Uncharted 4 (3)

Nunca escondi que sou uma absoluta Fã da Naughty Dog. Chamem-me fangirl… bom, chamem-me fanwoman (aos 39 anos, girl já não se aplica), chamem-me o que quiserem, mas sou fã de uma produtora que respeita os seus jogadores, entregando-lhes, jogo a jogo, um produto onde claramente entendemos que temos ali algo feito por pessoas que entregaram toda a sua Paixão e Alma a um projecto.

Sou uma jogadora de Uncharted desde o primeiro capítulo. Comprei Drake’s Fortune em 2008 porque sempre amei Tomb Raider e tinha lido algures que Uncharted seguia a mesma linha de saqueadores de túmulos. Nathan Drake cativou-me desde o primeiro momento. O seu sentido de humor, a resposta rápida para tudo o que lhe diziam, a maneira como brincava com todas as situações e com ele próprio. Era bastante claro que Nathan Drake era uma personagem criada com muito carinho – com um incondicional respeito e até amor pelo jogador que iria pegar nele. E assim, ao longo dos anos, desde o primeiro momento em que conhecemos Nathan junto ao caixão do seu suposto antepassado, fomos acompanhando a vida e aventuras desta personagem que se foi tornando quase real no nosso imaginário.

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A saída de Uncharted 4 foi vivida com muita ansiedade, nervosismo e alguma tristeza. Estava ansiosa e nervosa porque não queria ser desapontada por este último título – não queria ter um último jogo que não merecesse ser último capítulo de uma saga que já faz parte da história dos videojogos. Tristeza porque este Uncharted 4 é… o Fim de um Ladrão. A Naughty Dog já confirmou, não haverá mais Uncharted com Nathan Drake. Depois de um DLC que sairá em breve, com uma história paralela com Nathan (um género de Left Behind em The Last of Us) – não haverá mais Nathan Drake. E isso deixa-me triste.

Tive a incrível sorte de me ter sido entregue o jogo para análise uma semana antes do seu lançamento. No mesmo dia que o recebi, com muito cepticismo, comecei a joga-lo. Já o terminei – simplesmente porque não consegui parar. O que vos posso dizer? Mais importante ainda: como vos posso dizer de forma a que acreditem na imparcialidade da minha palavra? Que acreditem que uma fã pode ser (e sou) muito mais critica do que um “Hater”? Apenas vos posso garantir que tudo o que vos vou dizer é com a mais profunda honestidade (algo presente em tudo o que digo).

Julgo que o mundo inteiro já sabe qual o argumento base para este capítulo. Começamos o jogo com um Nathan Drake já casado com Elena Fisher, retirado da sua vida de aventuras, ganhando a vida como uma espécie de mergulhador a contrato. Nathan vive uma vida pacata, caseira, própria de um homem que se prepara para construir família. Mas rapidamente percebemos que o seu coração anseia por mais – Nathan tem na sua Alma um aventureiro que não consegue estar acorrentado. Também todos sabemos, não é nenhum spoiler, que Nathan reencontra Sam Drake – o irmão que não via há 15 anos. E com a sua chegada, chega também a possibilidade de se encontrar um dos maiores tesouros perdidos do Mundo: r resgate do Navio Gun-sa-way, tomado de assalto por um dos maiores piratas da história: Henry Avery. E porque a vida de Sam depende de se encontrar este tesouro, Nate parte para esta ultima aventura, lado a lado com o seu irmão.

Uncharted 4 (1)

Desde o início entendemos que este é o argumento mais sólido e bem escrito que alguma vez surgiu num jogo desta saga. Ficamos envolvidos, formamos opiniões, criamos as nossas suspeitas e queremos sempre seguir a história para saber onde vai dar. E a história leva-nos a todo o Mundo! Desde a Escócia, a Madagáscar, viajamos com Nate por todo o lado e com ele deliciamo-nos com as magníficas paisagens que vemos. E que paisagens! Não vos consigo dizer quantas mas quantas vezes parei para olhar a paisagem. Ver os detalhes de luz de uma cascata ou o horizonte montanhoso de uma Highland escocesa. Não são meros gráficos bonitos aquilo que estamos a ver: são pequenos postais que a Naughty Dog faz questão de criar para os seus fãs.

Cada zona que exploramos está em perfeita sintonia com a história. Não exploramos um novo cenário apenas por explorar – porque o jogo nos quer dar mais horas e nos faz queimar tempo. Não. Cada zona faz sentido. Está centrada no que está a acontecer e dá-nos informações fundamentais para seguir em frente. Andamos pelos 4 cantos do Mundo porque precisamos de cada pista que lá encontramos para podermos avançar. E, claro, cada pista tem o seu puzzle para resolver.

E mais uma vez, também aqui a Naughty não desilude. Dá-nos os puzzles mais bem desenhados e concebidos de todos os títulos até agora. E os mais difíceis também. Ao contrário da maioria dos puzzles nos títulos anteriores, estes puzzles não são óbvios. Precisamos de consultar muitas vezes o famoso diário de Nate para conseguir resolvê-los. E se vos posso dar um conselho: não pesquisem na net, resolver por nós um puzzle destes é uma experiência fundamental para sentir que somos mesmo Nathan Drake.

Nathan Drake tem agora um novo “gadget” – bom, mais um acessório. Uma corda que lhe permite prender-se a determinados pontos para poder balançar-se, subir, descer e puxar objectos. Uma corda que é absolutamente vital neste capítulo. Um dos melhores detalhes deste jogo – que só por si está a abarrotar de detalhes deliciosos – é ver que a corda, que está sempre na sua cintura, não é um objecto estanque quando Drake corre. A corda abana e mexe-se sempre de acordo com o movimento do seu dono, mesmo sem Drake lhe mexer. Para muitos pode ser um detalhe inútil – para mim, algo que me dá a ilusão que Nate é mais que uma personagem e que me diz que os produtores por trás deste projecto cuidam dele como de um filho.

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Este Uncharted traz-nos também um 4º personagem: o jipe de Nathan. Para mim, os veículos (especialmente o jipe) ganharam o estatuto de Personagem extra neste jogo. Provavelmente, uma das melhores sequências de acção de todo o título, passa-se ao volante deste jipe. E se estivermos atentos, vemos Nate por mudanças e mudar a sua posição corporal cada vez que alterna entre a 1ª e a marcha atrás. E os companheiros que o acompanham reagem à sua condução. Não é fantástico? Este jipe é também essencial para resolver mini-puzzles e atingir determinadas zonas – e mais não digo.

E já que falei em sequências de acção – todas as palavras que encontro para descrever a mestria de ritmo de narrativa de Uncharted 4, me parecem parcas. Tem as sequências de acção mais avassaladoras de sempre nesta saga (provavelmente, de todos os jogos do género que já joguei) e consegue intercalar estes momentos com capítulos de diálogo, de desenvolvimento de cada uma das personagens, da relação entre elas, de uma forma exímia. Nunca, em momento algum o jogador pensará: “Que seca – lá estamos nós outra vez”. E também não pensará: “Mais tiros… Oh f… se”. Não. O equilíbrio é perfeito. E se explorarmos todos os diálogos opcionais que temos (muito ao estilo de The Last of Us), as coisas atingem um nível de escrita e envolvência que nunca antes foi feito num produto do género.

Apesar de termos aquelas que considero as melhores sequências de acção de um título deste acção/aventura, em Uncharted 4, a acção é opcional. Depende do estilo do jogador. Pela primeira vez Nathan pode atravessar um nível inteiro sem matar ninguém, ou matando em modo stealth ou ainda entrando com armas em punho e disparando para tudo o que mexa. Nathan não é um assassino contratado – em todos os títulos sempre matou para se defender, mas em Uncharted 4, pela primeira vez, poderemos conceder a Nate maior ou menor “clemência” pelos seus inimigos, adaptando Nathan ao estilo de cada jogador. Tornando Nathan e o jogador que o domina, cada vez mais, um só. Uma nova opção (pelo menos para mim) dá ainda uma dimensão mais frenética a todas as sequências de acção: agora podemos escolher Auto-Target e Nathan aponta sempre directamente para o inimigo que queremos sem termos que andar a brincar com o analógico esquerdo para fixar a mira. Amei esta opção. Para mim tornou a acção mais fluída e real. Muita gente achará que serve para facilitar e é uma espécie de batota: se são uma dessas pessoas  – simplesmente não activem esta opção.

Uncharted 4 (2)

Apenas um detalhe da jogabilidade quase deu comigo em doida e julgo que deveria ter sido melhor resolvida: muitas vezes, quando queremos pressionar o botão “Triangulo” para fazer uma acção (abrir uma porta, prender uma corda, etc), temos que quase estudar o posicionamento geométrico do objecto para o podermos activar. O botão é tão sensível e fugidio, que estamos constantemente à procura do sítio certo para o activar. Isto – irritou-me bastante. Mas… foi um detalhe.

Numa altura em que os jogos em Mundo Aberto estão na moda, Uncharted 4 dá-nos sequências que, não deixando de ser lineares, têm a dimensão de Mundo aberto. Podemos explorar a zona como quisermos. Temos vários caminhos que nos levam ao nosso destino. Um mundo de uma beleza avassaladora para explorar. Uncharted 4 deixa-nos seguir o caminho de Nathan, o explorador que ele sempre foi.

É este o segredo de Uncharted e de todos os produtos da Naughty Dog. Uncharted 4 não tenta ser algo para agradar a todo o tipo de jogadores. Não tenta ser um jogo de acção com elementos de RPG, em que temos um Mundo Aberto e opções que mudam a história. Uncharted não é isso! Uncharted é a história de Nathan Drake, é a história de aventuras que espíritos como o meu sonharam viver desde pequenos.

Por toda a Internet já li os comentários ridículos do costume: “Os gráficos afinal não são tão bons como anunciaram”. Pois não – não são. Para que um jogo desta dimensão possa ser fluído, os gráficos têm que ser menos “realistas”. Mas a todos os que criticam videojogos baseando-se no realismo de um gráfico, sugiro a que saiam mais vezes à rua e joguem menos. Se procuram Excelente gráficos, garanto-vos que a realidade tem os melhores gráficos de sempre. Será que estas pessoas que olham para um jogo a pensar se ele corre em 30 FPS ou 60FPS ou é em HD, 4K etc, repara no tipo de letra em que está impresso um livro? Uma história literária é avaliada por estar escrita em Times New Roman 12 ou Arial 11? Para estas pessoas eu digo: vocês não são jogadores, são impostores da realidade que não conseguem desfrutar nem do produto imaginário nem do Mundo lá fora.

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Também já comecei a ouvir os “Haters” do costume a reagirem ao facto da Gamespot ter dado nota 10 a Uncharted 4. A estes, nem respondo. Joguem. Sintam a dedicação que está em cada frame deste jogo. Observem como os produtores esvaziaram o tanque da sua paixão para darem aos jogadores uma conclusão digna e única de uma das melhores sagas de sempre. Deliciem-se a jogar Crash Bandicoot… vejam como Elena se tornou uma das melhores personagens femininas de todos os videojogos. Sintam como Nathan se despede dos fãs com o mais profundo respeito por quem segue as suas aventuras desde o primeiro capítulo.

Os videojogos não são nada sem os seus fãs e jogadores e, num mundo cada vez mais ganancioso, vemos as produtoras esquecer ao longo dos anos, este pequeno grande detalhe. Mas com este título, a Naughty Dog prova que ainda há quem faça um produto a pensar em quem o joga. Quem lance um jogo feito de pura dedicação e devoção. Quem pense nas suas personagens como algo que faz parte da sua família. Quem vê mais do que lucro. Um jogo feito de detalhes que eu nunca tinha visto (a uma dada altura, numa cutscene, Elena esta a mastigar e a engolir enquanto Nathan mexe no cabelo naturalmente). Um jogo que nos dá um Drake mais real que alguma vez foi visto.

Uncharted 4 é magnífico! É tudo aquilo que os fãs poderiam desejar de um último capítulo e Muito mais! A melhor história e jogabilidade de todos títulos. Uncharted 4 é um jogo perfeito? Não – mas é garantidamente o que temos mais próximo disso nos dias de hoje. Para o tornar perfeito, tirando a pequena quezília técnica que já falei, só bastaria adicionar cut-scenes e capítulos jogáveis na pele de Avery.

E se tudo o que escrevi não expressa o quão bom é este jogo, conto-vos este detalhe:

No dia 7 de Maio casei-me. Chegada a casa depois da cerimónia, a primeira coisa que eu e o meu recente marido fizemos, foi ligar a consola e terminar o jogo – não aguentámos nem mais um segundo sem saber qual seria a conclusão da história. Depois de ver o epílogo digo:

Adeus Nate – sabemos que chegou ao fim a história de um Ladrão! Resta-nos a consolação de termos a certeza que Uncharted 4 garantiu o nascimento de uma Lenda.