Enquanto pensava em todos os jogos medianos que tinha para jogar comecei a traltear “A Hora do Meh” como o Toy cantava o título do seu programa “Na Casa do Toy”.

Já estamos todos a fazê-lo? Boa. Estamos em sintonia e em vibrato exagerado.

Uma das características do Hora do Meh, a célebre (vá, relativamente conhecida) rubrica criada pelo Isaque é a de que devemos “limpar o sebo” aos jogos medianos com recurso ao mesmo objecto. Neste artigo vou utilizar o Toy. Porquê? Porque sim. E porque os dois jogos de que falo são jogos de acção. E o Toy é um homem de acção.

A HOOOOORA DO MEEEEEEEEEH!

Devil’s Third

04-02-2015

A Nintendo e o Tomonobu Itagaki não me podiam ter desiludido mais. Quando vi o anúncio a Devil’s Third pensei: “ora aí está o MadWorld que a Wii U precisava”. Mas não. A loucura, todo o espírito over-the-top de MadWorld e que é tão habitual nas criações de Itagaki não estão presentes. Devil’s Third apresentava-se como algo que não é, quase anunciando uma extravagância irreverente que não possui e apresentando-se como um jogo perfeitamente mediano. Devil’s Third está para os jogos como um amigo (cuja identidade não vou revelar) que anuncia ser inspirado pela extravagância de José Castelo Branco. Ora, eu admiro a postura do JCB, acho-o original e único, e com classe em todo o seu comportamento over-the-top. Devil’s Third é o nosso amigo que anuncia que vai ser “bué irreverente” mas afinal só se quer maquilhar e sentir-se deprimido a um canto. E deprime-nos a nós também.

O protagonista, um estereotipado ex-soldado russo de uma task force não-sei-quê, careca, de óculos escuros, tronco nu cheio de tatuagens e katana às costas (e ocasionalmente bazookas), qual Pedro Abrunhosa se participasse no Jersey Shore. A apresentação original demonstrou uma série de pontos que aparentavam o exagero salutar de No More Heroes. Mas não. Ivan e Devil’s Third são aborrecidos andam na triste corda-bamba entre a seriedade e o over-the-top dos personagens, disparando tiros de mediocridade para o nosso entusiasmo.

A Wii U precisava do seu MadWorld. Devil’s Third é apenas um SadWorld. (pumba, trocadilho em inglês e tudo).

Toy sai do seu carro em andamento, atira-se a Ivan como um jaguar enfurecido e espeta-lhe uma ameijoa na boca. “Chupa”, grita-lhe em fúria, enquanto Devil’s Third sucumbe lentamente a uma intoxicação alimentar.

 

Damascus Gear: Operation Tokyo

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Alguns dos calcanhares de Aquiles que possuo são públicos, e um deles são mechas. Dêem-me mechas de qualquer forma e eu consumo até com ervilhas. Se a Ana Malhoa cantasse em cima de um mecha (ou um exo-esqueleto cibernético, vá) eu era o fã número 1. Assim tenho só alguma repulsa dela e medo de apanhar DSTs à distância.

Lançado para a PS Vita, Damascus Gear: Operation Tokyo foi um jogo que me divertiu imenso…nos primeiros trinta minutos. Depois a repetição e a monotonia de percorrer níveis quase idênticos entre a si, a destruir outros mechas relativamente genéricos matou toda a diversão que estava a ter até então. É que estava genuinamente a divertir-me com as mecânicas muito old school de shooter isométrico e a total costumização do meu mecha, em que o consumo energético das diversas partes tem de ser equilibrado sob risco de não conseguir pô-lo a funcionar.

Talvez Damascus Gear seja divertido, se jogado em pequenas porções de dez minutos e muito ocasionalmente. Jogada hora e meia de seguida como fiz deu-me a impressão de que estava a ser vítima do fordismo. O que é uma pena. Há aqui potencialidade para um jogo de diversão mais alargada no bom ecrã da PS Vita.

Toy sai do helicóptero e encara o mecha principal de Damascus Gear: Operation Tokyo de frente. A sua boca abre-se e um som que destruiria montanhas é emitido pelas suas pregas vocais. Um vibrato inimitável ressoa na mesma frequência que o metal que constitui a armadura do mecha. Juntas quebram-se com a onda sonora, vidro inquebrável racha-se, e o metal abre rachas e qebra. O piloto, lá dentro, encara os olhos da morto, enquanto o som inigualável de uma banshee a reverberar Olhos D’Água liquefaz o seu cérebro.