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Já usei tantas vezes o eufemismo de “imaginem que x e y se cruzam e dão z” que ia fazê-lo para este The Witch and the Hundred Knight, com algo semelhante a “imaginem que o Diablo vai sair à noite e engata um anime, têm um encontro fortuito entre lençóis e nove meses depois nasce um action RPG nipónico”.

Esta Revival Edition é a versão melhorada para PS4 do jogo de 2013/2014 (no Oriente e no Ocidente respectivamente) do jogo da Nippon Ichi Software, The Witch and the Hundred Knight, que não fosse alguns problemas técnicos e bugs resolvidos na sua versão original, e a sua avaliação teria sido bem melhor.

The Witch (encurtado a partir de agora) tem um problema na forma como nos debruçamos sobre ele: é um terço mediano e dois terços bons e/ou muito bons.

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A componente artística de The Witch é soberba. Bebendo de muitas das desproporções estéticas habituais de Disgaea, as ilustrações dos personagens que acompanham as sequências de diálogo têm a qualidade que esperaríamos da NIS, possuindo o que de melhor os artistas e ilustradores do género poderia trazer para um jogo com um ambiente de fantasia nipónica.

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As mecânicas são simples e vibram com a paixão de há alguns anos a esta parte com o hack ‘n slashing. A complexidade do combate recai acima de tudo pela compreensão de algumas estranhas mas interessantes decisões ao nível da forma como as combos acontecem, mas nada que torne demasiado obtusa a jogabilidade. E esta é capaz de ser a única mediania que acompanha o jogo.

Para quem conhece o catálogo da NIS, e conhece a complexidade que muitos dos seus jogos possuem, não é de todo uma surpresa o hábito de esperar decisões menos simplistas para a jogabilidade. O que acaba por acontecer em The Witch é que para além dos elementos de RPG associados, acabamos por cair no monótono e rotineiro grind e button-mashing de 1-2 botões, tornando o combate repetitivo. Ainda mais do que o que o género nos habituou.

E esta monotonia entra em choque directo com o ponto mais importante e relevante de todo o jogo: o enredo. Observado de forma simplista, The Witch and the Hundred Knight parece pautar-se inicialmente por clichés do género, mas uma observação e um avanço maior na história demonstram exactamente o contrário.

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Apesar de controlarmos o “ressuscitado” Hundred Knight em combate, a verdadeira protagonista é a bruxa Metallia. É sobre ela e sobre a sua solidão no mundo que recai todo o enredo. Há uma aura de maldade e de vilão puro nela que é uma total estranheza para um jogo com um aspecto tão “simpático”.

A sua fraqueza de nunca poder sair do pântano impele-a a enviar-nos (o Hundred Knight) a destruir e pilhar as aldeias próximas (e a matar os seus habitantes). À medida que nos vamos afastando do pântano e destruindo as aldeias à nossa volta, alastramo-lo para além dos limites, aumentando assim a esfera de influência, acção e poder de Metallia.

Não fossem este conceito base o suficiente para percebermos o quão cruel e negro é o enredo, que uma série de desenvolvimentos tardios demonstram não só, à semelhança de algo que falávamos há umas semanas, que a vilania ou o heroísmo são questões cinzentas nas concepções actuais, e da complexidade narrativa que esperamos.

Com uma jogabilidade repetitiva que dá apenas o flavour à verdadeira estrela do jogo, o enredo, The Witch and the Hundred Knight: Revival Edition é um jogo interessante que sai ofuscado pelo aborrecimento que o grind lhe imputa. E ofusca, acima de tudo, um dos enredos mais surpreendentemente complexos para quem procura algo para além da camada superficial de um jogo.