A minha maior questão a escrever esta análise foi para quem a fazer. Algo que os próprios criadores do jogo devem ter andado às cabeçadas nas paredes enquanto o faziam.

Total War Warhammer 5

O facto de o mercado de videojogos ser cada vez maior e mais abrangente permite que qualquer jogo chegue potencialmente a todo e qualquer jogador, seja ele um especialista em jogos, um jogador experiente, alguém que joga de vez em quando ou quem nunca tenha tocado num. E quando se fundem dois franchises com alguns anos como Total War e Warhammer tem que se tentar agradar a Gregos, Troianos e Romanos. Uma tarefa hercúlea que é conseguida aqui. Por eu conhecer bem os universos consigo perceber que este Total War: Warhammer é feito para introduzir novos jogadores às suas mecânicas e história, sejam eles fãs de Warhammer (Gregos) que nunca jogaram Total War (Troianos) ou vice-versa e os que não conhecem nenhum (Romanos).

Posicionamento histórico para iniciantes

Total War é uma série de jogos que consegue combinar estratégia militar por turnos e em tempo real. Os títulos passados cobrem desde o Japão dos Shogun às guerras Napoleónicas passando por Roma Imperial  e Europa Medieval.

Por sua vez Warhammer é um universo de fantasia onde coabitam Humanos, Anões, Orcs, Goblins e outras criaturas, que enche tabuleiros e mesas e outros meios desde 1983, a sua história interna cobre gerações e mundos quase infinitos.

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Total War Warhammer 2

Em Total War: Warhammer existem quatro facções (Empire, Dwarfs, Greenskins e Vampire Counts), e dentro de cada uma delas existem dois lordes. A escolha da facção e do lorde é a primeira grande batalha mental pois cada uma tem os seus próprios objectivos de campanha. Campanha que pode ser curta ou longa (e a curta é só curta de nome).

Provavelmente terão de passar um pouco de tempo com cada uma até se decidirem. Os Dwarfs são preferenciais para quem opta por um jogo mais defensivo focado na lealdade dos seus vizinhos e semelhantes e unidades com capacidade de longo alcance, os mais habituados a outros Total War provavelmente irão escolher os humanos do Empire com o seu exército mais versátil e forte em armas de cerco. Já os que preferem uma abordagem mais frontal e bruta no campo de batalha irão pender para o lado dos Greenskins, e para os que procuram um desafio mais interessante os Vampire Counts que dependem de corrupção vampírica para se poderem mover nos territórios inimigos sem perder soldados que levantaram dos mortos e não têm uma única unidade de longo alcance. Sem contar que com o nosso personagem principal dentro de casa tem as suas próprias particularidades.

Total War Warhammer

Após a selecção de um, o jogo torna-se ainda mais complexo, com um tutorial extenso mas nada aborrecido. Para quem não está familiarizado o objectivo é a de conquista e sobrevivência, seja por comércio e alianças, diplomacia ou guerras, assassinatos ou traições cada decisão pode custar a vida de centenas de plebeus e soldados e no final, todo o jogo. Mas é neste ponto que o jogo é tão próximo de perfeito, a forma como consegue ambientar qualquer jogador novo ou experiente é igual. A primeira missão tutorial é opcional mas as dicas e conselhos durante todo o jogo são óptimas para qualquer tipo de jogador tendo em conta os tipos de unidades diferentes utilizados aqui.

Pesada é a cabeça que usa a coroa.

A guerra nem sempre é feita no campo de batalha e em Total War: Warhammer isso não podia ser mais verdade. Controlar uma das quatro grandes casas não é fácil, é o mesmo que ser um Stark, Lannister, Arryn ou Tyrell. Temos um castelo principal e podemos (devemos) conquistar mais algumas povoações e castelos para mais rendimentos e recursos, existem casas menores que se podem associar ou prestar-nos vassalagem dando apoio às nossas decisões, e temos campeões que podem ter acções individuais que vão de espionagem a sabotagem e assassinatos. Contudo o poder não é grátis nem fácil de guardar. Povoações conquistadas devem ser mantidas e protegidas, os recursos adicionais que delas provêm não pode ser menor que os custos das tropas que as protegem e da manutenção da sua infra-estrutura. Os nossos vassalos podem correr à nossa bandeira quando estamos em batalha dando assim uma inclinação na balança a nosso favor, mas também devem ser protegidos em caso de ataque que nos obriga a uma atenção minuciosa no que diz respeito à gestão das nossas forças. Cada um dos lordes menores tem a sua personalidade, mesmo aí somos obrigados a ter cuidado pois podemos ter em mãos um Bolton ou Frey que não tomando proporções de um casamento vermelho podem retirar o seu apoio deixando-nos numa situação desagradável. E ainda temos as nossas Brienne of Tarth ou Tormund Giantsbane que podemos perder numa missão devido a uma má decisão ou até se um Littlefinger mais esguio conseguir passar as linhas e for bem-sucedido nas suas maquinações. Mas bem utilizados podem servir para enfraquecer a oposição antes de a enfrentarmos.

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Além da gestão interna temos a externa. Quando o objectivo final é dominar e/ou eliminar as outras raças, como vamos prosseguir? Até que ponto o inimigo do meu inimigo é meu amigo? Ou o inimigo do meu inimigo continua ser meu inimigo mas somos inteligentes o suficiente para colocar as nossas diferenças de lado temporariamente enquanto enfrentamos um desafio comum? Será sensato ter um pacto de não-agressão com algumas casas de Dwarfs enquanto preparo a destruição de uma das suas vertentes menores? Porque não ter um acordo comercial com os Greenskins se ambos queremos destruir o Empire? Conquistamos os territórios tomando os castelos um a um ou conquistamos os seus senhores fazendo deles vassalos? Toda a gestão interna e externa, feita por turnos é de uma complexidade imensa se quisermos que ela vá a esse pormenor, se não quisermos podemos simplesmente estar isolados e tentar rebentar quem se aproximar e de vez em quando partir numa expedição de conquista e pilhagem. É uma opção, mas isso é só para os Iron Born e mesmo para eles não funcionou a cem por cento.

Além disso, nunca se sabe quando vão aparecer Whitewalkers.

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É curioso que há uns 10 anos atrás estas referências seriam totalmente perdidas por 91% de quem irá ler este artigo, hoje, talvez 13% não as entenda. Tendo em conta isso, posso dizer que se não quisermos as cenas de nudez e diálogos existenciais, Total War: Warhammer é o melhor simulador de Game of Thrones que alguma vez joguei.

A mão que dita a sentença deve brandir a lâmina.

Até pode ser feita fora a maior parte do tempo, mas é no campo de batalha que se ganha a guerra. E nesse campo Total War: Warhammer é exímio. Nas batalhas tudo tem influência no resultado final, desde as tropas que compõe cada um dos nossos exércitos e como irão ser opostas pelos nossos inimigos (não só em número mas em tipo) até as movimentações e o próprio terreno. Não é só enviar umas centenas de almas para o campo, é lá que temos que provar a nossa fibra, em combate.

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Um batalhão de cavalaria é superior a um de lanceiros ou igual? E frente a um de arqueiros? Um herói com capacidades bem desenvolvidas é mais útil que um batalhão? Mais unidades especiais que sendo mais caras podem obrigar a um exército mais pequeno ou um 20 batalhões de quase literalmente carne para canhão? Devemos avançar com todos ao mesmo tempo ou em vagas? Guardamos a cavalaria para flanquear a batalha na altura certa? O general avança com os seus homens ou fica atrás em segurança?

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As batalhas, ao contrário do modo de gestão, são em tempo real. Podemos posicionar as tropas à nossa vontade antes de tocar o clarim, mas depois os movimentos são imediatos assim como as suas consequências. Avançar com as tropas erradas pode ser catastrófico mesmo que aparentemente estejamos a enviar as nossas tropas mais fortes para uma vitória fácil. A inclinação de terreno pode ser um factor crucial, quem controla uma posição elevada tem mais de metade da vantagem, mas quem consegue esconder parte das suas tropas na floresta conta com o elemento surpresa. Reforços de um aliado próximo (como referido acima) podem mudar os ventos da fortuna e muitas vezes um momento de distracção é suficiente para que a vitória seja custosa o suficiente para não ser apreciada.

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Opinião final:

Até agora não tive problemas técnicos no jogo, todas as imagens são retiradas do jogo enquanto o testava, e não correu no sistema optimizado aconselhado, mas um relativamente mais fraco. Mesmo assim a jogabilidade é fluída e nunca o vi “engasgar-se”. Acabou de sair, infelizmente estamos num estágio que temos que dar algumas falhas como garantidas, mas até agora não vi nada.

As campanhas são longas, e possui um modo multiplayer para quem aprecia essa vertente. A jogabilidade é sólida e variada.

Tendo em conta que já passei algumas horas na última semana com Total War: Warhammer que foi lançado oficialmente hoje 24/05/2016 para PC com o preço de €59.99, e tenciono passar muitas mais nos próximos meses pelo menos, acredito que este jogo vale o seu preço. Para quem não pode adquirir o mesmo, entendo que é financeiramente complicado para muitos, só posso dizer que devem esperar até poderem, mas não devem perder este jogo, especialmente se são fãs de estratégia.

No outro dia algures em Abril, o nosso editor-chefe perguntou-me se eu já tinha algum candidato para GOTY, e que ele já tinha dois. Eu disse que não, hoje posso mudar de resposta, está aqui: