Mercenários made in Portugal

O Carnaval é quando o Homem quiser, e o Dia de Portugal também. Aliás com o total desrespeito que tem havido para com as datas emblemáticas do País pela acção da Tutela, nós aqui do Rubber definimos o dia 14 de Fevereiro, um sábado, como o primeiro Dia de Portugal comemorado em 2015. E se quiserem reclamar nós fazemos ouvidos moucos, porque as Galinhas têm ouvidos mas não têm orelhas.

Quando os pessimistas acham que Portugal é um país unicamente de futebol, e em que mais nada se aproveita, sabe muito bem encontrar uma série de game developers a dar cartas de qualidade no mercado. E sabe ainda melhor quando os descobrimos por completo acaso, a meio do anonimato que muita gente se vaticina por escolha, tendência ou consequência da vida. E a Camel 101, este estúdio bem português, foi um desses casos.

Quando fui convidado para co-moderar o painel sobre videojogos no Fórum Fantástico pelo segundo ano consecutivo, e percebi que os únicos membros do painel confirmados eram um estúdio português de seu nome Camel 101 fiquei altamente surpreendido. A começar pelo meu tremendo faux pas, de ter comprado Gemini Wars no Steam há um ano atrás, de o ter jogado e de não fazer a mínima ideia que aquele jogo de estratégia espacial tinha sido feito por compatriotas meus. E que esses compatriotas ali estavam para anunciar um jogo sobre o qual eu já tinha recebido informação de RP da Kasedo Games. Mechs & Mercs: Black Talons era o jogo questão.

Mechs mercs 03

No amor, na guerra e nas explosões!

 

O ano passado foi um gigantesco ano para os RTS de ficção científica e Mechs & Mercs: Black Talons (à época com data de lançamento para o final do ano) poderia ser o seu corolário. Acabou por ser adiado para Janeiro, abrindo um ano que já tem algumas promessas do mercado indie dentro deste género, do qual Etherium está no topo das minhas expectativas.

A história deste Mechs & Mercs: Black Talons não é inédita e vai sorver influência de outras referências do sci-fi, seja dos videojogos, da literatura e de televisão. Há logo uma diferenciação narrativa neste jogo quando comparada com outros do género. É que aqui não defendemos uma facção, não lutamos sob a sombra de uma bandeira ou pela honra de um império. Somos um grupo de mercenários contratados por uma facção dizimada em combate e que se vê impossibilitado de fugir pelos Stargates mais próximos, já que estes foram desactivados pela facção vitoriosa, a Tzanar Union.

Portanto uma das partes do título deste jogo está resolvida e sabemos que lutamos por esse grande ideal chamado dinheiro. Mas foi a segunda que me atingiu com uma seta no meu ponto fraco, e que me derrubou de imediato: a existência de mechs. E todos sabemos que a existência de mechs torna tudo exponecialmente mais badass e mais épico. Acredito que até o Sonic Boom seria um dos jogos do ano se substituíssem o ouriço por um mech (e não me refiro ao Metal Sonic).

Mechs and Mercs Black Talons 2

Desculpa lá ter falado mal do Benfica ó Amílcar!

 

Mechs & Mercs: Black Talons vai beber inspiração ao jogo que reavivou a chama pelo género: XCOM. Possuindo duas áreas distintas de jogabilidade: uma típica dos RTS em que controlamos uma série de esquadrões para cumprir com os objectivos das missões que nos são apresentadas e uma zona de gestão entre missões, que nos permite contratar novos mercenários, comprar upgrades, customizar os mechs, alterar a nave-mãe para que possa enviar um maior número de unidades para as missões, entre um vasto número de tweeks que cumprem uma desafiante gestão bélica dos nossos recursos. É que este não é um jogo fácil em que podemos tratar as nossas unidades como dispensáveis. Cada esquadrão custa imensos recursos a desenvolver, muito tempo e cautela a melhorar e um tremendo cuidado para manter vivo.

O combate propriamente dito responde ao que estamos habituados de jogos de estratégia táctica em tempo-real. A utilização de pontos de vantagem e o recurso a mecânicas de cover, algumas dinâmicas de forças e fraquezas entre tipos de unidade e a captura de pontos estratégicos para obter recursos durante as missões. Infelizmente aquando do lançamento, algumas das mecânicas de cover estavam mal programadas, e era frequente que as minhas unidade se deslocassem para a frente de muros e não os utilizarem para se abrigar. É óbvio que estas falhas de reconhecimento e cumprimentos de ordens da nossa parte conduziu a alguns falhanços de missões de forma frustrante, mas felizmente que um patch no início deste mês veio corrigir alguns desses bugs e afinou de vez alguns destes problemas.

Mechs mercs 01

Onde está o Robocop quando é preciso?

 

Mechs & Mercs: Black Talons é um jogo extremamente desafiante em qualquer nível de dificuldade e ao longo do desenrolar do modo de história é recompensador para nós percebermos o quanto as nossas acções vão tendo impacto no desenrolar de uma guerra que não é nossa, e na qual apenas participamos porque alguém nos acenou uma valente maquia à frente dos olhos.

O melhor: a gestão entre missões, o desafio de cada missão

O pior: alguns bugs ocasionais e problemas de IA

A Camel 101 não quis reinventar a roda com este seu RTS. E estaríamos a exagerar se considerássemos que Mechs & Mercs: Black Talons constitui um marco no género e que será altamente valorizado por isso. A realidade é que se trata de uma boa abordagem a um jogo de nicho que nos traz uma grande dificuldade no desenrolar das missões e cuja diversidade (por vezes monótona) das mesmas garantem largas horas de jogabilidade. E acima de tudo é bom saber que há empresas portuguesas discretas a criarem jogos de PC deste nível, e a criarem um nome dentro de um género de nicho. Para quando o próximo?

Mechs & Mercs: Black Talons é um exclusivo PC.