Estava eu a passear pelo meu site de referência para jogos retro actualmente (e que me foi introduzido pelo RP da NISA no ano passado) quando me deparei com um jogo retro em destaque na primeira página que me chamou a atenção: “l’Abbaye des Morts – Windows (2010), Linux (2013), ZX Spectrum, Ouya (2014), Amiga (2015)”.

labbayedesmorts

Spectrum? Amiga? 2015? O quê?

Devo admitir que ainda me considero um relativo novato à cena indie. Indie devs e game jams eram coisa que há 3 anos pouco conhecia (obrigado ao Rubber em geral e ao Isaque em particular por me puxarem mais para esse mundo).

O jogo em questão chega-nos pela mão de um indie developer especializado em retro de seu nome Locomalito, com música e arte da capa da autoria de Gryzor87. Ele já teve sucesso suficiente para obter um estatuto de culto e ser convertido para várias plataformas, algumas já tidas como obsoletas – como é o caso do ZX Spectrum, do Commodore Amiga e do Windows.

Versão Spectrum, circa 2014

Ainda se fazem jogos como antigamente.

Neste jogo controlamos Jean Raymond, um monge cátaro que se encontra em fuga de perseguidores católicos durante a violenta Cruzada Albigense no séc. XIII, e que acaba procurando refúgio numa abadia onde rapidamente se apercebe que algo de muito errado se passa. Onde estão os outros monges? Porque é que há morcegos vermelhos com corpos em forma de caveira a voar de um lado para o outro de forma padronizada? Porque é que há pedaços de papel com textos crípticos espalhados pelo chão? Voltar para trás não é uma possibilidade, com aquela multidão lá fora a tentar arrombar a porta, por isso vamos ter de ajudar Jean a descobrir o que aconteceu naquela abadia e, se possível, escapar dali com vida.

 

L’Abbaye des Morts é reminescente de velhinhos jogos de plataformas como Manic Miner e Castlevania, contudo neste jogo não temos um chicote nem outras armas que podemos usar. Jean só tem consigo umas portentosas pernas que pode usar para fazer múltiplas e variadíssimas coisas como correr, saltar e acocorar. Jean é fraco do coração e basta tocarem-lhe uma vez para o matarem de susto. A coisa não está fácil para o Jean.

Como é regra geral num jogo retro, a abadia dos mortos é um local perigoso e desafiante. Para além de saltar e evitar inimigos, também é preciso desvendar os enigmas espalhados ao longo do mapa. O ambiente todo está extremamente bem conseguido, evocando a lugubridade do local, acompanhada pelo medo da perseguição. Os primeiros dois ecrãs do jogo são geniais, porque nos implantam a sensação de urgência permanente, de estarmos a ser perseguidos por um grupo que nos quer linchar, mesmo quando ele já ficou para trás há vários ecrãs. Ao mesmo tempo, ele cria uma sensação neonostálgica, como dejá-vu lúdico de estarmos a jogar pela primeira vez um jogo que parece que já jogamos várias vezes. É um jogo curto, mas memorável.

Aconselho vivamente a experimentarem este e outros jogos criados e disponibilizados por Locomalito na sua página (há um link para a página da primeira vez que o seu nome é mencionado acima). Muitos valem a pena o tempo dispendido. Se quiserem realmente um jogo mais próximo de Castlevania, por exemplo, aconselho o Curse of Issyos. Não nos custa nada ajudar a espalhar a palavra de quem faz jogos com gosto e totalmente grátes!