Primeira parte

É mais do que público que a Galinha tem um carinho muito especial pelo mercado indie. E não digo apenas aquele carinho da moda, em que é cool e hipster gostar-se do mercado independente e só se conhece, na prática, os títulos mais famosos. Todos sabem que a Galinha debica imenso a terra, e é essa uma das razões pelas quais nestes anos temos análises a jogos que apenas um ou dois sites no mundo inteiro possuem, e queremos continuar essa faceta exploratória para o futuro, e dar sempre aos nossos leitores informação de jogos que de outra forma não ouviriam falar. Também é pública a nossa felicidade quando visitámos a Indie MegaBooth, a banca conglomerada da melhor selecção de indies que poderíamos ter na Gamescom. E graças a essa furtuita visita decidimos seguir as suas escolhas: que regra geral nos trazem os indies mais desconhecidos mas igualmente mais surpreendentes que temos visto.

É frequente que as pessoas à volta de quem escreve e critica videojogos lhe perguntem que jogos oferecer no Natal, e é por isso que seguindo a curadoria do Indie MegaBooth, propomos 14 jogos existentes no Steam e que provavelmente irão surpreender os vossos amigos/familiares porque poucas pessoas os conhecem (e isso vai permitir aquele brilharete de oferecer um bom jogo, dando a imagem de um profundo connoisseur da área) e de encontrar algumas boas ofertas em jogos de preço médio mas de grande qualidade (não esquecer que estamos em plenos Saldos do Steam).

Assault Android Cactus

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Os shooters são uma grande parte da nossa memória de jogadores e uma enorme fatia dos nossos períodos de relax. É claro que é estranho falar de descontracção quando falamos de jogos que usualmente incorporam elementos de Bullet Hell como este Assault Android Cactus em Early Access no Steam. Com um visual estilizado e altamente cuidado, temos à nossa disposição uma série de raparigas andróides com mecânicas de jogo distintas e que serão a nossa arma num dos mais frenéticos e polidos arena shooters dos últimos tempos. Apesar do jogo ainda estar em alpha já demonstra grande parte das suas potencialidades, em especial a sua jóia da coroa: o dinamismo das arenas que se vão alterando à medida que lutamos.

The Masterplan

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Toda a gente conhece Hotline Miami. Para além de ter trazido os top-down shooters para outro patamar, permitiu também revitalizar um género que se julgava extinto e dar-lhe uma densidade que parecia perdida desde o clássico Syndicate. The Masterplan, também em Early Access no Steam traz-nos de volta aos jogos de estratégia táctica top-down, já que vivemos o papel de um grupo de criminosos com tarefas tão grandiosas quanto assaltar uma lavandaria. As missões parecem simples: entrar no sítio x, roubar o item y e escapar. A forma como o fazemos é que difere muito: podemos ir de uma abordagem mais violenta em que espancamos um dono de uma loja para lhe roubarmos a chave do cofre ou apontar-lhe uma arma e obriga-lo a abrir o mesmo. Com um visual mais cartoony, The Masterplan mostra-nos já um jogo do género bem polido e com boas ideias de mecânicas aplicadas ao género.

Rebuild 3: Gangs of Deadsville

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Quando comecei a jogar este Rebuild 3, Gangs of Deadsville, não pensei que fosse tão rapidamente absorvido neste jogo de estratégia em pleno apocalipse zombie. Depois de o ter começado a jogar, olhei para o relógio e já tinham passado três horas. E ou o jogo traz uma TARDIS incorporada ou fui alvo de diversão que nos abstrai da passagem do tempo. Como não ouvi a usual sirene do topo da nave acredito piamente que a segunda opção é a correcta, ou então sofro de narcolepsia e ninguém reparou.

Voltando para este Rebuild 3, em Early Access no Steam, para além de ser um divertido jogo de estratégia por turnos, teria tudo para ser um bom jogo de tabuleiro. Nele controlamos uma série de sobreviventes que estão lentamente a reconstruir parte da sua cidade e que terão de proteger a sua comunidade contra as investidas dos zombies e de outros grupos de sobreviventes rivais (que são tão ou mais mortais que os mortos-vivos). Entre aliciar sobreviventes a juntarem-se à nossa comunidade (e portanto mais “mãos” para trabalhar, mas também mais “bocas” para alimentar) temos de negociar com as outras facções, formar alianças ou declarar guerras. Uma espécie de Civilization cartoony e igualmente desafiante. E eu que pensava que a temática zombie estava batida…

Deep under the sky

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Para quem acha que o Super Mario e o Sonic poderiam incorporar um pouco mais de psicadelismo, os criadores de Incredipede têm a resposta. Deep under the sky é um jogo de plataformas piscadelicamente belo, em que controlamos uma anémona num mundo colorido, estranho, e no qual temos de ricochetear com precisão para terminar cada nível.  Com um visual estranho que conjuga bem com a banda-sonora ambiental e zen, esta poderá ser a prenda perfeita para o amigo ou amiga mais hippies, ou para nós mesmos se o quisermos enquanto queimamos algumas substâncias. Falo de incenso como é óbvio!

Samurai Gunn

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Para muita gente Super Smash Bros. é muito complicado para se começar a jogar e ainda mais para masterizar. Para todos aqueles que procuram um arena brawler com mecânicas simples temos Samurai Gunn. Com o seu visual retro, quase 8 bits, temos jogo de pancadaria para quatro pessoas localmente, e que conta com a capacidade épica dos samurais de fazerem 1-hit kills. Entre a katana e uma pistola, o nosso objectivo é matar os nossos adversários o mais rapidamente possível antes que eles nos matem a nós, num jogo rápido, frenético, em que todos andarão a saltar com tanta rapidez como se em Naruto dessem poderes a coelhos da Duracell. E claro, a cereja no bolo: esventrar um amigo nosso com um golpe de espada e ver o seu sangue pixelizado a jorrar no ecrã em câmara lenta.

Elegy for a Dead World

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Muitos poderão discordar de se chamar videojogo a Elegy for a Dead World, e preferirão, com toda a legitimidade, chamar-lhe uma experiência. Eu chamar-lhe-ia fan fiction simulator se o tivesse de fazer, mas prefiro enaltecer a beleza estética e conceptual que apresenta, ao invés de entrar em discussões nominais que resultam em nada. À medida que exploramos os cenários brilhantes de uma civilização que já partiu, podemos ir escrevendo nesses locais alguns parágrafos, como se fossemos nós, o jogador, simultaneamente o argumentista e o narrador e dessa forma criarmos a nossa própria visão e interpretação do que nos é mostrado. E depois de terminada a experiência, partilhar com a comunidade as nossas próprias histórias. Um desbloqueador de writer’s block? Um impulsionador de criatividade? Tudo isto e muito mais, para além de uma belíssima prenda para escritores ou putativos contadores de histórias.

Shattered Planet

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E porque um roguelike não poderia faltar, decidimos incorporar nesta lista um dos mais imaginativos a que tivemos acesso nos últimos tempos. E curiosamente é um dos poucos lançados este ano que consegue mesclar bem o género com um ambiente sci-fi e que rebate facilmente a ideia de que este género só funciona com um setting de fantasia medieval. Shattered Planet é um jogo em que vamos explorando uma série de mundos inóspitos e que a nossa morte se traduz na reconstrução de um clone na nave-mãe, preparada para nos enviar de volta a conhecer novas (e mortíferas) espécies. Como muitos dos bons roguelikes que têm saído possuímos aqui algumas mecânicas por turnos disfarçadas de movimento livre, o que se traduz no facto de que tanto nós, como as criaturas em jogo, se movem quadrícula a quadrícula em turnos dissimulados. Como quase todos os roguelikes, temos um valor de rejogabilidade gigantesco, com inúmeros itens e criaturas para descobrir e muitos e muitos mundos para explorar. Pediram ao Pai Natal um bom roguelike sci-fi? Como se portaram bem têm aqui Shattered Planet em vez do potencialmente merecido bloco de carvão no sapatinho.

Leiam também a segunda parte.