Perdidos e Machados #14

Bem-vindos de volta meus queridos alunos. Eu acho que nunca vos disse isto mas gosto bastante destas nossas aulas, e dos temas que aqui são expostos. Hoje vamos para o espaço, mais uma vez. Eu adoro o espaço, a ideia de exploração infinita, as possibilidades, o desconhecido…

Caro colega,

No início da minha carreira de docente tinha aquilo que é chamado hoje um guilty pleasure. Sempre fui fã de videojogos apesar de raramente o assumir perante o corpo docente da escola onde lecciono, por vergonha do que os outros colegas possam dizer mas é algo que não dispenso nas horas vagas. Infelizmente, cada vez há menos tempo disponível para jogar, mas continua a ser um ponto de conexão com os meus alunos que ficam sempre surpreendidos que eu goste de jogar. “A stôra joga Dota?” é algo que oiço várias vezes.

A questão que lhe coloco é que no outro dia, numa aula em que estávamos a falar de estilos cyberpunk e distopias literárias queria dar um exemplo de um jogo do início dos anos 90, no qual o havia uma floresta num planeta distante, e uns extraterrestres roxos ou azuis, como umas bolhas que se transformavam em humanóides. Parecia o Prince of Persia original mas com melhor imagem.

Att.

M.L.B.

Um pedido de uma colega, como recusar?

Primeiro que tudo caríssima, nunca deve ter vergonha de jogar. Talvez há uns anos fosse mal recebida, e hoje também mas a massificação dos jogos em várias plataformas permite que a sociedade nos veja com outros olhos, um pouco como tatuagens são mais aceites. E além disso, vergonha é para quem rouba e é apanhado.

Podiam existir mais jogos que colocam o jogador numa floresta com extraterrestres, mas parecido com o Prince of Persia só me lembro de um, e não tenho dúvidas que será esse.

Flashback da Delphine Software, editado em 1992 pela U.S. Gold e a Sunsoft. Foi lançado originalmente para Amiga, mas depois também para Mega Drive, SNES e MS-DOS.

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Flashback é um jogo de plataformas futurista no qual o personagem se encontra sem memórias numa floresta de Titã, uma das luas de Saturno. O jogador era obrigado a percorrer vários cenários quase num ambiente metroidvania para descobrir a sua identidade e salvar o planeta dos extraterrestres que querem eliminar a raça humana que o habita.

Algumas particularidades interessantes neste título é que, assim como a colega referiu, utilizava gráficos como Prince of Persia e Another World também produzido pela Delphine. A técnica em questão é a rotoscopia e é a mesma utilizada para os desenhos animados no qual o artista fazia os desenhos para criar a ilusão de movimento.

Os cenários também foram desenhados manualmente.

Estranhamente avançado para o seu tempo, a fluidez da acção e gráficos, a história e jogabilidade no geral conseguiram que tivesse entrado no Guiness World Book of Records como o jogo francês mais vendido no mundo. Seguido apenas por Fade to Black a sua sequela.

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Este foi um avanço na história e na jogabilidade passando todo o mundo para 3D, no meu ver perdeu parte do encanto do original mas não se pode ter tudo. Em 2013 também foi feito uma nova versão que tentou copiar e actualizar ao máximo o Flashback original, contudo não lhe chega aos calcanhares.

Fade to Black

Espero ter ajudado a colega com este assunto para as aulas.

Numa nota adicional que os seus alunos podem gostar de saber, o livro de recordes da Guiness foi criado pela marca de cerveja irlandesa Guiness e oferecido a todos os pubs a quem a forneciam. A razão foi porque descobriram que grande parte das lutas de bares era iniciada por discussões de “quem fez mais, quem era o maior…” e outros. Oferecendo um livro actualizado em que facilmente pudessem confirmar as afirmações, reduziu-se exponencialmente a violência nos bares.

Até para a semana, vou ali beber um copo.

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