Eu queria. Há tanta coisa com que apetece simpatizar. AX:EL foi desenvolvido por um micro-estúdio de apenas uma pessoa. Gosto! Apetece-me dar um abraço ao gajo e felicitá-lo por perseguir o seu sonho de fazer jogos, por pegar numa ideia e desenvolvê-la. Por pegar num conceito (que, confesso, me agrada bastante) e construir, linha a linha, um jogo capaz de criar um universo onde esse conceito seja a lei.

AX:EL interessou-me. Sou fã de War Thunder que, gratuito e desenvolvido pela Gaijin Entertainment, nos coloca aos comandos de aviões do tempo da segunda guerra mundial, em batalhas aéreas com um grau variável de realismo e muita acção. Bons gráficos, boa jogabilidade e garantia de um bom bocado passado a jogar aquilo, principalmente com amigos. E AX:EL fez-me lembrar do War Thunder que tenho encostado na minha biblioteca de jogos, à espera que volte aos seus céus (e não só, porque aquilo entretanto evoluiu e há batalhas com tanques, também). A ideia é termos naves capazes de voar pelos céus e de combater também debaixo de água, em batalhas tipo dogfight. SIM! VENHA ELE!!!

Pois. A culpa é minha. Deixei-me entusiasmar. O arranque do jogo começa com o pé esquerdo, mas assumi que não, era só retro-cool, era kitsch.

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Ter aquela introdução a aparecer um caractere de cada vez, em jeito de “all your base are belong to us”, narrando uma história em que um metal se torna a coisa mais valiosa do mundo após uma guerra que quase destruiu o planeta só podia ser propositadamente cheesy, certo? E aquela área fumegante, com gráficos que me fizeram vir imediatamente à cabeça a introdução para o meu adorado Jagged Alliance, só pode ter sido intencional, certo? Uma espécie de uma piscadela de olho em jeito de homenagem a esse grande jogo! Claro. Só pode!

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O menu principal, ainda em jeito retro, não deixa muito à imaginação. Segui direito à opção Play. Três opções, escolho a primeira. “Hub”. Mas… Cringe. O Hub não é para jogar. Não me permite saltar imediatamente para a acção. Não dá para eu ir metralhar inimigos e rir enquanto as suas naves caem em chamas para o raio que os parta. Não. Antes parece ser uma espécie de customização da, ou das naves… mas de uma forma tão indescritivelmente complexa e pouco intuitiva que todo e qualquer gozo que pudesse advir da customização da nossa nave se dilui em poucos frustrantes minutos.

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OK, segunta tentativa… ARENA! YES! É isto! Hmmm… New Battle, New Team Battle, Join Battle. The plot thickens. A primeira opção leva-nos para a criação de um servidor local… contra bots. Então mas…não era isto que eu queria!!! A segunda permite-nos criar um jogo Multiplayer, mas eu não conheço ninguém a jogar isto ainda, vamos tentar o Join Battle. Deve ser isto. TEM QUE SER ISTO! Quero pilotar a nave, mergulhar, matar gente, metralhar os inimigos, vruuum, vrummmm….. ok, um ecrã para eu meter o IP de um servidor. Estamos em 98, certo? Não há um server browser? Não há nada que me permita ligar a servidores já existentes?! Não. Sadface.

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É mais ou menos por esta altura que a frustração se sobrepõe à ânsia de experimentar um jogo que tinha tudo para dar certo. É aqui que se começa a pensar que aquela homenagem ao Jagged Alliance se calhar não é intencionalmente retro-cool, é apenas má. Ultrapassada. E o texto no início deixa de ser kitsch, passa a ser, apenas, parvo. Por fim lá acabamos por experimentar as Mercenary Missions. Um conjunto de 10 missões scriptadas para levarmos a cabo sozinhos. This isn’t what i signed up for. Algo insípidas, colocam-nos de facto aos comandos de uma nave, mas não há grande informação acerca dos controlos ou das potencialidades da nave. Além de uma comunicação via texto que nos aparece no fundo do ecrã, em jeito de um qualquer jogo para browser, somos deixados ali sozinhos a lutar contra um punhado de naves inimigas, num ambiente minimalista. Algumas missões levam-nos a mergulhar, mas o ambiente subaquático não é, de todo, bem conseguido, levando o jogador a deambular um pouco sem rumo através de um ambiente nu, sem sal, sem vida. Torna-se repetitivo, maçador… E a música não ajuda. E dou por mim a pensar “podia estar a jogar outra coisa”. E, de facto, podia.

Eu queria gostar disto, repito. Queria mesmo! Tem algumas boas ideias, tem o romantismo Quixotesco de ter sido feito apenas por um homem, mas não é, de todo, um bom jogo. Não permite passar um bom bocado. E, quando há um War Thunder, embora com um conceito menos original, a fazer as coisas bem feitas, com qualidade, com mestria e gratuito para todos, não consigo, de maneira alguma, recomendar este AX:EL por quase 11€.