A Hora do Meh #8

Se alguém vos perguntasse qual o nome da arte marcial saberiam responder? (não isto não é um exercício tipo  “E se fosse consigo?”) A resposta a tão simples pergunta é “jogo do pau” o que para alguns pode soar a coisa que passava apenas no canal 18, mas não é. É na realidade uma forma de luta galaico-portuguesa e que se especializou no combate com um pau, que por diversas razões históricas era um instrumento de fácil acesso nas zonas rurais.

jogo-do-pau-portugês-e1361914219872-1024x491

Há muito tempo que não olhávamos para o relógio e não era a Hora do Meh. Mas está na altura de punir três jogos medianos com recurso a uma forma violenta, e desta vez, visto que está a decorrer o Europeu e o Dia de Portugal foi há 1 semana, vamos recorrer ao “jogo do pau”.

Venham connosco, vai haver luta.

OmniBus e o antigo 49 para Chelas

Para além de gostar muito de Kirby, de devorar aventuras-gráficas e de ter alguma perplexidade com alguns dos nossos ‘tubers, uma característica curiosa minha é que completei o Ensino Secundário em Chelas, numa escola que neste momento já não existe para alguma tristeza minha. O que é que isto tem a ver com este artigo? Pouco. Mas também depois de alguns minutos a jogar OmniBus deixaram-me na dúvida sobre o que raio estava a fazer com o meu tempo.

3c346f75c237c5c3ad1805e4ae15a33e-650-80

O Surrealismo é possivelmente o último grande movimento artístico cujas concepções artísticas e literárias me são apelativas. A sensação do irreal ou do imaginário, trazido por visões oníricas da vida são, regra-geral, expressões não-convencionais com resultados interessantes. Por outro lado, OmniBus, do estúdio Buddy Copa LLD e publicado pela Devolver induziu-me em erro ao passar-me a ideia de que era um jogo de alguma forma Surrealista. Afinal é apenas parvo.

OmniBus assemelha-se a um protótipo curioso em que a física quase non-sense tomam as rédeas de todo o jogo. Um autocarro que anda sempre em frente e que só conseguimos controlar para mudar a direcção e que choca contra uns bumpers de pinball, enquanto percorremos uma plataforma nos céus a tentar destruir um número definido de urnas gregas, e evitamos cair para o vazio. Uma ideia engraçada, mas cuja bizarria da física e a diversão se esgotam em poucos minutos. E isto não sou só eu a dizer, é que o meu filho com 3 anos largou o comando passados uns 5 minutos.

aoUBVV

O autocarro de OmniBus faz mira para mim como um touro enraivecido na vontade de me passar a ferro, mas no último instante desvio-me, pego no pau e desfiro um golpe certeiro na roda da frente, destruindo o eixo da direcção e fazendo o autocarro precipitar-se no final da plataforma.

MechoEcho e a construção do Magalhães

MechoEcho é mais um conceito estranho, que para alguma tristeza minha é tão aborrecido que dei por mim a querer ouvir o Best Of de Homílias de D. José Policarpo enquanto o jogava.

MechoEcho-ScreenShot-102

O conceito é interessante: neste puzzle game temos de construir e conduzir máquinas para ultrapassar os obstáculos que cada nível nos apresenta. O enredo, apesar de existente, acaba por ser relegado para segundo plano perante as mecânicas e o game design subjacentes, que estão, refira-se, muito bem desenvolvidos.

O gigantesco problema deste construtor de robots é que toda a atmosfera acaba por ser mediana comparada com a intenção do jogo em criar um significado e uma linguagem que sustente toda a componente de jogabilidade. E rapidamente nos fartamos de um jogo que tinha tudo para ser um bom jogo, está aprimoradamente bem-executado mas que nos aborrece de morte passado pouco tempo.

MechoEcho-ScreenShot-138

Enquanto dormia uma sesta, MechoEcho aproxima-se de mim de forma sorrateira, com um robot bípede a tentar esgueirar-se pelas minhas costas. De pau não mão rodo sobre mim mesmo e destruo uma das patas com uma paulada, e enquanto o robot cai no chão destruo-o com ataques de bastão até tirar farpas da madeira.

Kick & Fennick & genérico ou de marca

Deveria existir uma espécie de Cobradores do Fraque para developers com jogos bem-desenvolvidos e com conceitos/mecânicas interessantes, mas cujo resultado fica aquém da suas possibilidades e/ou desinteressantes. Os funcionários dessa companhia iriam então a casa dos developers e davam-lhes uns açoites com um pau, para ver se para a próxima já cumpriam as expectativas e as potencialidades.

kick-and-fennick-820x410

Este é o caso de Kick & Fennick, um jogo mecanicamente tão interessante, que perde pelo quão genérica é a construção do seu mundo. O protagonista, Kick, é um rapaz que acorda de um sono criogénico numa cidade futurista deserta. O que rapidamente podemos traduzir por “um rapaz genérico que é um modelo placeholder em 3D louro com um pijama azul acorda numa série de plataformas que emulam uma cidade futurista”. A seguir encontra um robot chamado Fennick para o qual terá de encontrar baterias. E o resto é um bom platformer, utilizando uma mecânica curiosa de propulsão com um canhão que Kick possui na mão, e que substitui a sua incapacidade para saltar.

maxresdefault

E é aqui o ónus do problema: Kick & Fennick é interessante, é um platformer com uma ideia e uma mecânica diferentes, que não sendo inovadora acaba por ser divertida ao longo dos primeiros 6-7 mundos, mas que rapidamente é vítima do quão genérico é todo o embrulho que compõe o jogo. Parece fútil, e talvez seja, mas há diversos factores que contribuem para um jogo ser realmente bom, e este tem-nos quase a todos. Não fosse a desinspirada e genérica direcção artística e Kick & Fennick seria um bom jogo, ao invés de ser apenas…meh.

Kick vem na minha direcção para me rachar a cabeça com o cano da sua espingarda, mas defendo com o meu pau, numa das defesas clássicas do jogo do pau. Empurro-o para longe com um pontapé e abro em dois o robot Fennick com um só golpe vertical. Kick fica a soluçar no chão, a tremer, enquanto atiro a sua espingarda para o abismo. Deixo-o sozinho: já não é uma ameaça.