Perdidos e Machados #17
Bom dia alunos. Hoje vamos falar de lutas, outra vez. Há alguns temas que pelos vistos vão ser recorrentes aqui, as civilizações antigas de videojogos acabam por se tornar limitadas em termos de objecto de estudo geral, mas dentro dos seus campos e géneros são bastante abrangentes. Que é positivo.
Como sempre vamos ver um pedido de busca para dar o mote à aula.
Sifu Machado
Sou um adepto de artes marciais e jogos de luta, e gostei imenso de ver a sua aula sobre aquele jogo de luta. Eu já pratiquei vários tipos de artes e de todas prefiro aquelas que se focam em armas. Por isso, por mais que goste de videojogos, sempre os achei irrealistas. Até aqueles que os meus tempos no oriente permitiram conhecer e nunca viram as costas ocidentais.
Tenho dois pedidos para o Sifu, se me permitir:
As artes marciais chinesas são algo que me especializei há algum tempo. O mito delas sempre me agradou e lembro-me de um jogo para Playstation que tinha animais que lutavam. Pode encontrar-me esse jogo, por favor?
Também gostava de saber qual é o melhor jogo de lutas para si?
Obrigado
SC
Ora aqui está alguém que partilha de várias opiniões comigo. Primeiro o seu gosto por jogos de luta e em segundo lugar por artes marciais e armas. Pode parecer estranho mas há algo de belo numa espada ou machado ou até numa faca. Especialmente quando feitas por um mestre ferreiro. Cá entre nós, gostava de poder retirar-me para um lugar no campo, ter uns animais, uma forja e carpintaria onde pudesse passar o resto dos meus dias a fabricar armas artesanais… um sonho apenas…
Voltando à aula, SC coloca uma questão interessante. Não a do jogo dos animais que isso é fácil mas a do melhor jogo de luta. Tirando a primeira questão do caminho, o jogo que procuras é T’ai Fu: Wrath of the Tiger da Dreamworks Interactive e publicado pela Activision em 1999. Onde de acordo com a lenda de que os movimentos do Kung Fu foram inspirados nos de certos animais como Serpente, Grou, Macaco e Tigre controlamos T’ai um tigre que quer aprender as técnicas de todos os mestres, e … Hmmm… Será que foi daqui que tiraram a ideia do Kung Fu Panda?
Num jogo de plataformas 3D o titular T’ai vê-se obrigado a lutar com vários adversários até conseguir chegar ao mestre de um dos clãs. Ao derrotar esse mestre consegue aprender novos movimentos e avançar na história. Apesar de a ideia ser bastante interessante é daqueles jogos que engrossam fileiras que não deviam existir, as de um bom conceito e uma má execução. O seu Kung Fu deixa muito a desejar.
Ao contrário deste puto, que é impressionante.
Quanto à tua outra pergunta, caro SC, que é muito mais interessante, existem grandes jogos de luta, todos eles brilhantes nos seus campos individuais. Eu não posso negar a qualidade do Street Fighter II quando foi lançado e quão bom é, ainda hoje. Mortal Kombat foi uma inovação assim como Virtua Fighter para não falar de um dos melhores e talvez menos apreciados: Soul Calibur na Dreamcast. Contudo nenhum deles é o melhor para mim. E apesar de parecer que estou a fugir à questão não tenho um melhor jogo de luta. Tenho três, cada um deles é perfeito em algo específico. Como ainda temos algum tempo na aula, passo a explicar.
Dead or Alive Dimensions
Um jogo que ganha muito com o 3D. Os cenários são fantásticos
Uso este apenas como exemplo pois foi o último que joguei tendo começado no 2 na Dreamcast. Eu adoro a série de jogos DoA, e não é pelas razões óbvias. Vai soar um pouco como aquela malta que justificava a compra das Playboy porque gostava de ler os artigos e entrevistas, mas eu gosto de DoA mesmo pela reprodução de um aspecto nas lutas, o do contragolpe. É um facto conhecido que um dos meus maiores ídolos é o Bruce Lee, e algo que ele ensinava no Jeet Kun Do (arte marcial criada por ele que combinava várias numa só) era que a melhor maneira de evitar um golpe era não estando onde ele ia atingir. Por exemplo, do Tai Chi, ele aprendeu que se pode utilizar o golpe do adversário contra ele. DoA com o seu sistema aparentemente básico de pedra-tesoura-papel, especificamente Strike-Counter-Hold, consegue reproduzir essa componente perfeitamente. O nosso adversário pode desviar o nosso soco para um contragolpe e nós podemos ainda virar esse contragolpe para um lançamento, algo que mais nenhum jogo consegue fazer. Este momento faz de DoA para mim um dos melhores jogos de luta de sempre.
Apesar disso é um jogo completamente irreal. Algo que nunca me agradou em jogos de luta foi a barra de energia. Mesmo sendo uma simulação é irreal (e acredito que era isso a que SC se referia). Há dois tipos de luta, por pontos ou pela vida. E há dois jogos que respeitam isso.
Fighters Destiny
Tinha um espanhol chamado Leon e um palhaço francês chamado Pierre. Melhores personagens de sempre
Um jogo de 1998 lançado para a N64 é um caso raro. Não era muito bom, numa arena 3D poligonal nove lutadores tentavam ganhar o título de melhor lutador do mundo. Cada um utilizava as suas técnicas; o lutador do Japão era praticante de Karate, o Americano era Wrestler, A Chinesa utilizava Kung Fu e por aí em diante. Nada de original neste mundo tirando que a parte que as lutas eram feitas por pontos. Sim, existia uma barra de energia e se conseguíssemos bater no nosso adversário até a esgotar ganhávamos três pontos. Mas também podíamos dar-lhe um K.O. instantâneo com um primeiro golpe bem assente que valia 5 pontos. Não era fácil, acreditem. Um Ring-out era um ponto, e atirar o adversário ao chão valia dois. O primeiro a chegar a 7 pontos ganhava.
Pode parecer parvo mas é muito mais próximo do sistema de lutas de competição do que os outros jogos. Saiu uma sequela mas nunca comprei. Portanto não sei se era melhor ou pior, mas este é dos melhores.
Bushido Blade
Em nome da lua… vou castigar-te!
No extremo oposto dos combates de torneio estão os combates reais, aqueles em que um erro, uma falha implicam perder a vida. Isso só encontro em Bushido Blade. Um jogo passado no Japão senhorial em que não existem barras de energia, pontos ou limites de tempo. Aqui os golpes são desferidos com intenção letal e o seu resultado será mesmo a morte. Bushido Blade feito pela Light Weight para a Playstation era brilhante não só pela realidade das lutas, um golpe no braço ou perna podia deixar-nos incapacitados mas um no peito ou cabeça era garantido que acabava a luta (algo que Soul Calibur podia aprender) mas também pelo código de honra, atacar um adversário pelas costas, atirar areia para os seu olhos e outros comportamentos indignos forçavam a derrota do jogador.
É por isso que eu não tenho um jogo de luta, mas três. É impossível combinar as características que mais gosto de cada um num só mas é possível que eles se adaptem para ser melhores, que absorvam o que é útil e fluam até a sua melhor forma.
Nota adicional: A aula de hoje foi um pouco mais longa porque para a semana dia 16 de Junho não há aula pois o Professor Machado estará ausente numa competição de tiro. As aulas regressam a 23 de Junho.
