Quando em Fevereiro de 2009 um amigo nos convidou para ir jogar Street Fighter IV para sua casa, feliz porque a encomenda do Amazon tinha chegado no dia de lançamento, eu ri com desdém. Um riso maléfico, daqueles em que os ombros se agitam como se tivessem vida própria, enquanto soltava uma toada maléfica para o ar. Repiquei com sarcasmo:

– Um bocadinho tarde. Eu já tenho o Street Fighter IV desde 1993.

E o pior da frase que vociferei é que era verdade.

SF4

 

Sempre fui um apaixonado por Mortal Kombat (cujo cartucho tinha para Game Boy), pelas muitas horas a jogar (ler “ser sovado”) pelo meu primo mais velho nas máquinas de arcadas e pelo seu Kano completamente devastador. Um dia, numa almoçarada familiar para os lados de Coruche cruzei-me com uma máquina de Street Fighter II e lá fui pedir ao meu avô uma moeda de 20$ para o experimentar. Escolhi o Vega (dizem que não há amor como o primeiro, e o toureiro-lutador permanece até hoje como o meu favorito) e lá fui eu jogar mais um jogo de luta. De relembrar que o género estava a atingir o seu pico de popularidade e de relembrar que à época ninguém controlava a idade de quem jogava nas máquinas. Ali estava eu, num restaurante nos arredores de Coruche, ainda nem oitos anos de idade feitos, e alegremente a jogar Street Fighter II. As proezas do início dos anos 1990.

Mortal Kombat continuou a ser o meu jogo favorito de luta (e ainda é até hoje) mas abriu-se ali uma pequena paixão pelo jogo da Capcom, que só piorou com a compra da caderneta da Panini do SF II Turbo (cuja colecção nunca acabei) e é claro, com a aquisição de um grande jogo para a minha Family Game: Street Fighter IV.

Com os devidos afastamentos, temos de pensar que a definição de bootlegs e hacks não existia para mim, nem para a quase totalidade dos jogadores até há relativamente pouco tempo. Muito longe do tempo da internet, existir um Street Fighter IV para a NES fazia tanto sentido quanto o Street Fighter 2010 que comprei no ano seguinte, e que apesar de toda a estranheza…não é um clone.

512db2182c28a

Street Fighter IV deu-me largas horas de diversão. Com personagens tão únicos quanto Tracy, Bunny, Cliff, Chunfo, Pasta, Stalong e Ranboo. Nem todos os personagens são clones do SF II, e alguns destes, para além dos nomes ridículos, são totalmente inéditos e com move sets novos em comparação com o jogo base de onde este SF IV foi pirateado.

Street Fighter IV foi programado pelos japoneses da Hummer Team, responsáveis por muitos outros jogos de luta hacked que comprámos para as nossas Family Games, noutros tempos em que os produtos pirateados pareciam totalmente legítimos. E adensando a questão filosófica, em alguns aspectos, são totalmente reais.

Por isso, e volto a repetir, eu ignoro a vossa versão especial 0-day de Street Fighter IV para a Xbox 360 ou PS3. Eu tenho Street Fighter IV desde o Natal de 1993, e já jogava ao jogo antes dele ser cool.