Hatoful Boyfriend ou a prova que os activistas anti-gay tinham razão

“Jovem, estás farta das tropes das quais a maioria das visual novels/dating sims actuais padecem? Jogos pejados de bishounens (rapazes humanos bonitos) e de momentos românticos que mais parecem saídos de um romance cor-de-rosa não são bem a tua praia? Sempre desejaste que o teu namorado tivesse uma plumagem rica, um bico de sonho e um arrulho de encantar? Quando te perguntam o que pensas acerca da possibilidade de existência de amor interespécie tu respondes positivamente sabendo exactamente do que estão a falar? Então agora podes tornar o teu sonho realidade!” – E por favor pousem o telefone até eu acabar. Não é preciso estarem a ligar já para as urgências do Júlio de Matos.

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 Nas palavras do sábio Pombo Francisco: “Right on, little pigeons. It’s gonna happen!”

 

Criada pelo grupo doujin (nome japonês dado a um conjunto de pessoas que partilham e trabalham juntamente num interesse comum) PigeoNation Inc., e lançada recentemente no Steam pela mão da Devolver Digital, Hatoful Boyfriend é a reedição de uma visual novel Otome (leia-se: orientada para membros do sexo feminino) em que jogamos uma jovem estudante humana que foi recentemente transferida para uma escola exclusivamente para pombos. Sendo a primeira humana a frequentar essa escola, ela vai começar uma vida nova e aprender a lidar com problemas com que nunca se havia deparado antes, como sentir em primeira mão a discriminação racial que pombos têm por humanos e descobrir que a alpista é boa para a digestão. No meio da sua adaptação à nova escola e aos desafios que ela oferece, ela pode travar amizade e até mesmo alcançar um relacionamento romântico com oito pombos – não ao mesmo tempo que, como todos nós sabemos, os pombos são seres honrados que privilegiam a monogamia e o conceito de orgia pombalina não consta no seu dicionário.

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 Para além de ser um jogo bestial, também é educativo!

 

Na minha perspectiva de humano eu posso dizer que é certamente interessante a observação da interacção sócio-racial dicotómica humano-pombo e que, lá bem no fundo, não somos tão diferentes assim. Mas eu também sou um bocado parvo e eles são apenas ratos com asas vandalizadores de estátuas. Se um pombo com óculos viesse ter comigo e dissesse de forma sabichona que mais pombos visitam esculturas, museus e localizações artísticas que humanos, tornando-os culturalmente superiores, eu até poderia concordar, mas também perguntar-lhe-ia se a apreciação cultural lhes solta o intestino, não antes sem lhe questionar como é que ele consegue usar óculos se não tem orelhas, logo a seguir a exclamar “Chiça! Um pombo que fala!”.

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 Observem agora como a nobre ave exibe a plumagem à sua potencial parceira.

 

São jogos como este que dão o primeiro passo para quebrar barreiras sociais e nos podem levar a pensar se os activistas dos direitos anti-gay não teriam razão, quando disseram que depois da legalização do casamento entre dois seres humanos do mesmo sexo, o que iria impedir de surgir no futuro a possibilidade da legalização do casamento entre um humano e um animal? Temos aqui a prova que tal é certamente possível. A galinha espera agora ansiosamente pelo lançamento de um dating sim com galos e pombos e humanos, tudo num grandessíssimo regabofe interespécie. A galinha viu o futuro, e não discrimina.

Agora podem pegar no telefone.

I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed