e OS X).