Dia 14 de Junho de 2016. São 22h39. Hoje foi o dia em que Portugal se estreou no Campeonato Europeu de futebol. Estreou-se contra a Islândia e empatou 1-1. Como fã de futebol, deveria estar minimamente entusiasmada pela estreia de Portugal e preocupada com este empate e a inevitável epopeia da matemática da nossa seleccção na primeira fase de cada competição deste nível.

Mas apesar de dedicar um parágrafo inteiro a este tema, isto não me interessa minimamente.

São 22h50 agora, e acabei de ver (pela 3ª vez hoje) a apresentação de God of War na conferência da Sony Entertainment na E3 2016. Vi pela 3ª vez toda a apresentação,(que inclui a actuação completa da fantástica orquestra), e parece-me que será a 3ª de muitas vezes que ainda a irei ver. A primeira vez que vi, senti arrepios, desde que a orquestra inicia os primeiros acordes de uma música de tom épico que me fez pensar imediatamente (ainda sem o saber): “Isto é God of War”… e as imagens começam…e uma criança brinca…..e uma voz chama: “Boy”…. aquela voz… Kratos (será mesmo Kratos?)…

Estou a escrever com a sensação que não vai servir de nada este artigo. Que ninguém vai querer ler este chorrilho de palavras que estou a tentar organizar num discurso mais ou menos coerente. Não há palavras possíveis que possam descrever as micro-emoções que se processam a nível corporal e sensitivo, no nosso consciente e inconsciente, quando algo nos leva a este tipo de hipnose magnética por algo que não conseguimos racionalizar nem explicar.

Quem me conhece sabe que God of War é a minha saga favorita de todos os tempos. Se The Last of Us é claramente o jogo da minha vida, God of War é a epopeia à qual irei regressar e reviver enquanto jogadora, até morrer. Se Ellie será para sempre a filha que nunca terei, Kratos é a parte de mim que liberto no espaço privado que vivo com a minha  consola. De forma brincalhona, a Maria João da nossa equipa Rubber Chicken, dizia nas nossas conversas que, para mim, a resposta para tudo era: Kratos. Sim… Kratos é a resposta que guardo para mim nos momentos em que só um jogo (por incrivel que pareça para a maioria das pessoas) nos devolve a sanidade que pensamos estar à beira de perder.

Nunca vou esquecer o momento que, em 2005, coloquei o primeiro jogo God of War na PS2. No momento em que “Vengeful Spartan”, o tema de abertura, arranca, com a cara de Kratos a ocupar metade do ecrã, senti que iria iniciar uma viagem que certamente me iria mudar enquanto jogadora. “Vengeful Spartan” arrepiou-me e no momento em que pressionei Start, e vi um homem a atirar-se de um precipício, para aquilo que seria a sua morte certa, senti a Alexa jogadora renascer como há muito não acontecia. Desde esse momento, esperei por cada título de God of War como uma criança espera por aquele presente de Natal que pediu o ano inteiro.

Este Trailer/Gameplay que a Sony Entertainment nos mostrou é simplesmente fantástico. A orquestra que o acompanhou soberba. Esta personagem que nos faz pensar que é Kratos tem um machado que nos transporta para as devastadoras armas Viking, existe uma criança que procura aprender com ele, existe evolução, exploração e o sistema de luta mais cru e puro que já vimos até hoje nesta saga. Existe também um “tom” de emoção que nunca tínhamos visto no mundo de Kratos. Algo que me fez pensar em Joel e Ellie e as subtilezas inesquecíveis entre ambos.  A um dado momento, o guerreiro de corpo marcado a vermelho e branco, levanta a mão para afagar e consolar a criança…mas em vez disso pega na faca que ainda está no corpo morto do veado. É um gesto tão ténue…tão subtil…e ao mesmo tempo tão evidente e marcante. Diz tanto ao dizer tão pouco. E assim, a olhar para a paisagem, com um dragão que voa no horizonte, vemos as mais simples palavras surgirem no ecrã: God of War.

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Em vez de continuar a ver a conferência da Sony Entertainment – movo o cursor do meu PC para trás e começo de novo. Quero ouvir a música novamente e quero voltar ao que senti. Quero ver todos os pormenores e imaginar o que está a acontecer. No final de God of War III, vemos Kratos finalmente matar Zeus e obter a vingança que tanto ambicionou. Essa vingança trouxe-lhe o gosto amargo do vazio antes preenchido pelo ódio, do mundo que destruiu, e sem mais nada por que lutar, Kratos – o guerreiro espartano que vendeu a sua alma em troca da invencibilidade no campo de batalha – consuma a derradeira vingança: a vingança contra si próprio. Suicida-se.

Então… quem é este agora? Será este título uma prequela? Um reboot absoluto como Tomb Raider de 2012? Um universo paralelo? Veremos a história de Kratos em criança ou estaremos desta vez a dar vida, e a viver, a mitologia nórdica?

A resposta para cada uma destas perguntas pode esperar. Por agora quero saborear o momento que vivi…que valeu, para mim, toda a E3 2016. Provavelmente terei que esperar um ano para o poder jogar. Não faz mal – apenas quero que a espera valha a antecipação que agora sinto.

E enquanto tento encontrar uma forma de terminar este artigo, tento também encontrar um título que exprima o que nele procuro com muito esforço transmitir a quem o possa ler. Um título que transmita o que significa para mim esta Paixão por videojogos, esta Vida que se acende com a orquestra que toca e a ansiedade por iniciar uma nova aventura. Não adianta… não existe título. Tal como o próprio jogo, sem numerações ou subtítulos, este artigo chamar-se-á simplesmente: God of War.

P.S.: Last Guardian… finalmente, depois de 5 anos e uns quantos mais a antecipar mais um título da Team Ico, estaremos juntos em Outubro

P.S.S.: “Dear Konami, Fuck You”!!!

Ass: Hideo Kojima