Mais vale só que mal acompanhado.

Torna-se cada vez mais rara a implementação de novas mecânicas em géneros bem definidos na indústria, como RPGs e FPSs. As empresas preferem apostar em negócios seguros e até os jogadores torcem o nariz à inovação, mas esta estagnação incentivada pelas duas partes é o que leva à morte destes géneros (basta observarmos o que aconteceu às Aventuras Gráficas nos anos noventa). É refrescante ver que, hoje em dia, alguns jogos ainda tentam mudar paradigmas que foram assentes há décadas atrás, e Dragon’s Dogma: Dark Arisen é um destes.

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Quando é que estas coisas vão permitir a personagem usar óculos de massa?

 

Antes de continuar o caminho avaliativo de Dark Arisen, é importante referir que este jogo é um standalone e será avaliado como tal, com as diferenças entre o Dragon’s Dogma original e Dark Arisen a serem discutidas isoladamente mais para a frente.

Este novo IP da Capcom tem como director o consagrado Hideaki Itsuno, que no passado trabalhou em jogos como Devil May Cry, Resident Evil e Shin Megami Tensei. Itsuno deixa transparecer a sua sede de criar algo novo neste franchise, arriscando a implementação de sistemas e mecânicas inovadoras que tiveram de ser desenhadas do zero e afinadas de raiz. Esta aposta compensou, com Dragon’s Dogma a conseguir destacar-se de títulos semelhantes e dar um valor único ao seu nome doentiamente genérico.

O jogo tem sistemas típicos de RPG que são um pouco superficiais, mas estão coerentes o suficiente para não prejudicar gravemente a jogabilidade principal, no qual podemos observar mecânicas interessantes, como a possibilidade de agarrar e escalar alguns dos nossos adversários. Esta mecânica é conceptualmente bastante aliciante, porque, afinal de contas, quem nunca pensou em escalar um dos gigantes dragões de Skyrim? No entanto, a sua implementação no jogo tem alguns bugs difíceis de resolver, e destes, o que mais frequentemente observámos, é a dificuldade do jogo em conciliar o movimento dos monstros com a possibilidade de os escalar, ficando o jogador por vezes preso entre “partes móveis” de um adversário ou mesmo a cair inesperadamente, provavelmente devido ao mau reconhecimento de elementos físicos dos dois intervenientes na acção.

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Passa-me já o guito!

 

Contudo, esta implementação mecânica é um dos pontos fortes de Dark Arisen, pois quando tudo corre bem é infinitamente divertido estar nas costas de um gigante híbrido, enquanto o atacamos desenfreadamente antes de sermos atirados desamparadamente para o chão. Quando se escolhe uma classe, cuja característica principal é o ataque à distância, perde-se um pouco este gozo, pois a nossa maior arma são as flechas ou a magia que é feita duma distância segura, mas esta é uma escolha do jogador.

Outra característica principal deste jogo é o Pawn System, um sistema com o qual podemos invocar escravos digitais que nos acompanham na nossa jornada. Este sistema é revelado muito cedo no jogo e é uma adição que, para jogadores maioritariamente solistas, vem dar uma grande ajuda. Por vezes é difícil fazê-los cumprir a mais simples das ordens, porque estes nossos vassalos não são dotados de muita inteligência artificial. Este sistema deixa-nos personalizar minuciosamente o nosso companheiro imaginário, o que não só serve para complementarmos a nossa personagem da maneira que quisermos, como também serve para um propósito maior: é possível trocar “escravos” online, ou seja, podemos usar o companheiro criado e evoluído por outra pessoa real. É de facto uma ideia única e que funciona bastante bem.

É também importante referir que a história justifica este sistema, não usando a escravatura como pretexto, mas sim o companheirismo.

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Bem vindo ao meu bairro, puto…

 

Dark Arisen é um standalone que inclui o jogo original – Dragon’s Dogma – mas com uma massiva introdução de novos conteúdos: mais personalização das personagens; missões; inimigos; cenários; armas e armaduras. Além destas adições que constituem um novo desafio, mesmo para jogadores veteranos, existe uma outra confusão que deve ser esclarecida: ao contrário do original, Dark Arisen consiste de dois CDs, não contendo no primeiro CD o Dragon’s Dogma original e no segundo o Dark Arisen. Isto é, torna-se impossível instalar apenas a “expansão” por cima de uma cópia do jogo original. O primeiro CD traz ambos o original e a expansão com gráficos Low-Res, o segundo CD faz um update às texturas para HD. O resultado final não é superior graficamente ao do jogo original e foi apenas uma maneira que o estúdio encontrou para fazer a distribuição de dados nos CDs. Ficam, desde mais, alertados: Dark Arisen não tem um grafismo melhor que o original Dragon’s Dogma. Não acreditem em tudo o que lêem na internet!

O melhor: A inovação que este jogo traz para o mundo dos RPG, apesar de alguns bugs e algumas arestas por polir.

O pior: A história é um pouco genérica e enfadonha. Graficamente, o jogo também já está ultrapassado, sendo difícil para o jogador ignorar algumas falhas nas texturas e nos modelos 3D. Tal como já referi: esta expansão não melhora o grafismo em relação ao jogo original.

Dragon’s Dogma: Dark Arisen é um novo standalone que deve interessar tanto aos veteranos do original como a novos jogadores, pois as suas novas implementações são suficientes para adicionar replay value, mas não disruptivas o suficiente para marginalizar quem não jogou a primeira versão do jogo. Tem algumas falhas, decididamente, mas experimenta ideias novas num género que está estagnado há já muito tempo. Para fãs de RPG e Acção, é um jogo que vale a pena experimentar, pois Dragon’s Dogma tem uma personalidade muito distinta de uma mitologia e jogabilidade muito próprias. Mas sobretudo, é um IP que veio para ficar, e esta é a altura ideal para entrar ou rejeitar o seu mundo.

Versão analisada: PS3. Também para Xbox 360.