Onde está o Tio Patinhas? No Klondike?

Para quem jogou aventuras-gráficas do final dos anos 1980 e no início da década seguinte, as duas editoras que se apresentavam como os verdadeiros porta-estandartes do género eram sem dúvida a Sierra (Entertainment e On-Line) e a LucasArts. Mas quando temos de enumerar séries de jogos destas editoras, diria que Gold Rush! é sempre o amigo esquecido dos nossos tempos de infância. É verdade que não foi tão mediático quando os “Quests” da Sierra, mas a sua dificuldade e multi-enredo marcaram decerto uma geração. Vinte e seis anos depois do seu lançamento, o estúdio Sunlight Games através da Kiss Ltd decidiu refazer o jogo para os dias de hoje, numa tentativa de reavivar a memória nostálgica dos jogadores de Amiga e MS-DOS.

O primeiro factor que nos salta à vista é a paixão que os membros da Sunlight Games devem ter pelo jogo, e cogito, a felicidade que devem ter tido para refazer um jogo com o qual notoriamente têm uma afinidade tão grande. O segundo factor é que este poderá ser o argumento que fará muitos daqueles que falharam a aquisição de Gold Rush! em tempos idos, aproveitarão agora para cumprir este pequeno vazio na sua memória histórica dos videojogos.

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Fui dar a volta ao quarteirão e tridimensionalizei-me.

A história continua interessante e complexa, ao vivermos o papel de Jarred Wilson, um jornalista nova-iorquino em 1848, e que larga a sua carreira em plena Febre do Ouro para procurar o seu irmão no Oeste. Apesar dos puzzles ainda serem relativamente directos para quem é experiente no género, existe aqui um desafio para qualquer jogador. É claro que a questão da dificuldade ou acessibilidade de cada puzzle nas aventuras-gráficas é extremamente relativa, e subjectiva à experiência de cada um. Quando abro as definições do personagem real que sou eu, percebo que já levo às costas quase vinte e três anos de experiência em aventuras-gráficas, e que tirando excepções como Sam & Max, a grande maioria dos puzzles começam a ter um fio-condutor que me é rapidamente reconhecível.

Gold Rush! Anniversary anuncia-se como três aventuras em simultâneo, e cumprindo com o que o original de 1988 criou isto é bem-verdade. É que exceptuando o cenário inicial do jogo, New York, e que é comum a todos, a forma como levamos Jarred a procurar o seu irmão na California trifurca a história. Em cada um dos três ramos de história atravessamos o território dos EUA por zonas diferentes, o que é perceptível nos momentos de narração de Jarred em que vemos o seu trajecto pelo território americano. À semelhança do original temos aqui três possibilidades distintas de jogar a mesma aventura-gráfica, com o desafio inerente a um jogo do final da década de 1980.

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A actualização para os dias de hoje centra-se na gravação de todas as linhas de voz, regravação de toda a trilha sonora e actualização visual. E é apenas neste ponto que cai o meu apontar de dedo a este Gold Rush! Anniversary: o visual está excessivamente datado para um remake actual de um jogo com vinte e seis anos. O 2,5D parece de há dez anos atrás,e  as animações são um pouco toscas. O que se provou um estranho exercício de trazer um jogo para os dias de hoje mas a deixá-lo esteticamente a meio do caminho.

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Gold Rush! Anniversary é a oportunidade que muitos terão para jogar finalmente a um brilhante jogo da Sierra. Uma aventura-gráfica arrojada que apresentava três jogos completamente distintos e que funcionou como pseudo-documentário das migrações em busca do ouro do Séc. XIX nos EUA. Um bom jogo para quem o jogou no velhinho Amiga, e quer recordá-lo sem as cores em 4 bits, ou para quem nunca jogou e sabe que perdeu uma das pérolas mais subvalorizadas do brilhante catálogo da Sierra do século passado.

Gold Rush! Anniversary é um exclusivo PC.