Um Chicken Nugget a Lords of the Black Sun
Acompanhámos durante algum tempo um 4X com algum potencial chamado Star Lords, do estúdio Arkavi, até que recentemente o jogo foi lançado no Steam sob o nome de Lords of the Black Sun. E o que é que este 4X prometia que o distinguiria de tantos outros no mercado, e que tentam conquistar a atenção do pequeno nicho de jogadores que vibram incontrolavelmente com o género? Uma IA mais próxima do comportamento humano, o que não só complexificaria o sistema de jogo como obrigar-nos-ia a melhor definir a via diplomática.
À primeira vista o que sentimos com este Lords of the Black Sun é que há muito pouco que o distinga de outros tantos concorrentes, que nem precisamos de ir para o mercado AAA para perceber que 2014 é um ano fortíssimo para o género. Atrever-me-ia a afirmar que 2014 é um atípico e que nunca tantos 4X e demais jogos de estratégia foram lançados no mesmo ano. Nós, os estrategas de teclado e rato ficamos a ganhar, mas as carteiras ficam a perder. Não só mergulhamos no próprio jogo um pouco em queda-livre como rapidamente percebemos que o jogo não possui aquela capacidade de muitos títulos de nos conquistar nos primeiros minutos de jogabilidade.
Lá vamos nós explorando o espaço com a nossa pequena nave, quando começamos a sentir que algo se define na tónica da jogabilidade: um certo aborrecimento. É que pelo meio de janelas de tutorial e avisos dos avanços tecnológicos dos nossos “opositores” a deslocação (por turnos, obviamente) é altamente aborrecida, e passaremos muitos minutos a ver a nave a deslocar-se, demorando o que no jogo são dias e meses de viagem e que na vida real nos soam a anos de viagem.
É verdade que esta “calmaria” que acontece no jogo se deve a algo que é um bom ponto da parte dos seus criadores (e que cumpre com o “prometido”): o cautelismo humano versus a impulsividade típica da IA. Neste caso, com a aproximação de ambas, as civilizações controladas pela IA tendem a evitar a via bélica, e tentando vencer o jogo por vias diplomático-económicas. E por essa afinação da IA o que sentimos é que é um jogo em que a diplomacia tem um verdadeiro ponto e uma verdadeira vertente de exploração, visto que a IA não se limita a refutar as nossas ofertas ou a declarar-nos guerra por “dá cá aquela palha”. Mas há sim um esforço negocial próximo (e digo próximo com toda a ligeireza que o termo me permite) da IA para connosco.
O combate, quando existe, é resolvido numa grelha hexagonal distinta do empire management do restante jogo e que traz uma boa abordagem à resolução de combates. Mas se em muitos pontos este Lords of the Black Sun não se distingue de de muitos outros, a total aleatorização do universo e das tech trees de cada civilização em disputa (das oito disponíveis) obrigam-nos sempre a definir novas formas de abordar o “tabuleiro” e de nos termos de adaptar a cada situação e a cada caso.
Não sendo uma estrondosa revelação, Lords of the Black Sun acaba por trazer um outro sabor aos diversos jogos do género que foram lançados este ano. Não fosse a sua falta de substância a nível de enredo ou de contexto (tão essencial para todos os fãs de sci-fi) e o seu visual pouco distintivo, e a boa programação da IA e a complexidade de todo o jogo, e estaríamos perante um dos melhores 4X do ano.