À medida que os anos vão passando e em que o conhecimento sobre os videojogos são mais profundos, em que passámos centenas ou milhares de horas ao longo de décadas em torno deste meio do qual tanto gostamos. No meu caso, e pelo profundo conhecimento pelo catálogo da Nintendo (não é por acaso que passei grande parte dos meus dez anos de jogador a jogar maioritariamente consolas da gigante nipónica) é normal que já tenha jogado praticamente todos os jogos de cada uma das suas franquias mais emblemáticas. Kirby, que já referi várias vezes como sendo o meu personagem favorito da Nintendo, é um dos exemplos em que joguei todos, e repito, todos os jogos da série principal e spinoffs.

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Se há série afecta à Nintendo que mais lançamentos tem tido é mesmo Kirby. Ainda há dois anos a 3Ds recebeu Triple Deluxe e o ano passado a Wii U recebeu The Rainbow Curse, e mais um lançamento poderia assemelhar-se a um esgotar da fórmula do simpático personagem desenvolvido pelo estúdio HAL Laboratory, mas Planet Robobot vem provar-nos o contrário.

Enquanto fã e conhecedor da série e da franquia, a minha primeira reticência prendia-se com o setting e o tom implementado neste novo jogo e a decisão de colocar uma raça alienígena como inimiga do Kirby. E a minha dúvida quanto a esta decisão prendia-se unicamente com o habitual tom e ambiente mais familiar de Kirby, mais orgânico, quase floral, que habitualmente transparece em todos os jogos. Conseguir adaptar robots a todo este clima de “fofura” era uma tarefa difícil, mas, como comprovado logo nos primeiros minutos de jogo, altamente ultrapassado.

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Começamos então esta nova iteração de Kirby a ver dois dos inimigos clássicos – King Deedee e Meta Knight – a serem destruídos por uma gigantesca nova chamada Access Ark. Compete-nos conseguir deflectir a invasão ao nosso planeta levado a capa pelo vilão, o Presidente Haltmann e os seus servos robóticos.

Planet Robobot é formulaico como todos os jogos da série-mãe de Kirby são. E será que depois de tantos e tantos jogos isto é um problema? Não, de todo. A fórmula testada e repetida funciona na perfeição, tornando-se uma das séries mais abrangentes ao nível de abrangência de faixa etária. O level design de Kirby continua na mesma simplicidade e qualidade de fácil entrada como sempre foi apanágio. E a adição trazida e promovida neste Planet Robobot acabou por trazer uma nova dimensão que alegra até os mais antigos fãs: a possibilidade de Kirby controlar um robot.

Mas este robot que utilizamos não é um veículo comum, mas possui as capacidades de cópia de habilidades do próprio Kirby. Através do scanning de alguns inimigos, o nosso robot muda de aspecto e ganha habilidades e movimentos correspondentes, tal e qual acontece de forma recorrente com o protagonista.

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O segundo problema que encontrei em Planet Robobot, ultrapassado que estava o cepticismo com o setting, era a dualidade acesso versus facilitismo. Não que Planet Robobot seja longo, mas consegui passar a história principal numa assentada entre duas a três horas de jogo, com quase completionist dos cubos bónus de cada nível. E é aqui que reside a minha única dúvida pós-experiência do jogo: será este Planet Robobot excessivamente fácil ou será que é a minha profunda experiência com a série a vir ao de cima?

Algo frequente nos jogos de Kirby é a necessidade de repetirmos alguns níveis para conseguir obter todos os objectos bónus. Mas estranhamente em Planet Robobot, como referi, consegui fazê-lo quase sempre à primeira. Ter jogado todos os anteriores jogos fez-me conseguir antever quais as decisões de level design dos criadores, prevendo quase sempre o que fazer ou o que esperar no ecrã seguinte para conseguir encontrar todos os bónus. Senti que conhecer todos os jogos de Kirby tornou a experiência estupendamente mais fácil, mas não menos divertida por isso.

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Se considero que o level design continua a ser exímio e um brilhante exemplo de como conceber um jogo de plataformas bidimensionais, foram as decisões de game design nas boss battles que realmente brilharam em Planet Robobot. A forma como se mesclaram alguns vilões clássicos com a componente robótica e a forma como isso influenciou as mecânicas de batalha, resultaram numa das melhores experiências de Kirby até à data.

A possibilidade de pensar o level design num ambiente de 2,5D, em que alternamos entre planos como em Triple Deluxe, aliado ao modo de história alternativo desbloqueado após resolvermos a main story pela primeira vez, adicionado à component multiplayer com Download Play e a interactividade com Amiibos (que dão poderes especiais a Kirby) tornam a rejogabilidade e a experiência de Kirby: Planet Robobot algo obrigatório para todos os fãs de plataformas e possuidores de 3DS de todas as idades.

E claro, não esquecer a busca pelo completionism total com todos os autocolantes espalhados pelos níveis, que servem para decorar o nosso robot, que são uma verdadeira prenda para obsessivos-compulsivos.

O melhor: Excelente game e level design, a implementação do robot trouxe uma nova abordagem à série.

O pior: Permanece a dúvida se o jogo será excessivamente fácil?

Numa consola que possui os melhores e mais bem cotados platformers contemporâneos, Kirby: Planet Robobot vem adicionar mais um excelente jogo do género à consola portátil. Apesar da série do estúdio HAL Laboratory parecer excessivamente presente nos últimos anos, a realidade é que a fasquia de qualidade deste Planet Robobot apresenta-se como uma das melhores iterações do simpático protagonista cor-de-rosa da Nintendo.