Um Chicken Nugget a Tengami

Quando defini o meu top 10 da Gamescom e para surpresa de muitos, apareceu um pequeno indie chamado Tengami, do estúdio Nyamyam, a encimar a lista, olhando altivo alguns colossos como Evolve e MKX. E o porquê de o ter colocado em tão alta posição? Simplesmente pela experiência que ele me trouxe. Numa Feira como a Gamescom, e mesmo na zona de Business, o tempo de experimentação de cada novo jogo ronda no máximo os dez minutos. O que significa que a arrebatadora experiência emocional que Tengami constitui, marcou-me, e muito, nos cerca de quinze minutos em que estive isolado do mundo, com headset na cabeça e os olhos postos no Game Pad da Wii U.

Tengami 03

Antes de começar a análise propriamente dita há que ressalvar duas coisas: a primeira é que Tengami é um excelente jogo e em segundo, que não figurará nem de perto nem de longe no meu top de melhores jogos do ano. E a resposta a isto é meramente um rácio entre impacto e tempo.

Tengami é um jogo extremamente curto. Mal sabia eu que os quinze minutos de jogo em Colónia representaram aproximadamente 1/3 de todo o jogo. É curto porque apetece mergulhar mais em cada uma daquelas páginas, em fazer parte de cada recorte, de cada mecanismo de engenharia do papel que o compõe, e de cada luz subtil que dança vibrante entre a transparência texturada do papel. É curto porque e um puzzle game com pouquíssimos e insatisfatórios puzzles. E é curto porque é dos poucos jogos em que tudo o que compõe não é diluído na rapidez do nosso pestanejo, nem na velocidade do olhar: cada pormenor é apreciado por nós, e cada pequeno recorte existe por si só, e persiste gravado na nossa retina.

Tengami 01

Tengami é acima de tudo uma experiência poética. Toda a estruturação do jogo em engenharia do papel (ou pop-up como é conhecido) criam-lhe uma aura etérea, íntima, quase ajusta à erudição sucinta do ambiente do folclore nipónico. Tengami é muito menos jogo do que é viagem e é muito menos aventura do que reflexão estética.

Os puzzles são relativamente simples, e regra geral envolvem uma interacção como se de um livro de pop-up se tratasse. À excepção do derradeiro puzzle do jogo e todosos outros são simples, ainda que repletos de beleza.  A única frustração do jogo acaba por ser a velocidade de deslocação do protagonista que tem apenas uma mudança: devagar. Em algumas situações em que temos de explorar múltiplos “ecrãs” quase que podemos ir beber um café enquanto ele, na sua calma filosófica, atravessa florestas de papel em busca da resposta.

Tengami 02

Tengami é daqueles jogos obrigatórios mas não para toda a gente. É uma viagem incomum por um dos mundos mais belos mundos que vi serem criados no ambiente virtual dos videojogos. Tem pouco de jogo e mais de experiência, e vale decerto os cinquenta minutos de conteúdo que possui. Até acho que autores deveriam ser mais arrojados e excluir os puzzles por completo, e criar um objecto de pura reflexão estética. Que é na prática do que isto trata.

Tengami está disponível para iOS e Wii U. Analisada a versão de Wii U.