Um Gomu Gomu no Chicken de Akiba’s Trip Undead & Undressed

Desengane-se quem abriu este artigo na esperança de que tivéssemos vendido à alma à Bertrand e que estivéssemos a publicitar o mais recente romance de E. L. James. Mas não, estamos apenas a descrever as mecânicas e enredo algo sui-generis de Akiba’s Trip Undead & Undressed (conhecido no Ocidente apenas como Akiba’s Trip, apesar de ser o segundo jogo da série), que era um dos jogos que trouxemos na mala rotulada de “cheio de curiosidade” da reunião que tivemos com a NISA em Colónia.

Akiba’s Trip é um jogo curioso. Em primeiro porque representa fielmente uma cultura e uma região, e é uma notória invocação à comunidade otaku, e ao distrito de Tóquio associado à electrónica e aos “nerds”: Akihabara. Apesar de nunca ter visitado Akiba, umas visitas ao Google Earth e à pesquisa de imagens do Google fez-me perceber que houve esse esforço de tentar reproduzir as ruas e as lojas do distrito de forma fiel.

akibas-trip-2-15-11-03

Eu represento clientes pelo mundo todo. E é claro que isto nunca irá parar à internet.

O conceito deste jogo, apesar de estranho é, digamos, imaginativo. Existem umas criaturas próximas dos vampiros (mas que não brilham ao Sol), que respondem pelo nome de “Synthisters”, cujo alimento é a força vital humana mas que têm uma fraqueza: a exposição solar directa. E quando dizemos directa, significa que para termos de enredo e fan-service a roupa consegue protegê-los dos raios ultravioletas e eles convivem pelo meio dos humanos sem levantar suspeitas. Qual a forma de os derrotar? Sendo este um beat’em up clássico só temos de espancar os nossos adversários e progressivamente indo despindo-os. Um vampiro em roupa interior é um vampiro que se torna instantaneamente em cinzas. Portanto “Synthisters” deste mundo que sonham com uma carreira de modelos de underwear: é melhor procurarem outro emprego.

O nosso personagem, logo no início do jogo, é transformado numa destas criaturas, o que justifica o porquê da sua única vulnerabilidade ser a nudez pública. É curioso que esta nossa fragilidade espelha tão bem um pesadelo comum que eu tive até à adolescência (e que acredito que seja transversal a muita gente): o pavor de estar nu em público. É claro que podemos desconstruir uma série de pensamentos e discorrer sobre a metáfora onírica destes sonhos com as nossas inseguranças, a aceitação dos outros para connosco, e a nossa vulnerabilidade de abrirmos o verdadeiro “eu” a quem nos rodeia. E podemos acreditar que este alegoria freudiana é a génese conceptual da Acquire quando conceberam este Akiba’s Trip. Mas estaríamos completamente errados. Akiba’s Trip é um beat’em up em que enfraquecemos a roupa dos nossos opositores com pancada, apenas com o pretexto de os despirmos. Puro e simples. Fan service where art thou?

Akiba's_Trip_2_combat_screenshot

Ahhhh! A roupa está a condizer!

Sendo um jogo relacionado com a cultura otaku, era quase certo que as quests, a história, e mesmo os itens revolvessem em torno deste meio. E é por isso que em Akiba’s Trip a roupa serve de armadura, e as armas são objectos tão improváveis quando posters, portáteis, chapeús-de-chuva e revista de manga.  As mecânicas são simples e possuímos apenas três ataques, um superior que afecta a cabeça, um médio que afecta a zona do tronco e um inferior que afecta as pernas. Os botões que controlam cada ataque são os mesmos que nos permitem despir o adversário (p.ex.: o ataque inferior retira as calças ou a saia ao oponente). Infelizmente a censura europeia impede-nos de usufruir do fan-service ao máximo e os ataques especiais que despem inclusivamente as cuecas e sutiãs às voluptuosas vampiras são substituídas por focos de luz branca. Muito triste a censura, muito triste mesmo.

O enredo base e as próprias side quests são medianas e parecem ser mais um pretexto para tudo o que acontece no jogo do que a sua verdadeira súmula. Muitas das referências das mesmas giram em torno de um profundo conhecimento do meio otaku, e admito que eu me sentia muitas vezes perdido por não ter um conhecimento assim tão profundo do género. E de resto repetição: correr de um lado para o outro em fetch quests que terminavam invariavelmente em pancadaria.

large

Hey! Nem me levas a jantar primeiro?

O piro do jogo são mesmo os loading screens. Mudar de rua significava um loading screen de dez a quinze segundos. E como as ruas tinham as zonas de transição pouco definidas foi frequente estar constantemente a mudar de área contra a minha vontade. E loadings de dez a quinze segundos. Mais loadings de dez a quinze segundos. Não dava para agilizar a coisa?

O melhor: o ambiente descontraído sem se levar excessivamente a sério, o visual bem conseguido a representação da região de Akiba e o combate.

O pior: a repetição e os intermináveis ecrãs de loading

Akiba’s Trip Undead & Undressed tem um conceito estranho sobre vampiros, e que mesmo em toda a ideia risível consegue ser bem mais sólido do (risos) Twilight. É um strip’em up com uma tremenda dose de fan service e que tem o seu público-alvo perfeitamente definido. É possivelmente um dos jogos que joguei feito para e sobre otakus, e que quem está à margem da cultura pode sentir-se relativamente perdido. Mas acaba por ser divertido dentro da loucura de andar a espancar e despir estranhos na rua. O sonho tornado realizado de algumas pessoas que sofrem de parafilias.

Akiba’s Trip Undead & Undressed está disponível para PS3, PS4 e PS Vita. Analisada a versão de PS Vita.