Vou começar 2016 a falar de 2015. Isso nunca é bom sinal. Começar um novo ano ou um novo artigo a falar de algo que se passou. Mas a verdade é que preciso fazer um Mea Culpa. Tem que ser. E como diz o povo: “o que tem que ser – tem muita força!”

Foi mais ou menos em Junho de 2015 que a equipa do Rubber Chicken me deu o The Witcher 3 para eu jogar e fazer a respectiva review. Afinal, eu tornei-me fã de RPG desde que iniciei a minha aventura em Wold of Warcraft há uns anos, e tive o privilégio de assistir ao lançamento do jogo na Fnac.

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Peguei no jogo com entusiasmo e lá o coloquei na minha PS4. Joguei duas horas. Nada. Não senti nada. O jogo não me entusiasmou. Não gostei particularmente de Geralt, de Yennefer, de Ciri, da história…de nada. Senti-me aborrecida de morte. Devo ter bocejado umas 50 vezes só na primeira meia hora. Pensei: “Não vou conseguir jogar isto – é uma seca”. Nunca tinha jogado nenhum dos títulos anteriores, nem lido qualquer livro da saga. Nada. Cheguei “fresquinha” ao universo The Witcher e achei aquilo uma verdadeira SECA.

Antes que me apedrejem e me persigam à porta da minha casa com tochas e forquilhas como gamer herege que aqui me revelo, ouçam (ou melhor, leiam), o meu artigo até ao fim.

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Havia uma razão para me sentir aborrecida com The Witcher: eu tinha acabado de sair de Yharnham. O sangue de Bloodborne e as suas marcas cruéis ainda percorriam as minhas veias. O vício de explorar cada recanto obscuro, de sentir a emoção inebriante pela morte da minha presa, estava demasiado vivo em mim. Estava presa ao Mundo de Bloodborne…e uma criatura apaixonada não consegue sentir paixão por outro amor de forma imediata. A Loba ainda estava no covil soberbamente criado pela From Software.

Pedi desculpa aos meus colegas do Rubber e disse-lhes que não poderia fazer uma análise de The Witcher 3. Qualquer análise que fizesse seria extremamente injusta, pois estaria toldada pelo Amor ao obscuro e sede insaciável do sangue de Yharnham. Não veria The Witcher por aquilo que ele é. Não seria apreciado. Os meus colegas, fantásticos como são, compreenderam e perdoaram a minha falha e a Alexa pôs o jogo de lado.

Chegou o Lisbon Games Week e com ele conheci o Rui Parreira da Bgamer (pessoa fantástica e cujo trabalho admirava). Falei-lhe de The Witcher 3. Disse-lhe como me fez sentir. Muito simplesmente ele disse: “Dá ao jogo uma oportunidade”. Em conversa com o nosso Frederico Lira, onde lhe perguntei qual o jogo que deveria jogar numa altura em que não me apetecia nada de especial, ele igualmente respondeu: “Experimenta o The Witcher 3 – dá-lhe uma nova oportunidade”. Ok . Sou muito teimosa e casmurra….mas tenho bom senso e sei ouvir (pelo menos tento…).

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Há duas semanas, pus o jogo, com algum cepticismo, na consola. Do início. Gravei por cima das quase duas horas que tinha jogado porque queria começar com novos olhos.

Não me custa absolutamente nada dar razão quando acho que os outros têm razão. E aqui, uma vénia ao Frederico Lira e ao Rui Parreira. Tinham razão. Dar uma nova chance a The Witcher foi o melhor que fiz, enquanto gamer, nos últimos tempos.

O jogo é simplesmente Perfeito. É lindo, bem construído, as personagens são complexas, as quests secundárias são tão boas ou melhores que a história principal, o que há para descobrir não acaba, as decisões que tomamos têm peso na história e o jogador quer sempre saber mais e explorar mais. É um manual de como fazer um Excelente RPG sem descurar história, personagens, cenários, jogabilidade, combate e ainda assim manter as características que todos os amantes de RPG procuram: nivelar a sua personagem ao máximo das suas capacidades. Costuma dizer-se que a verdadeira beleza está nos detalhes e até aqui The Witcher mostra que foi feito para os jogadores. Sim – os mapas são sempre um tormento para mim nos RPGs. Aquele cliché que as mulheres não sabem ler mapas? Deve ter sido baseado em mim. Sinto-me sempre uma ignorante geo-espacial a jogar RPGs. Mas em The Witcher 3 não. O mapa é claro, límpido. Podemos perseguir a quest da nossa preferência, assinalá-la no mapa e tão somente segui-la. Assim. Claro como a água. Sem baralhações de um pontinho e uma setinha que se move numa linha no topo do ecrã (sim Skyrim – estou a falar de ti), nem Noroeste, Este, bússolas para a frente e para trás que me fazem sempre sentir que deveria ter-me aplicado nas aulas de geografia.

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Passei a Meia-Noite da passagem de ano à espera de ligar a consola. Foi uma noite perfeita na companhia perfeita, a desfrutar do jogo perfeito.

The Witcher 3 não merece uma segunda chance. The Witcher 3 deve ser sempre a nossa primeira escolha – como aqueles amantes que nunca nos vão desiludir e vão lá estar sempre quando precisamos. Precisa de atenção a todos os detalhes. Merece ser saboreado, disfrutado e apreciado como só um verdadeiro jogo merece ser. Sim, Bloodborne continua a ser a minha escolha para jogo do ano…mas apenas porque nenhum jogo este ano me fez sentir mais como amo ser gamer.

Mas Witcher?! Witcher lembra-me porque continuamos a escrever sobre videojogos mesmo sem sermos pagos. Porque continuamos a dedicar do nosso tempo pessoal a esta arte. Witcher é como um bom vinho…não tem idade, tempo, nem altura certa para saborear. A unica condição que exige é que seja saboreado em exclusivo. Afinal, uma primeira escolha nunca admite ser partilhada.