Bom… como alguns sabem a Galinha teve uma pequena capoeira na Lisboa Games Week, onde além de um espaço lounge tinha alguns computadores com jogos indie para os visitantes testarem.

Foram anunciados 5 jogos que durante os quatro dias tiveram disponíveis para teste (uns mais que outros, como a igualdade de todos os animais, mas já vamos às razões disso) que eram:

Punch Club da Lazy Bear Games

Caves of Qud da FreeHold Games

Between me and night da RainDanceLX

Clandestine da Logic Artists

Gunnheim da SIEIDI Ltd.

Eles tiveram uma recepção complicada, foi diferente para todos dependendo de quem lá ia, mas isso é normal.

Primeiro, e sem querer desrespeitar quem trabalha em videojogos em Portugal, mas não entendo o fascínio dos visitantes com a origem do jogo. Gostava de poder cobrar €1 a cada pessoa que me perguntou se os jogos eram portugueses e quando eu dizia que eram produções indie de vários países iam embora. Diziam algo como “Ah… ok…” e iam embora. Tenho certeza que nas bancas da Nintendo ou PlayStation não faziam essa pergunta sobre os jogos que lá estavam.

Eu sei que muita gente vai-me criticar por isto, e volto a dizer, não estou a desrespeitar nem a tirar valor aos developers portugueses que estavam lá ao lado, mas sinceramente, qual é a diferença? Se o jogo é de um estúdio português ou não, é melhor ou pior por isso?  Tem mais qualidade? Quando for lançado vão comprar imediatamente? Não, não vão, porque é um jogo indie. É feito com grande custo para todos os envolvidos e orçamento irrisório comparado com AAA. E até pode sair nas revistas, jornais ou sites portugueses se for lançado em Steam ou na XBox One, mas vão comprar? Duvido seriamente. É bonito apoiar a produção nacional e tal, mas vamos ser sinceros, quem vai à LGW quando chegar altura, entre gastar €70 no FIFA 16 (ou mais com as microtransações incluídas), ou Call of Duty seja lá qual for número que vai, ou dar €12.99 pelo Between me and Night, onde vão gastar o vosso dinheiro?

Between me and the night

Between me and the night

O único jogo português que ia estar no stand, era precisamente o Between me and the Night, que chegou tarde, com falhas e tivemos que tirar porque não funcionava. Tenho pena, mas tenho que ser sincero nisto. Não faço ideia se no Domingo conseguiram colocar uma versão jogável, mas  Sábado não foi possível. Concordem ou não com este desabafo tinha de o fazer. Portanto assim acaba a explicação da recepção do único jogo Português no stand do Rubber: não foi recebido, foi anunciado e procurado, mas falhou e não posso dizer o que acharam dele apenas por isso.

Mas e os outros?

Caves Qud

Caves of Qud

Caves of Qud, não teve uma boa recepção, sendo um jogo altamente retro, do estilo quase todo em texto e com gráficos ali a dar para o Spectrum, era deixado de parte por quase todos os adultos se atreviam a tocar-lhe. Crianças então nem se atreviam a lá chegar. Não é que seja um mau jogo, mas é algo que quem joga nesta geração (jovens ou adultos) já não estão habituados. Aquele sistema é difícil. Acabou por ser retirado por razões técnicas quando foi retirada a internet e tivemos que colocar em todos os computadores o único jogo que não tinha que estar ligado à internet.

Os jogos que mais agradaram a miúdos e graúdos no geral mas mais focado nas camadas mais jovens foram Gunnheim e Clandestine. Ambos possuem um aspecto e jogabilidade mais “modernos” e foram mais do agrado do público que parou naqueles computadores algum tempo.

Gunnheim

Gunnheim

Gunnheim agradou aos visitantes, particularmente nas faixas etárias até aos 12 anos devido à sua acção constante, cores vivas e jogabilidade semelhante a muitos MOBA ou MMORPGs disponíveis no mercado.

Por sua vez Clandestine já agradou mais aos adolescentes, devido à sua vertente táctica e ambiente stealth à lá Assassin’s Creed/Splinter Cell conseguiram elogios e algumas críticas, mas não muitas, por parte do público.

Clandestine

Clandestine

E guardando o melhor para o fim, Punch Club. O referido que não funcionava em internet e a certo ponto corria nos 4 PCs.

Um jogo que eu considero tão bom que tive que o retirar do meu computador até estar de férias tal é o nível de vício que ele dá, foi o que despoletou reacções mais abrangentes. E o mais curioso é que não tinha nada a ver com idades. Quer dizer, em parte. Até achava piada quando muitas das crianças que se sentavam em frente aos PCs que tinham Punch Club a correr automaticamente colocavam a mão esquerda em “WASD” e a mão direita no rato. Como ao mexer o rato ou carregar nas teclas não mexia nada, largavam e iam embora. Tinha piada e custava ao mesmo tempo. Mas não tanto como aqueles que referi antes que nem davam hipótese ao jogo por não ser Português.

Depois havia os outros, os que a medo e com algum desdém tentavam, perguntavam como funcionava e o que era, e depois ficavam fisgados, mordiam o isco e acabava aí, ficavam a jogar, a sorrir com as referências aos anos 80 e 90 e a jogabilidade brilhante.

Posso resumir a reacção a Punch Club em dois exemplos. O primeiro foi ao único adulto que me apeteceu bater na LGW, que ao olhar para a imagem do jogo, parou o filho que se ia sentar e disse “tu não queres jogar este jogo que é para meninas”.

scr_garage

Punch Club

E o melhor exemplo é do Tiago e do amigo dele que não sei o nome (e peço-lhe desculpa por isso). Cada um deles na manhã de sábado sentados nos PCs a testarem o jogo, a competir e dar dicas um ao outro, a dizer aos amigos para jogar os outros jogos do evento porque eles iam ficar ali. Gostaram de tal modo que voltaram à tarde, davam dicas e ajuda a outras pessoas que lá estavam. Não sei se eles vão ler este artigo, mas se sim. Dou-vos os parabéns, jovens como vocês que olham para lá do fácil e básico, que sabem procurar o valor das coisas são raros, nunca percam isso.

Para terminar a minha observação de como é vista a produção indie pelo jogador português? Acho que vai bem de saúde e recomenda-se. Como há gostos para tudo, há produção indie para todos eles, é como outras coisas na internet, se procurarmos o suficiente encontramos algo que nos agrada.

O mercado indie está aí em força, mais cedo ou mais tarde vai estar em todas as consolas assim como nos PC. Pode não ser abrangente a todos os jogadores como os AAA, mas têm um mercado potencial muito grande em Portugal.