Um Chicken Nugget regado de hidromel, acompanhado com javali e castanhas assadas de Gryphon Knight Epic

Eu acho que já joguei shmups de quase todos os géneros e feitios. Desde os avózinhos Galaxian e Galaga a quem dediquei dezenas de horas da minha infância, passando por alguns bullet hells que me fizeram por os nervos em franja. E o que é que quase todos os shmups têm em comum? O setting. A quase totalidade dos jogos do género passam-se em ambientes sci-fi, em que invariavelmente controlamos uma nave que tem de se desviar de inimigos, balas, obstáculos, enquanto tenta destruir tudo o que está no ecrã.

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Gryphon Knight Epic é um shmup diferente. Troca a nave de tecnologia de ponta por um grifo de penas esvoaçantes (chamado Aquila), o piloto com um fato que faria inveja ao Tony Stark por armadura de aço e cota-de-malha, e os phasers e lasers por uma simples besta. O setting medieval é sem dúvida o melhor apelo deste jogo dos brasileiros do estúdio Cyber Rhino Studios. Com um visual retro perfeitamente executado e que serve para nos levar a galope do grifo para outro tempo, o da nossa infância, em que os shoot’em ups eram reis e senhores do mercado.

Asterion

Apesar de gostar imenso da estética do jogo, e de parecer que se ajusta perfeitamente com todo o detalhe e ênfase pormenorizada de cada nível e inimigo, sinto que há algumas resoluções gráficas, especialmente ao nível dos rostos dos personagens humanos que não ficaram tão bem-resolvidos quanto o resto do jogo. É que há ali um pequeno desajuste visual quando as ilustrações são reduzidas para a animação em sprite que as fazem perder integridade visual. Mas isto sou eu a ser picuinhas perante um jogo esteticamente (quase) irrepreensível.

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Gryphon Knight Epic começa pelo fim. Derrotado o vilão, salva (e casada, e copulada) a princesa, é tempo de pendurar a armadura, dizer adeus aos irmãos de armas e começar a vida como senhor feudal num castelo medieval. Mas para Sir Oliver, o protagonista, essa vida pouco interessa. Numa linha de enredo a lembrar o Shrek the Fourth, decide partir à aventura, descobrindo rapidamente que o inimigo que procurava para dar sentido à sua vida estava dentro dele. Dele e todos os seus ex-companheiros, amaldiçoados pelas armas mágicas que empunharam para trazer a paz ao Reino. Resta-lhe encontrar e derrotar os seus antigos amigos para os libertar da possessão demoníaca que estão a sofrer. Curioso? Sim. Apesar do enredo ser bastante “batido”, o tom de humor que os autores imprimiram ao jogo permitem-no ser bastante “fresco”. E parece-me que quiseram dar mais “sabor” a um jogo cujo género se limita, usualmente, a ser apenas uma sequência de níveis sem história.

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Apesar de estarmos perante um shoot’em up com uma boa variedade de armas, há aqui muitos conceitos de Mega Man, na forma como escolhemos quais os níveis a defrontar. Cada nível, à semelhança da grandiosa série da Capcom tem um tema relacionado com o boss final, e usualmente podemos usar as armas recém-adquiridas para ultrapassar todo o caminho até ao confronto. É que como bom shmup que é, Gryphon Knight Epic é muito, muito desafiante, e ainda que possamos controlar se vamos seguir “o carril” para um lado ou para o outro. A diversidade de inimigos e padrões de ataques ajustam-se bem ao jogo, que apesar de ser plenamente retro tem um feel bastante actual. Um shmup em que cavalgamos um grifo? Mais fresco do que isto só se o fresco batesse as asas para nos refrescar numa tarde quente de Verão no Alentejo. Mas isso era pedir muito.