Red Seeds Profile, como é conhecido no Japão, é o melhor jogo de aventura e mistério de sempre. Eu acho que sim e o Destructoid também, tendo em conta que lhe deu a nota de 10/10. E nem por um segundo acredito que estivessem a falar a sério. Porque às vezes as meias verdades são necessárias para nos chamar a atenção para aqueles detalhes que nos escapam a olho nu.

Deadly Premonition não é, infelizmente, o melhor jogo de sempre. Mas quer ser. Ora bolas, eu quero que seja! Merece um reconhecimento especial pelo estatuto de culto que atingiu, e com todo o mérito não tenhamos dúvidas. Foi lançado em 2010 para Xbox 360 a preço de amigo, mas apenas no Japão para Playstation 3. Um jogo que claramente sofreu calamidades durante o processo de desenvolvimento. É ambivalente e inconsistente a todos os níveis. A versão Director’s Cut chegará no inicio do próximo ano à Playstation 3 em todo o mundo.

Não te mexas 2 segundos, se fazes favor.

 

Os gráficos oscilam entre as texturas francamente horríveis, e estranhamente aprimoradas em objectos e locais de pouco destaque; O menu de jogo é um cluster fuck de informação bizarro, muita dela desnecessária e de difícil navegabilidade; O combate é desesperante, repetitivo e com terrível detecção de colisões, com algumas sequências de tal forma macerantes, que é necessária paciência de santo para as completar. A história é estranha, algumas sequências perturbadoras e é frequentemente hilariante. As personagens parecem saídas de um episódio de Twilight Zone, ou do filme de David Lynch mais rebuscado. E é dos jogos mais originais, ambiciosos e marcantes que joguei nos últimos anos. Daqueles que ficam a pisar a nossa mente dias depois de os termos terminado, coisa que não descansamos enquanto não o fazemos. É o jogo que Alan Wake queria ser. É também o jogo que não precisa de querer ser Alan Wake.

Deadly Premonition é um open-world em que seguimos as pisadas do investigador do FBI Francis York Morgan, na sua tentativa em capturar um assassino em série, à solta na pacata vila de Greenvale. A história e setting são claramente inspirados em Twin Peaks e cedo York descobre que nem tudo são rosas. O jogo destaca-se pelas suas personagens estranhas, principalmente o protagonista. York, como gosta de ser chamado porque toda a gente assim o chama (coisa que se certifica que aconteça, sempre que conhece alguém) leva o jogo às costas. Um detective de estranhos crimes violentos, cordial, perspicaz e que segue religiosamente as premonições que sente quando investiga um assassínio. Tem por hábito procurar pistas no creme do café da manhã e é fanático por filmes de série B. Ah! E também gosta de falar e seguir os conselhos de Zach, um amigo imaginário, ao que parece. Um rapaz às direitas, portanto.

Chicken…in the coffee!

 

O jogo tem um conjunto de características tão bizarras, pouco práticas e surpreendentes, garantindo que cedo não nos esqueceremos dele, além de ser estranhamente  envolvente. É essa a sua principal qualidade, a de nos conseguir prender ao seu mundo ao mesmo tempo estapafúrdio e familiar. Passa-se em tempo real, que pode ser rapidamente avançado se fumarmos; todos os habitantes da cidade têm as suas rotinas diárias, pelo que se desejarmos falar com alguma delas podemos perceber exactamente a hora a que saem do trabalho e se dirigem para casa, ou o momento da noite em que vão até ao bar local, por exemplo; Podemos espreitar à janela das casas, não sei porque, mas podemos; Conduzir veículos que devem ser atestados na bomba de gasolina, trocar de roupa, fazer a barba, beber café ou pedir almoço na tasca da esquina; e um mundo alternativo e demoníaco à la Silent Hill para justificar o terrível combate. São tantas as actividades em que nos podemos envolver, muitas delas sem razão utilitária aparente em termos de estrutura de jogo e claramente dispensáveis. Mas estão ali, e no fundo contribuem para que o mundo graficamente feio, mas estranhamente atraente de Greenvale nos cative.

Hidetaka Suehiro, ou SWERY como também é chamado, é o o director criativo e mente por detrás de Deadly Premontion. Quando questionado acerca do porque da existência de actividades como fazer a barba, beber café ou mudar de roupa, respondeu que queria que as pessoas associassem o jogo a actividades do dia-a-dia, de forma a pensarem nele mesmo quando não estão a jogar. E se raramente penso nisso quando estou a fazer a barba, a verdade é que beber café nunca mais foi a mesma coisa para mim e milhares de jogadores. York e as suas premonições fazem neste momento parte do Hall of Fame dos videojogos.

Bizarro? Por favor…

 

A nova versão promete um novo cenário de jogo, gráficos HD, novo sistema de controlo que garante uma experiência de combate “ainda melhor” (palavras da press release que me fizeram cuspir o café pelo nariz) e conteúdo para download que expande o mistério do jogo original.

Não sei se SWERY é visionário, louco ou sobrevalorizado, mas a verdade é que mal posso esperar pela sequela de Deadly Premonition e estou extremamente curioso com este Director’s Cut lançado para Playstation 3. Seja como for , sei que vai ser uma viagem e pêras. Vamos poder abandonar o nosso veículo capotado na floresta, para minutos mais tarde, ao encontrarmos outro carro, nos queixarmos de que alguém deixou um carro ali abandonado. E isto é apenas o início da loucura.

Um jogo tão mau, que é bom. Ou um jogo tão bom, apesar de mau?

Não concordas, Zach?

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