Are you talking to me? ‘Cause I don’t see nobody else so you got to be talking to me… are you talking to me?

Sim, é com Robert de Niro e Taxi Driver de Martin Scorcese que começo a escrever este artigo. Sinto-me cansada… aliás, sinto-me exausta. Olhar à nossa volta e perceber como o Mundo pouco muda apesar da dita “evolução” tecnológica (e não só) cansa-me.

Estou a disparar palavras que parecem sem sentido. Desculpem-me! Mas quando se está assim tão cansada, por vezes custa a organizar as ideias e a manter um raciocínio coerente. E quando se têm milhões de palavras que querem sair ao mesmo tempo, custa ainda mais organizá-las num discurso que faça sentido para mais alguém que não nós mesmos.

Vamos começar por onde se deve sempre começar – pelo início. Peguei na “caneta” porque já não aguentava mais estar em silêncio. Esta “capoeira” de Galinhas de Borracha que tão bem me recebeu, e da qual me orgulho mais de pertencer a cada dia que passa, merece o melhor de mim. E o melhor é sempre a Honestidade.

Na minha vida profissional e pessoal sou confrontada muitas vezes com as ideias de Bullying, seja porque muitos pais falam comigo enquanto psicóloga na tentativa de procurar ajuda para os seus filhos, seja através dos próprios filhos, seja pelas vozes dos meus amigos que se sentem discriminados de alguma forma, ou mesmo colegas de trabalho que partilham comigo as suas histórias pessoais em que se sentiram vítimas.

Sou uma criança dos anos 80: a última geração que cresceu sem telemóveis, sem internet, sem redes sociais, mas com os mesmos problemas de discriminação e popularidade de grupos escolares que levava (e ainda leva) a que algumas crianças fossem as cool e outras as rejeitadas. Com essa separação, vinha muitas vezes a agressão física e psicológica, tal como hoje, mas que na altura não se chamava Bullying. Teria nome ou aceitava-se como um facto da vida? Não sei… mas não importa. Não sou excepção – fui vítima do que hoje se chama Bullying: agressão psicológica e discriminação que me marcou por muitos e longos anos. Creio que nunca se ultrapassa – mas no meu caso, fez Amar-me mais, ser mais forte e determinada. No meu caso, transformei a dor em algo positivo – mas infelizmente, nem sempre isso acontece…

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Hoje em dia, essa discriminação, esse “gozo”, esse à vontade com que se humilha alguém porque é diferente, passou as fronteiras da realidade palpável e invadiu a internet. E recebeu o nome de Trolling. Entendem? “Estás a ser um Troll” (figura de mitologia escandinava e celta que dificultava a vida aos viajantes para seu próprio deleite). “Estás a Trollar” – ou seja, estás a fazer insinuações, comentários ou acusações com o intuito claro de provocar discórdia, lançar o conflito ou ofender outrem.

Confesso que estas noções, ainda que entenda a psicologia por trás delas, ainda me fazem muita confusão. É bastante claro (e não preciso ser psicóloga para chegar a essa conclusão) que quando alguém tem necessidade de ofender, magoar, humilhar, desrespeitar, etc, alguém que não se conhece nem foi prejudicado por tal, é porque existe algo bastante errado com o agressor. Ou seja, de forma mais clara (eu bem digo que hoje está difícil organizar ideias), quando alguém agride propositadamente (virtualmente ou não) outra pessoa sem motivo, está a mostrar, e bastante, os seus próprios problemas interiores e a sua própria necessidade de ajuda.

Ainda que entenda e possa, do ponto de vista psicológico, compreender e analisar o inferno interno que o agressor estará a passar, isso não me leva a desculpabilizá-lo ou a minimizar o seu acto. Entender e desculpar são duas coisas distintas.

Mesmo na minha idade, fico ainda chocada com o Ódio que vejo todos os dias nos fóruns que visito – e sim, refiro-me aos fóruns de Gaming (que são os que aqui interessam). Não me interpretem mal – não sou nada “velha do Restelo”. Acho que a Internet e as Redes Sociais, apesar de espelharem (e muito) a estupidez humana, dão-nos também a oportunidade de discutirmos ideias com pessoas interessantes e fascinantes que de outro modo não conheceríamos. É maravilhoso entrar numa página de Facebook, num canal de Youtube ou outra sala virtual de gamers e trocar conversas com pessoas, de várias idades, que falam a minha língua de “gaming”, que são “nerds” como eu e que trocam ideias de forma interessante, divertida e inteligente.

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Apesar disso, de forma muito frequente, vejo trocas de insultos, de agressões e de tentativas deliberadas de humilhação que, por mais anos que viva, não deixam de me espantar. Confesso que pensei que dentro da comunidade gamer, as coisas pudessem ser um pouco diferentes. Às vezes temos esta ideia utópica que, quando é aquilo que fazemos e amamos, o mal fica sempre à porta e entra nos outros mundos, não no nosso. A verdade é que Nunca é assim. A comunidade de gamers não é excepção e muitas são as vezes em que a troca de insultos entre jogadores é levada à humilhação pura, ao ódio manifesto com a intenção clara de fazer outra pessoa sentir-se mal e magoada. Posso estar a ser muito ingénua – mas a ideia de querer magoar alguém que não conheço e que nunca me fez activamente mal a mim ou a quem amo – é algo que continua a chocar-me e que não consigo aceitar como normal…

Sim, caricaturar é divertido. Satirizar é divertido. Gozar “amigavelmente” é divertido. Sou daquele tipo de pessoas que se ri de quase tudo! Uso o Humor para derrotar os “demónios” internos. Considero que no humor e comédia não há limites (mesmo que eu não me ria de algumas coisas). Tenho um sentido de humor sarcástico – existe um cómico de stand-up que habita na minha cabeça e faz piadas a toda a hora – e sofro de “Honestice” aguda, uma doença trágica da qual não se conhece a cura, que me leva a dizer o que penso, em forma de piada (maldito cómico que vive na minha cabeça) sem qualquer filtro. É de família – posso-vos garantir!

Mas sei pedir desculpa. Sei admitir que ultrapassei a linha ou a fronteira de outra pessoa e perceber que, o que para mim é uma piada, para outra pessoa é ofensivo. Acredito profundamente que a Minha liberdade acaba onde começa a de outra Pessoa – mesmo que a outra pessoa sofra de “Sensibilidade Aguda”, ou “Pieguice” (também chamada de hipocrisia… mas isso não interessa para agora).

O que me levou a pegar na caneta, não é o efeito prático das tentativas de trolling – mas sim a intenção activa de magoarmos, incomodarmos negativamente, alguém que não conhecemos…

Este artigo já vai longo e as ideias continuam desorganizadas. Desculpem. Acho que não disse nada do que queria…

Mas queria contar-vos uma coisa à qual assisti: a jogar World of Warcraft (WOW), entrei há pouco tempo em Dungeon Finder. Para quem não sabe o que é: Dungeon Finder é um motor de busca aleatório que junta 5 jogadores inscritos em Dungeon. Como sempre, entrei como Tank e o que vi num dos grupos que entrei chocou-me. O Healer, personagem que deveria curar o Tank, não estava a fazer um bom trabalho. Facilmente se reparava que era novo no jogo – tentava curar todos sem perceber que só deveria curar o Tank. Parei e comecei a tentar ensinar-lhe o que fazer. A reacção dos restantes jogadores só pode ser descrita como: um grupo de piranhas sangrentas que cheiraram sangue. Fui chamada de coisas que nem sabia que existiam, porque estava parada a tentar ajudar um jogador novo, e o Healer foi virtualmente escorraçado, gozado, sendo que a palavras: Retard e Noob foram os adjectivos mais gentis que li no chat. A mim, em nada me afectou, mas o outro jogador falou em conversa privada comigo, depois de sair do grupo, dizendo que provavelmente iria cancelar a conta do WoW – “não sei jogar e há mais de um mês que tento evoluir mas não consigo nem tenho ninguém que me ensine as mecânicas”.

Não interessa concluir o resto da conversa. Fiquei a falar com este jogador mais de uma hora por chat e espero, sinceramente, que não tenha cancelado a conta. É impressionante como 3 pessoas, que ele não conhecia de lado algum, conseguiram abalar a sua confiança daquele modo. Sim – é uma coisa sem importância no Mundo real… é um jogo. Por isso mesmo – se num jogo, uma coisa criada para nos divertirmos, existe este tipo de ódio e discriminação, que esperança poderemos ter para a realidade e para as coisas que importam??? Os jogos são, muitas vezes, o espelho de como nos sentimos e agimos.

Eu já tenho algumas “armas” e uma personalidade que resiste mais ou menos bem a tudo…mas há muita gente que não tem. Cada vez mais existem menos pessoas com essas “armas” (mas isso será tema para outra conversa). O importante, é que nunca sabemos o impacto que um comentário negativo e propositado que fazemos tem na pessoa-alvo desse comentário. As nódoas negras físicas incham, desincham e desaparecem… as mazelas psicológicas de um pequeno comentário podem perdurar uma vida inteira.

E foi por isso que me lembrei de Taxi Driver… Robert de Niro cansado de ser discriminado. De se sentir indefeso. De se sentir escorraçado e abusado. Penso na forma que ele encontrou para lutar contra isso…

Como sociedade, acredito que não queremos gerar mais “Condutores de Taxi” como aquele miticamente retratado por Martin Scorcese. Quando não queremos gerar algo, convém não alimentá-lo. Por mim, que acredito na liberdade, espero nunca ter de dizer ou ouvir a frase: Are you Trolling with me…

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