Festa sem beijos na boca

Recebi este título exclusivo da Wii U no total desconhecimento sobre de que se tratava este Spin the Bottle. À primeira vista fui impelido a acreditar que se tratava de mais uma incursão de jogos de festa com temática sexual, à semelhança do grande falhanço que foi o jogo We Dare da Ubisoft. Por outro lado lembrei-me logo dos tempos de escola, da pré-adolescência e dos jogos que utilizávamos para poder beijar a pessoa por quem estávamos apaixonados. Em que uma garrafa vazia de gasosa a girar no chão era uma espécie de fiel depositário das nossas ânsias e expectativas, em que desejávamos ardentemente que a garrafa nos unisse como um vínculo emocional que não existia.

É pena é não sair sumo…

É pena é não sair sumo…

 

Mas Spin the Bottle: Bumpie’s Party não é nada disso. O modo como o jogo se apresenta a nós é caricato: logo no primeiro ecrã pede-nos para desligarmos a TV e colocarmos o Wii U Game Pad em cima da mesa, enquanto todos os jogadores se sentam ao redor do dispositivo. O que logo à partida é uma belíssima forma de desconstruir a forma como estamos habituados a coexistir com uma consola, mas que cedo se demonstra algo vazia no seu conteúdo. Spin the Bottle não dispõe de qualquer minijogo que seja possível de jogar sozinho, necessitando sempre entre 2 a 8 jogadores e do maior número possível de Wii Remotes para ser aproveitado ao máximo, o que afasta à partida qualquer membro isolado da nossa sociedade.

A complexidade dos minijogos é tão insípida que a diversão esgota-se no momento em que lemos as suas regras. Grande parte das tarefas que temos à nossa disposição são fracas desculpas para a utilização dos periféricos da Nintendo e quase todos, senão todos os minijogos seriam perfeitamente reproduzíveis sem utilizar o Wii Remote ou o Game Pad. Aliás, este é o maior pecado de Spin the Bottle: Bumpie’s Party: é que cedo percebemos que apesar do seu reduzido preço (6,99€ e exclusivo da Nintendo eShop) o jogo está constantemente a lembrar-nos que tudo o que estamos a jogar pode ser feito sem o recurso à Wii U, basta-nos ter imaginação e um grupo de amigos. Especialmente porque quase todos os jogos brincam com a interacção física dos jogadores, desde terem de dançar uma valsa lenta durante x segundos, ou segurarem um Wii Remote uns contra os outros com a força do nariz, passando por jogos em que consistem em girar tendo o Wii Remote como eixo ou passá-lo por debaixo das pernas entre jogadores que estão de costas voltadas. Não há minijogo que seja realmente inovador, ou que não seja parte de gincanas de há décadas, e o Game Pad, essa peça tão central do jogo pode ser facilmente substituído por uma garrafa, um relógio e uma série de regras de jogos.

Há rumores que dizem ser possível dançar sem um Wii Remote na mão.

Há rumores que dizem ser possível dançar sem um Wii Remote na mão.

 

Ainda que o aproveitamento do jogo seja proporcional ao álcool ingerido pelo grupo, e pelo à vontade que um conjunto de amigos tenha em efectuar este tipo de tarefas mais físicas, a realidade é que Spin the Bottle acaba por demonstrar-se pouco eficaz para festas que não tenham dificuldade em animar-se a si mesmas. Se o conceito da KnapNok Games de utilizar o potencial do Wii U Game Pad resume-se a um mero girar de uma garrafa virtual, então acabámos de perceber o quão inócua é a afirmação deste jogo como um verdadeiro jogo de festa. Numa altura em que tarda em chegar O verdadeiro jogo de festa desta geração de consolas da Nintendo (Wii Party U talvez?) Spin the Bottle: Bumpie’s Party dispara muito ao lado, tornando-se uma proposta insípida e que muito possivelmente só terá o seu preço e o visual infográfico caricato e simples (e muitas vezes quase bizarro) como factor de cativação.

O melhor: o visual simples e eficaz, apesar de bizarro; o preço; a tentativa de afastar o conceito de jogabilidade de um ecrã.

O pior: a insipidez dos minijogos; a falta de imaginação; a pouca oferta de diversidade.

Spin the Bottle: Bumpie’s Party tem o condão de nos estar constantemente a relembrar que nem sequer o precisamos de adquirir. Toda a diversão que ele nos traz – que se resume à capacidade de interagirmos em gincana com os nossos amigos – é possível de se obter sem sequer se ter uma Wii U. O jogo acaba por nos fazer tanto sentido quanto comprarmos um jogo que mimetize conversações humanas: para isso precisamos apenas de pessoas. E para jogar este Spin the Bottle não precisamos nem do jogo nem de uma Wii U, precisamos apenas de um grupo de amigos que queira fazer brincadeiras mais “tradicionais” e mais físicas. Não só falha em assumir-se como uma verdadeira aposta de jogos de festa para a Wii U como dispara bem longe do alvo. Aliás, falha inclusivamente a oportunidade de nos por a repensar a forma como encaramos a jogabilidade em grupo, ao demonstrar a insipiência da sua abordagem.

Saudosa garrafa de gasosa vazia…

(Spin the Bottle: Bumpie’s Party é um exclusivo Nintendo Wii U)