Post-Scriptum #6

Second Sight

Olá PlayStation. Aqui estou eu novamente para partilhar memórias contigo. Memórias dos anos que passámos juntas. Memórias dos jogos que partilhámos com os amigos de sempre e as minhas irmãs e mãe, tão vitais para mim como o meu próprio coração.

Quando partilhei a minha aventura no mundo de Primal, há umas semanas atrás, perguntei na página de Facebook da Comunidade Gamer Portuguesa, quais os próximos jogos que deveria falar. Muitos foram mencionados, e estão já na minha lista para investigar, jogar e escrever – mas hoje trago-vos uma aventura pela qual já mergulhei muitas horas. Uma aventura que me surpreendeu e que passou muito mas muito despercebida por todos os amantes da PlayStation. Por isso, e porque preciso de tempo para investigar todos os jogos que me foram sugeridos, volto a Second Sight – um jogo que irei olhar pela Segunda vez.

Nesta aventura da Free Radical Designs, developers bem conhecidos pelos seus franchises de Timesplitters e Crysis, chega-nos esta aventura na terceira pessoa para a qual não sei bem definir o género. É um jogo na terceira pessoa – isso sei dizer, à parte disso não sei em que quadro o encaixar. É um shooter, um action/adventure, um suspense/thriller… Porra – é um Jogo, e isso é que importa. Um jogo de 2004, que continua tão original hoje como o foi há 12 anos atrás.

Second Sight (4)

Somos John Vattic, um homem que, à parte do nome, é um total mistério para o jogador e para ele próprio. Iniciamos o jogo a vê-lo a ser arrastado pelos corredores do que parece ser um hospital, uma instalação militar e um laboratório. Não sabemos bem definir o espaço em que estamos – mas sabemos institivamente, que estamos lá contra a nossa vontade. Iniciamos o jogo com a visão na primeira pessoa, nos olhos de John, olhando para um militar que fala connosco ameaçadoramente sem entendermos o que ele diz, a vermos as luzes do tecto do hospital (ou laboratório, ou instalação militar) até sermos abandonados num quarto de paredes de vidro, onde somos deixados como se fossemos um pedaço de lixo humano.

Pouco a pouco, John Vattic começa a regressar ao estado consciente. E com esse estado, apercebe-se que não se recorda de nada. Chama-se John Vattic, mas não sabe onde está, como foi ali parar, quem foi nos anos todos do seu passado. À medida que acorda, naquele capítulo típico de Tutorial que começamos a encontrar nos jogos no início da década de 2000, damo-nos conta que… temos Super-Poderes. Não entendemos como isso aconteceu… que tipo de experiências fizeram com John Vattic que causaram este tipo de mutações? Agora que escrevo sobre isto, dou-me conta que existirá certamente muita inspiração da Banda Desenhada de X-Men para criar John Vattic. Um laboratório militar que realizou experiências em alguém para lhe conceder poderes extra-humanos? Yep – vejo muito Wolverine e Deadpool aqui. Mas não há mal nenhum em inspirarmo-nos em algo bom que já existe se for para criar algo igualmente bom.

Sim – John Vattic tem Super-Poderes. Poderes que vai descobrindo e aperfeiçoando a medida que o jogo avança. Poderes que vamos aprendendo a controlar e a escolher consoante a situação que temos à nossa frente ou consoante o puzzle que temos para resolver.  Ao longo do jogo descobrimos 5 poderes: Telecinésia, Invisiblidade, Controlo Mental, Projecção Astral, e Mental Blast (não sei como traduzir este). Existe um poder extra – o poder de “Healing”, uma vez que não encontramos nada para recuperarmos a nossa vida a não ser nós próprios. Estes poderes não têm uso ilimitado. Temos uma barra de energia que consumimos mais rapidamente se necessitarmos de usar esses poderes. Essa sensação de urgência e inteligência do uso dos nossos poderes, torna cada decisão um desafio de timing e inteligência.

Second Sight (6)

A sensação de percorrermos todo o jogo, explorando e aperfeiçoando habilidades que todos gostaríamos de ter numa altura ou outra da nossa vida, é absolutamente brilhante, refrescante e surpreendente. À medida que vamos sabendo mais de John Vattic, o que aconteceu com ele, descobrimos também níveis em que regressamos ao seu passado militar, em que John não detinha quaisquer poderes e em que percorremos níveis inteiros, derrotando os nossos inimigos com as clássicas armas de fogo: pistolas, metralhadoras e carabinas de Sniper. Admitam – todos adoramos a sensação do bom shoot-em-up num jogo.

Isto proporciona ao jogador um equilíbrio perfeito entre a jogabilidade mais mental, aquela em que decidimos entre que tipo de poderes é mais adequado para o que estamos a tentar fazer, e a jogabilidade mais primária e física, aquela em que disparamos uma arma matando seja quem for que se atravessa no nosso caminho. Este equilíbrio perfeito é também atingido pela equilibrada variedade de níveis com puzzles difíceis de resolver, e problemas intuitivos de ultrapassar.

Second Sight (5)

Com as horas que vamos passando a conhecer John Vattic e o seu passado, encontramos uma história original, uma intriga muito bem conseguida, e, em suma, uma história do melhor que já se escreveu para qualquer plataforma. Os gráficos estão ao melhor do que se fazia em 2004, a banda sonora concede-lhe a tensão necessária, e o voice acting, não sendo excelente, é suficientemente convincente para não nos incomodar. A jogabillidade? Leiam o que escrevi – é do mais original e mais bem conseguido que já joguei até hoje, em qualquer plataforma.

Às vezes acho que sou a única pessoa que conheço e jogou este título na altura em que foi lançado. Cada vez que falo com amigos Gamers, nenhum o jogou na altura em que saiu. Os poucos que o conhecem, jogaram-no na perspectiva de coleccionadores retro gamers. Para mim é uma surpresa. Comprei-o no ano original do seu lançamento, partilhei-o com o meu melhor amigo e com as irmãs como sempre aconteceu em  todas as aventuras da gloriosa PS2. Hoje em dia, Second Sight faz parte da minha colecção e tenho até duas cópias. A razão porque este jogo foi um fracasso de vendas é algo para mim mais misterioso que a própria história de John Vattic. Tal como me ultrapassa como, numa altura em que remakes de filmes invadem os cinemas, não temos remakes de videojogos (não são edições remastered – remakes à séria) a invadirem-nos também, concedendo glória a títulos que, por inúmeras circunstâncias de uma indústria que muitas vezes premeia a mediocridade, não ocupam o seu lugar devido no Olimpo do Sucesso.

Second Sight merece isso mesmo – um Segundo olhar por parte da indústria e dos Jogadores. Merece ser conhecido, falado e acima de tudo… jogado! Tal como John Vattic, precisamos recuperar a memória deste jogo!