Desde muito cedo, ainda na fase de projecto, a Activision deve ter compreendido o enorme potencial de Skylanders e pressentido que uma aposta mais fraca deixaria tudo a perder. Skylanders: Spyro’s Adventure possuía um objectivo muito claro e delineado: aquele de proporcionar às crianças a experiência de verem os seus brinquedos ganharem vida, quase como por magia. Tivesse isto resultado num produto de fraca qualidade tanto ao nível físico como digital, e Skylanders seria um daqueles produtos de plástico que os hipermercados tentam despachar o stock com promoções baratas. Em vez disso, é o maior destaque nas áreas de vendas de jogos, com preços que se mantém imutáveis e figuras a venderem mais de 100 milhões de unidades em menos de 2 anos.

Sim progenitores, há mais a caminho...

Sim progenitores, há mais a caminho…

 

A Activision quis claramente reinar no universo infantil depois de já o estar a fazer no juvenil e adulto com a recordista série Cal of Duty e fez o mesmo nas aventuras de Spyro que tem feito com os seus FPS. Investiu milhões. Contratou os melhores ilustradores e designers de brinquedos, reuniu vários estúdios incluindo alguns habituados a criar jogos infantis, contratou personalidades do cinema como dois dos escritores de Toy Story para a história ou o oscarizado compositor Hans Zimmer para a banda sonora (Man of Steel, The Dark Knight, Black Hawk Down, entre muitos outros).

O resultado foi uma excelente execução de produto ao nível digital, e uma execução física com uma boa relação qualidade de construção / preço, com o célebre “portal do poder”, onde se colocam as figuras, a iluminar-se com cores e a comunicar por tecnologia similar aos alarmes das lojas para criar uma experiência natural e instantânea entre o boneco real e a sua representação que surge no jogo. Estava lançado um dos jogos mais bem sucedidos em vendas e um que iria rapidamente trepar ao número #1 dos jogos infantis, sem de lá querer arredar o pé.

Mais tentáculos para a Activison.

Mais tentáculos para a Activison.

 

Não é surpresa que a Disney esteja a entrar nesta área de jogo. A divisão interactiva da Disney sempre foi uma das que mais rendeu à empresa, mesmo às custas de produtos medianos, daí que seria óbvio que mais cedo ou mais tarde iria aparecer um concorrente ao produto da Activision. Disney Infinity é uma séria ameaça a Skylanders. Primeiro porque a qualidade de construção das figuras é quase uma experiência de luxo quando comparada às figuras de Skylanders. Em segundo porque o universo da Disney e do seu catálogo é provavelmente o mais poderoso aglomerado de propriedades a nível global (que agora inclui também Star Wars). Em terceiro porque contém um modo de construção sandbox que jogos como Minecraft já mostraram o potencial para angariar milhões de jogadoras e jogadores. Por estas razões, quando cheguei ao stand da Activision na E3 em Los Angeles para assistir à apresentação do novo Skylanders, era muita a minha curiosidade para perceber se a Activision iria tentar seguir a estratégia da Disney ou continuar o seu rumo original.

Cedo se percebeu que o novo Skylanders: Swap Force não está preocupado com a concorrência mas sim em levar mais longe a experiência actual da série. Depois de Giants, que introduziu “gigantes” com o dobro do tamanho na série, assim como novas mecânicas de jogo, Swap Force traz para Skylanders uma ideia tão simples mas tão perfeita que se torna genial. As novas figuras vão poder separar-se em duas partes, a secção acima da cintura e a secção abaixo da cintura, e misturar essas partes entre si.

É um pássaro? É um tornado? Não, é um passarado!

É um pássaro? É um tornado? Não, é um passarado!

 

Imagine-se por exemplo que pegamos em duas das futuras figuras. Wash Buckler (elemento da água) é um polvo cujos tentáculos lhe permitem trepar paredes e que dispara tinta para os adversários. Já o Free Ranger (elemento do ar), controla o tempo, e consegue transformar as suas pernas num tornado assim como disparar raios eléctricos. Ora, quando misturamos os dois podemos ter duas combinações diferentes, uma que mistura o tornado com o disparo de tinta, e outra que mistura o disparo de raios eléctricos com a capacidade de trepar paredes. Com dois Skylanders elevamos o número de possibilidades a quatro personagens (cujos nomes são junções dos nomes originais) e se juntarmos todas as 16 figuras intermutáveis que vamos poder coleccionar então o número possível de combinações é superior a 250 personagens diferentes.

A isto junta-se a compatibilidade de Swap Force com todas as figuras já existentes, algo que a Activision percebeu que é importante para as crianças. O empenho e o gosto em coleccionar todas as figuras possíveis não pode ser alienado de uma série para a outra pois existe também um investimento emocional nas figuras que já se levaram para a escola na mochila ou que de noite vigiam o sono dos seus proprietários, que lhes lançam um último olhar de conforto quando desligam a luz do quarto.

Tragam-me aqui a Disney!

Tragam-me aqui a Disney!

 

A nova mecânica de troca de partes faz com que agora passe também a existir uma cadeia de upgrades para a parte de cima da figura e outra para a parte de baixo, aumentando a complexidade e, mais importante ainda, o sentido de exploração. Uma nova história, vinte e duas missões de bónus, o regresso do battle mode e novas arenas de sobrevivência vão ser os palcos para todas as novas personagens e para as suas muitas novas habilidades como saltar (finalmente!), acção furtiva, velocidade, teleportação, entre outras.

Um novo motor gráfico, 16 novas figuras, 8 figuras lightcore, a versão 3 de 16 figuras antigas e, principalmente, as novas 16 figuras que trocam entre si as partes do corpo vão ser o terror financeiro das mães e pais de Portugal, mas encantar as raparigas e os rapazes que os vão colocar nos seus portais. Com a concorrência do gigante Disney já a partir de Agosto, Skylanders: Swap Force vai ver o seu espaço invadido por um produto similar, embora este regresso se acompanhe de uma arma de peso. A nova mecânica da troca é uma armadilha deliciosa à psique humana pois influencia um dos sentimentos mais poderosos que existem: a curiosidade. É isso que vai levar as crianças a quererem adquirir todas as figuras e a experimentar todas as combinações. Felizmente a minha filha ainda só tem 3 anos. Caso contrário e tinha de começar a procurar um segundo emprego.