Sou alguém completamente irrelevante para a indústria, até costumo comprar muito jogo a 1€ e dar 100% para a caridade. A muito poucos jogos tenho dado mais que isso, e faço-o pelos produtores merecerem mesmo o meu apoio. O resto, quero mesmo que morram queimados num inferno semelhante ao de 1983.

Lembrei-me quando estava na casa de banho que há aí uma carrada de coisas que não merecem o nome que têm. Quando há coisas que, mesmo mudando ao longo do tempo, continuam a mesma coisa. Outras, são algo oco sem absolutamente nada de substancial que as caracterize. São como um cigarro de chocolate, um talho vegetariano ou salsichas de tofu. No fundo são coisas que se querem parecer como uma coisa, mas são outra. Podem enganar muita gente mas a mim não me enganam, porque as salsichas vêm da carne de cão e no talho vende-se carne, não ervas! Com jogos e outro tipo de branding acontece o mesmo. Lembro-me há pouco tempo reaparecerem as batatas fritas pála-pála, que… pá, aquilo não vale nada, é uma completa vergonha ao nome.

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Vou fazer um top de coisas que não merecem o nome que têm, assim, para encher o corpo a este texto:

Começo com o óbvio Tomb Raider, mas não é o primeiro. Refiro-me ao remake de 2013 ou seja lá o que aquilo for. Eu até gosto de Uncharted, mas este “Tomb Raider” pareceu-me mais uma tentativa de cópia dos chineses de Uncharted do que uma Lara Croft moderna. Aquela pita parece aquelas da cidade que vão passear ao campo e começam a gritar por tudo e por nada: “Ai arranhei-me nas silvas!”; “Ai credo um gafanhoto… cruz credo é tudo verde!”. Depois de andarem só cinco minutos, já lhes doem os pés. Tomb Raider foi em tempos um jogo que cativava sobretudo pelos obstáculos, pela dificuldade e pelos inúmeros enigmas/puzzles para resolver e ainda tinha aquele carisma próprio. Era um jogo que deliciava quem gostava de uma boa aventura e mistério. Não insultava a inteligência do jogador e ainda fazia o serviço completo.

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Fallout 3

Bem, este daria uma tese ou mais só falando das mecânicas do jogo, não é propriamente o 3º na série, mas foi o que abriu portas para a tendência que a Bethesda Softworks tem tido com as suas franquias. O público original está mais maduro e o mercado maior, há mais carne jovem prestes a ser sacrificada, muita carninha tenra que não sabe o que é um jogo que traz reais obstáculos e desafios.

Não digo que este será o pior jogo nesta lista de franchises que se perderam completamente, mas perdeu muito do que o caracterizou. O que está mais à vista é que passou dum roleplaying game com perspectiva isométrica, para um jogo 3D na primeira pessoa. Tornou-se num shooter com elementos de RPG e a Bethesda espetou-lhe o nome Fallout. Os fãs que o ascenderam a série de culto viram o que era bom na franquia ser descartado ou simplificado. Poderia ter sido diferente, mas isso dá trabalho e consome demasiado tempo – afinal, a marca vende mais que o produto. Em si, o jogo poderia ter transitado muito bem para a 1ª pessoa. É uma evolução natural pois certos limites tecnológicos a que a série se submetia antigamente, são hoje coisa fácil de se resolver, para mais… nos dias de hoje que temos muitos motores de jogo à lá carte. O jogo ficou no sentido literal um simulador de vaguear pelo deserto com quests fúteis e/ou demasiado lineares, ou mesmo desinteressantes. Os atributos tão conhecidos pela série foram simplificados. O sistema de vitalidade (tudo o que engloba dano e HP) foi estupidificado e foi substituído por algo que até poderia ser refrescante, mas ficou para inglês ver. Como o jogo transitou dum RPG com combate por turnos para um FPS em tempo real, tentou manter alguma coisa e criou um sistema de combate slow motion: Este sistema, em vez de se tornar algo complexo e desafiante, é basicamente um cheat tornando tudo mais fácil de abater. Já o modo de combate em tempo real, é meramente o que se pode esperar de um FPS banal.

No entanto, de todos estes aspectos maus, o que mais me irritou foi a pobre escrita do diálogo. O mesmo tem acontecido com a série Elder Scrolls.

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Fico-me por aqui. Em tempo dissecarei este Fallout 3 quando meter as mãos no 4.

Max Payne 3

Eu gostaria de escrever mais, pelo menos mais linhas sobre este jogo, mas vou resumir ao que acaba por ser, na realidade, um shooter de terceira pessoa cheio de clichés com mais acção que história.

A narrativa, essa parece mais uma qualquer escrita por Hollywood, um script indicado para um papel desempenhado por Bruce Willis. Max Payne 3 tornou-se em mais um third person shooter sem alma nenhuma, perdeu a sua assinatura de neo-noir e fez-me perder 12 horas preciosas a ouvir obscenidades em Brasileiro.

Metal Gear Solid V

É verdade que já todos sabíamos que Hideo Kojima queria acabar com a série já desde o segundo jogo da saga Solid mas, penso que agora seja óbvio que puxaram o cordel até ao limite. Desde uma narrativa imperdoavelmente inacabada, passando por mecânicas focadas em “liberdade de gameplay”, claramente desenhadas mais para apelar a idiotas que fazem killcams no YouTube do que a fãs da série, terminando numa estrutura de progresso à qual o melhor elogio que posso dar é que “pelo menos não cheira mal dos pés” – algo que, vá, até temos de admitir que se aplica a muita gente.

Os fãs, esses adoram especular, criar teorias sobre os falhanços da série e, sem dúvida, ainda acham que este jogo se tornou patético de propósito.

Os meus pêsames.

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THAIF (Também conhecido por: Thief)

Este jogo, que saiu em 2014 na onda dos reboots, nem merece a categoria de jogo quanto mais o nome Thief. É bastante mau. A inteligência artificial não se pode caracterizar de pobre, já que é, de facto, inexistente. O protagonista perdeu todo o carisma que tinha. As missões são fáceis e aborrecidas, muito limitadas nos desafios e puzzles feitos para quem tem um QI abaixo do chimpanzé. É uma má história que, por acaso, calha de ser interactiva.

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Uma nota para as editoras que querem fazer reboots: não descartem a base de fãs original das vossas franquias, porque o público novo, e mais jovem, que vos compra estas porcarias não será fiel durante muito tempo. Estes jogos facilmente caiem no esquecimento e tornam-se nulos porque a sua qualidade é descartável. Não estou a pedir que voltem atrás no tempo e façam o mesmo, é algo tão simples como dar mais tempo à produção que assim terão uma obra de qualidade, melhor pensada e que será objecto de culto durante muito mais tempo. Fazendo o contrário, estão apenas a matar uma franquia amada por muitos e a perder apoio do público no processo. Quando se derem conta, já não têm nada para pegar, a não ser voltarem-se para jogos de telemóvel. Aqueles que jogamos 15 minutos no metro ou no autocarro a caminho do trabalho, ou de volta para casa, que facilmente são apagados no telemóvel para dar espaço a outro jogo.

Sustentabilidade é a chave e isso só se consegue com qualidade.