Jogos incrementais é o nome do género que eu odeio na mesma proporção em que me vicio. A ideia é simples: clicar ou tocar para ir gerando mais qualquer coisa, com possibilidade de ir adicionando multiplicadores que por sua própria vez podem ser multiplicados. Todos estes jogos deixam em nós o vazio e a sensação de termos perdido o nosso tempo. Nunca mais. Agora existe uma razão para clicar, ou neste caso tocar.

Foi com o simples Candy Box que eu fui apresentado ao viciante e frustrante universo dos clicker games. A partir de dois ou três jogos bem sucedidos, este género explodiu por três razões: 1ª – Extremamente viciantes; 2ª – Muito simples de executar; 3ª – Perfeitos para micro transações. Eu fui agarrado pela primeira das razões e muitas vezes estive tentado a perder-me na terceira.

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Candy Box, Cookie Clicker, e Make it Rain, foram os três jogos do género que me viciaram e deprimiram ao mesmo tempo. Ainda hoje não consigo perceber porque perdi horas a clicar ou a passar o dedo, para um jogo cujo objectivo é infinito – logo não alcançável – horas essas que não vão voltar e que nem sequer foram divertidas. Foram necessárias. Clicker games não é um género de jogos que se jogue por gozo. Joga-se por necessidade, para servir a obsessão humana. Por estas razões que já enumerei, destes três jogos em diante, sempre que vi a palavra clicker num jogo passei a fugir do mesmo como o Diabo foge da cruz (muito depressa e aos esses, não vá a cruz ser mais rápida que um gajo).

Groove Planet é o meu regresso ao género, desta vez sem sentimento de culpa. Antes pelo contrário. Groove Planet é o primeiro “clicker” – ou neste caso um “tapper” – que eu jogo por gozo e não por obsessão. Quer dizer, a obsessão está sempre lá, mas pelo menos esta é divertida. Groove Planet é um clicker igual a tantos outros na teoria, mas com uma diferença muito grande na execução: Groove Planet quer que nós toquemos com o dedo de forma incremental mas seguindo o ritmo da música que estamos a ouvir. O que este jogo faz é falar directamente à área mais primitiva do nosso cérebro, a mesma que nos faz bater o pé quando estamos a ouvir música e associa isso à nossa outra área primitiva, aquela que quer sempre mais.

E é isso mesmo que eu faço quando estou a jogar Groove Planet: tocar com o dedo no ecrã do iPhone ao mesmo tempo que bato o pé ao ritmo do que estou a ouvir. O jogo trás já consigo um conjunto de músicas de dança, perfeitas para esta mecânica, mas aceita qualquer música que esteja presente no nosso dispositivo. Claro que os melhores efeitos conseguem-se com todos os álbuns que tenham Dancefloor ou Mix Party no nome, mas no meu caso foi com faixas de Alter Ego e de Vitalic que este jogo passou a ser o meu novo vício portátil. O jogo analisa a faixa de áudio e é a partir do sincronismo do nosso toque com a mesma que produz os maiores combos e multiplicadores. Resulta com todo o tipo de música mas é obviamente com a electrónica que conseguimos a melhor combinação entre música e jogabilidade. No entanto, nada deve ser posto de parte: pois embora não resulte muito bem com o Let it Go do Frozen, é capaz de dar um certo gozo com o All I Want for Christmas.

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Com um grafismo minimal de um planeta construído em redor de um disco vinil, e recheado de pequenas partículas de fogo de artifício, spotlights, e pequenos seres a dançar ao ritmo da música, este é provalvemente o jogo que finalmente dá algum sentido à nossa obsessão de clicar no rato ou tocar continuadamente num ecrã e que, ao contrário de todos os outros do género, termina sempre com uma sensação de nos temos divertido e descontraído e, principalmente, com a ausência de um sentimento de culpa. É jogar, até que o dedo nos doa.

Grove Planet foi testado num iPhone 6S.