Quando estamos num evento como a Gamescom ou a E3, é impossível ver e experimentar todos os jogos. Mesmo que tenhamos um calendário cheio de marcações, e ainda consigamos tempo extra para experimentar mais uma série de jogos em desenvolvimento, chegamos ao último momento com a sensação que faltou muito para ver. Felizmente, não faltou hands-on de Middle-earth: Shadow of Mordor, que foi para mim o vencedor desta Gamescom 2014.

Se olharmos para a extensa série de jogos de The Lord of The Rings, desde o hack and slash The Return of the King ao RPG War in the North, ou remontando ao passado com os jogos da Beam Software dos anos 80, não podemos considerá-los projectos de excelência. Mas vários conseguiram captar, e bem, o universo de J.R.R. Tolkien ou permitiram contar uma nova história em redor deste universo mas alinhado com a série. O mesmo acontece com Shadow of Mordor, situando-se entre os eventos de The Hobbit e The Lord of the Rings, que conta a história de Talion, morto pelo exército de Sauron e ressuscitado com poderes de um Wraith (fantasma), e que viaja até as montanhas áridas de Mordor para se vingar da morte da sua família.

Para Talion, uma personagem bem ao estilo de Boromir, o alvo principal são os Orcs – capitães e warchiefs. O fundamental é seleccionar de uma lista de Orcs quem iremos defrontar e que estejam à nossa altura, porque não convém defrontar desde cedo um Warchief que nos faça fugir com o rabo entre as pernas só pelo poder do seu mau hálito.

Nemesis_system

 

Cada Orc tem a sua personalidade e o seu estilo. Cada Orc tem pontos fortes e pontos fracos. Cada Orc relaciona-se com outros Orcs que tecem hierarquias com grande impacto para a nossa aventura. Existe esta hierarquia em que os Orcs capitães são leais e defendem a posição dos temíveis Warchiefs. Portanto, nesta estrutura militarizada, a ideia é fazer primeiro uma visita aos capitães que ao serem derrotados podem tornar-se nossos aliados, enfraquecendo a posição dos Warchiefs.

Tal como Talion, também os Orcs evoluem. Quando entramos em rivalidade com um Orc e este conseguir escapar ao gume da nossa espada, poderá guardar rancor e irá atrás de nós juntamente com os seus subordinados. Se esse Orc nos conseguir matar, guardará essa recordação e ganhará mais confiança para a próxima vez que o confrontarmos. Shadow of Mordor implementa um sistema chamado “Nemesis” que mexe com a narrativa, envolta entre alianças, traições, dominação e conquista. Se dominarmos um capitão, este trará consigo o seu Gang. Se dominarmos um Warchief, este trará com ele os seus capitães para juntar-se à nossa aliança. Se morrermos pelas mãos de um inimigo, veremos o sistema “Nemesis” a alterar para melhor (e mal nosso) as qualidades dos vários Orcs que estejam ligados hierarquicamente com aquele que nos eliminou.

Talion tem poderes de um Wraith. Consegue transportar-se para outra dimensão numa forma espectral como Frodo conseguia ao usar o anel de poder. Mas em vez de ficar invisível aos olhos dos vivos, vai mais além com um poder mágico que o permite absorver a vitalidade de criaturas (não só Orcs) e convertê-los para a sua aliança. Numa forma humana, Talion é dotado de espada e arco e flecha, e envolve-se num combate que é fluido e seriamente agressivo.

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Durante cerca de meia hora a jogar a demo, prossegui de ponto A a ponto B à procura de um Capitão. Consegui a informação de onde se encontrava a partir de outro Orc ao possuir a sua mente em vez de decapitá-lo. Supostamente, ao possuir a mente de um inimigo, conseguimos que se tornem nossos amigos do peito para ajudar a nossa causa. Mas dos vários que decidi poupar a vida, não vieram juntamente comigo. Desapareceram no meio daquele mundo aberto de terra quase estéril e fortificações em ruínas, onde se podia ver ao longe humanos escravizados a fazer o trabalho duro por aquelas criaturas imundas. Mas não entendam esta descrição como um mundo negro, porque shadow of mordor tem um aspecto claro e agradável, atestado de surpresas e perigos enquanto é explorado.

Cheguei ao meu destino e avistei o local do Capitão, guardado por cerca de uma quinzena de guardas. Optei por uma abordagem stealth e fui assassinando os que se encontravam no cimo da fortificação de paredes fracturadas como vemos na faixa de Gaza. Ao olhar para baixo numa das extremidades do local, estava um Warg preso numa jaula. Decidi libertá-lo. A criatura parecia estar enervada e pronta para entrar num rampage, mas acabei por possuí-la e montá-la (That’s what she said). Nesse preciso momento, a música alterou para um ambiente de guerra e os Orcs começaram os seus grunhidos e lançavam palavras de ordem para o ar, misturando ameaças e provocações. Todos tentavam atirar-se ao Warg em que estava montado, respondendo com dentadas e coices. Ao desmontar o Warg tentei afastar-me da ligeira confusão, e foi quando percebi que naquela batalha estavam Orcs contra Orcs. Aqueles que tinha possuído momentos atrás, e que parecia terem desaparecido, vieram em meu auxílio. A luta continuou até conseguir assassinar o Capitão com uma espada nas costas a trespassar-lhe o corpo. Após isso, e com o tempo a terminar para a minha demo, decidi não tocar mais no comando para um dos Orcs me matar. O resultante foi esse mesmo Orc juntar-se ao Roster dos inimigos mais procurados, e ver o sistema “Nemesis” em pleno funcionamento e transformação, como se fosse uma reestruturação instintiva e orgânica da própria narrativa.

Middle-earth: Shadow of Mordor estará disponível para Xbox One, Xbox 360, PS4, PS3 e PC.