Epistory não está no meu top de melhores jogos da Gamescom, mas é certamente a maior surpresa de todas. Antes da Gamescom, a caixa pessoal de email de cada um dos elementos do Rubber Chicken enche-se de propostas de pequenas editoras. Numa feira onde vão estar presentes milhares de jogos é enorme o esforço que os mais pequenos têm de fazer para se fazerem ver no meio dos gigantes. A nossa táctica é ler sobre os jogos, ver as imagens e trailer e perceber se é um jogo que vale a pena gastar uma slot do nosso calendário (algo que pode ir de 30 minutos a 1 hora). É necessário avaliar bem se não estamos a gastar o tempo que podia ser empregue num bom indie ou AAA, para ver um mau e preguiçoso jogo de browser ou mobile recheado de micro-transações. Porém, assim que li sobre Epistory percebi que estava perante uma ideia promissora. Só não esperava que estivesse tão bem executada.

Gamescom2015 Epistory

A Fishing Cactus é uma pequena produtora que tem produzido jogo regulares e bem executados mas que não sobressaem de nenhuns outros. Jogos essencialmente para mobile, de puzzles ou de plataformas, com este ou aquele outsourcing para franchises maiores como em Creatures Online ou After Burner Climax. No catálogo da Fishing Cactus – que também se especializa em serious games – aparece apenas um grande jogo: Shifting World um jogo de puzzles para a Nintendo 3DS onde alteramos entre o universo 2D e o universo 3D para solucionar puzzles e progredir nas plataformas.

Epistory é diferente de todos os anteriores por se tratar de uma pequena ideia de génio. No jogo controlamos um lobo no qual vai montada a heroína da nossa história, uma rapariga que quer contar histórias mas que não encontra as palavras certas e a inspiração. A nossa missão é, literalmente, encontrar as palavras por ela. Como? Escrevendo-as.

O controlo da personagem é totalmente feito com o teclado para que as nossas mãos estejam já no local onde vão ser necessárias. É que sempre que queremos apanhar recursos ou tesouros, temos que escrever palavras. Eu explico: a barra de espaços alterna entre o modo normal e o modo de magia. No modo normal apenas nos podemos mover nos cenários isométricos, recheados de elementos naturais inspirados em origami (árvores, pedras ou folhagem feitas de cartão) e não podemos interagir com nenhum destes elementos. Porém, ao entrarmos no modo de magia deixamos de poder mover-nos no cenário, mas todos os objectos passam a conter uma palavra aleatória em cima dos mesmos. Se digitarmos a palavra no teclado recolhemos recursos ou tesouros.

Gamescom2015 Epistory

Isto poderia tornar-se repetitivo ou aborrecido passados uns minutos, mas o que adiciona o toque de génio ao jogo é o combate. Frequentemente, enormes insectos – larvas, aranhas, baratas – vêm lentamente ao nosso encontro. Em cima dos mesmos vem uma sucessão de palavras e assim que digitamos todas as palavras em sequência o insecto recebe raios mágicos suficientes para a sua aniquilação. Agora, imaginem serem atacados por 5 insectos ao mesmo tempo, cada um com 3 a 4 palavras necessárias para perder toda a energia, e tentarem escrever todas estas palavras alternando entre olharem para o teclado e para o ecrã. Querem mais dificuldade? Há insectos mais rápidos dos quais temos que nos ir afastando enquanto escrevemos. Mas só podemos escrever ou movimentar-nos, uma coisa de cada vez.

Na demonstração com o primeiro nível que a Fishing Cactus nos deixou experimentar podemos ainda ganhar um novo atributo de magia. No modo mágico, se digitarmos FIRE passamos a ter poderes de fogo e foi-nos dito que haverá mais poderes que podem ser alternados uns com os outros sempre que digitarmos a palavra certa.

Epistory é uma grande ideia, inserida num pequeno jogo que se tornou a maior surpresa de todas. Para quem batalha com a escrita, este é o jogo cujos próximos capítulos podem ser dos mais surpreendentes.

Gamescom2015 Epistory