Mais uma festa marcada

Incorro o sério risco de considerarem que ando sempre em festa. É verdade que este é o 5º ou 6º party game do qual faço análise em menos de um ano, mas estaria a exagerar se me identificasse como um folião. Sou um tipo mais soturno, muito mais Halloween do que Carnaval. Não sei se isto acontece por excesso de “anglo-saxonismo” na minha constituição do que de “veia latina” para estar sempre em festa. O que me vai ajudando nestas análises, porém, é o facto de ter uma mão cheia de amigos dispostos a colocar o seu acirrado espírito competitivo em qualquer jogo, sendo que os party games mais uns copos ajudam sempre a exponenciar estas batalhas.

mario party island tour 1

Sai da frente que vem aí gente!

 

Uma característica que o meu grupo de amigos tem, seja a jogar jogos de tabuleiro, sejam videojogos é que somos muito pouco solidários com o factor sorte. Compreendemos que é uma variável aleatória que traz outra dimensão aos jogos, mas que tem de ter o seu equilíbrio nivelado com a perícia de cada um. Todos os jogos que desequilibram a balança entre perícia e sorte, e colocam o pendor sobrevalorizado no acaso, acabam quase automaticamente por receber um nariz torcido da nossa parte. E infelizmente essa sempre foi a tónica da série Mario Party.

É verdade que um party game deve ser usufruindo na sua totalidade no seu habitat natural: em grupo. Mas dadas as circunstâncias, em que este Island Tour é a 3a apresentação no formato portátil da série Mario Party, o jogo merecia uma especial atenção à forma como podemos jogar sem companhia. Os 3 modos existentes podem ser jogados a solo (sendo que um deles é exclusivamente para single player)  mas o desafio que representam sem companhia humana é tão insípida que rapidamente desejamos que uma série de amigos se possam materializar em pleno ar e retirarem-nos do marasmo.

mario party island tour 2

Mario Cardinali Fantasticus Circus!

 

O modo “Festa” conta com 7 tabuleiros com regras específicas mas com um objectivo comum: chegar à meta primeiro do que os adversários. Para trás ficou a velha cenoura dos Mario Party: tentar apanhar o máximo de estrelas dentro do tempo limite, sendo esse o ponto de desempate entre jogadores. Em Island Tour temos apenas uma lógica de “Jogo da Glória” simplificado, em que o grande objectivo é apenas chegar à meta. E é aqui que o desnível acentuado em todo o franchise assume proporções mais assustadoras: o elemento da sorte recai sobre os lances que temos nos dados, e a nossa sorte (ou azar) em conseguirmos ultrapassar os nossos adversários. A nossa destreza a ultrapassar os minijogos vão-nos dar lances adicionais de dados, ou outros bónus de movimentação no tabuleiro, mas representam muito pouco nas chances que temos para ter sucesso e atingir o primeiro lugar.

Apesar de cada um dos 7 tabuleiros deste modo se auto-avaliarem em termos de Perícia, Sorte e Minijogos, a realidade é que grande parte destes tem a fortuna como elemento desestabilizador. Bem sei que é difícil criar um jogo de tabuleiro (virtual ou tradicional) que recorra a dados sem que a sorte esteja presente, mas parece-me que nesse aspecto específico o Wii Party U consegue ser um pouco mais equilibrado no que diz respeito à perícia versus sorte. Será comum conseguirem uma série de jogadas que vos colocará perto da meta mas por um acaso, terão a vossa posição trocada com a de um adversário, deitando o esforço de algumas dezenas de minutos porta-fora. É claro que este tipo de dinâmica é divertida quando jogamos com amigos, em que podemos aproveitar estas situações para espezinhar amizades e frustrar camaradas, mas contra a IA é simplesmente uma perda de tempo.

O grande sentimento de pertença ao Mario que encontramos no jogo são os próprios tabuleiros. Distintos entre si, a qualidade individual e as características únicas de cada um dos sete tabuleiros traz-nos bem presente alguns momentos da história do Mario, e faz-nos entender que Island Tour não é apenas um party game com os personagens da Nintendo, mas algo mais. O passo que faltou dar para que esta percepção fosse mais clara centra-se na falta de identidade própria dos minijogos. A sua grande maioria (e são mais de 80 minijogos que temos disponíveis) são objectos genéricos que não têm ligação directa ao mundo do canalizador, mas sim, uma apresentação neutra que conta com Mario e Cia. como protagonistas.

mario party island tour 3

Vou ganhar? vou ganhar? Vou perder…vou perder…

 

Para além de podermos jogar os Minijogos isoladamente, existe também um modo denominado “A Torre de Bowser” que surge aqui como uma espécie de modo de Campanha. Nele, o grande arquiinimigo do Mario cria uma Torre na Ilha Maravilha, em que temos de escalar até chegar ao topo e derrotá-lo. Lembrando as célebres Torres do Mortal Kombat, temos de subir 30 pisos até derrotar o vilão, em que temos boss fights a cada 5 níveis intercaladas por minijogos de piso em piso. Em cada piso podemos escolher entre dois minijogos aleatórios e se os vencermos subimos de piso na Torre. O problema que este modo tem é que acaba por ser curto (em pouco mais de uma hora terminamo-lo) e a vontade para o rejogar é próximo de zero.

No entanto, a grande mais-valia deste Island Tour é a possibilidade multijogador. Em especial porque nos é possível jogar com mais 3 amigos tendo apenas uma cópia do jogo. É que graças ao Download Play, podemos convidar alguns amigos possuidores de 3DS e fazer umas partidas de um dos sete tabuleiros disponíveis, e em alguns dos casos, destruir amizades para todo o sempre.

Outro ponto bem ajustado deste Island Tour é a capacidade da Nd Cube, a subsidiária da Nintendo que criou este Island Tour, em perceber que sendo um porte do jogo para uma portátil, que o tempo médio de jogo teria de ser encurtado. Entre jogos de tabuleiro que vão dos 10 minutos à hora de jogo, Island Tour reconhece-se a si mesmo com o tempo mais curto para jogo que uma portátil tem versus uma consola dita doméstica.

O melhor: o visual; a criatividade dos tabuleiros; o Download Play.

O pior: a falta de interesse na jogabilidade single player; a falta de identidade da maior parte dos videojogos.

Mario Party: Island Tour não é a nona maravilha dos party games. Aliás, neste campo tem sido um ano de diversas tentativas infrutíferas em alcançar o patamar de excelência pela parte da Nintendo. À semelhança de outros lançados nos últimos 12 meses, Island Tour é um jogo de festa competente mas sem nunca maravilhar, nem surpreender. Tem a seu favor a possibilidade de levarmos a festa no bolso, dentro da nossa 3DS. E claro, ao preço de um cartucho podemos fazer a festa com mais 3 3DS.

Mario Party: Island Tour é um exclusivo 3DS