Poucas vezes na minha vida senti a necessidade de parar para reflectir. Nunca fui muito boa a parar para pensar. Irónico comportamento vindo de alguém cuja profissão se baseia na auto-reflexão e introspecção. Mas eu sempre fui uma contradição em forma de gente. Ensinar e ajudar alguém a pensar sobre si próprio e sentir efectivamente essa necessidade com frequência, são duas coisas distintas. Sempre fui muito mais, na minha vida, uma pessoa de Acção – uma mulher que age e reflecte tentando equilibrar os instintos do coração (aqueles que gritam sempre mais alto) com os julgamentos racionais do cérebro (aqueles que, ponderadamente, ajudam a seguir o melhor caminho).

Cheguei, pela primeira vez na minha vida, a uma altura em que sinto necessidade de parar. Sinto-me exausta e esgotada. 2016 consumiu-me até ao tutano…e o ano ainda não acabou. Bateu-me e bateu-me e bateu-me e apenas o evento do meu Casamento, através do Amor do marido, trouxe a resistência que eu precisava para continuar a levantar-me. Sempre fui muito resiliente, mas confesso que 2016 pôs todas as minhas capacidades à prova.

Os videojogos, o Rubber Chicken e os pequenos artigos e podcasts que consigo partilhar convosco, foram o combustível com o qual fui alimentando o fogo da luta. Os videojogos sempre foram para mim uma das mais eficazes formas de terapia – um meio para relaxar, um meio para canalizar a raiva e dor, um meio para simplesmente desligar o cérebro, um meio de diversão pura – tudo dependerá do título que escolher para jogar. Escrever sobre videojogos é para mim uma forma fantástica de poder partilhar a minha paixão com pessoas que não conheço.

Recordo agora como comecei a entrar neste mundo da escrita e dos videojogos. Já lá vão mais de 10 anos. Uma jovem de 27 anos decide escrever um email para a Revista Oficial PS2 dizendo que era leitora da revista, psicóloga e adorava videojogos – oferecia portanto os seus serviços à revista apenas pela Paixão de poder falar do que a apaixonava. Pouco mais de uma semana passou e recebi a resposta. Marcaram-me uma reunião com um senhor que eu não conhecia – Rogério Jardim, director da revista. Dirige-me aos escritórios da revista e lá me encontrei com ele. Ao recordar esse momento não posso evitar sorrir embaraçosamente pelo meu excesso de vivacidade e vontade de impressionar. Era tão menina… Não foi preciso muito para perceber que estava perante um dos melhores profissionais da área – um homem extraordinariamente correcto e sério, que queria efectivamente inovar no que na altura se fazia na impressa escrita da área. Delineamos a parceria – teria uma rubrica, quase como consultório (algo que não era bem o que gostava), e dei o melhor que sabia naquela altura. Tive alguns artigos publicados, tentei aprender ao máximo com toda a equipa e principalmente com o Rogério, mas a parceria foi esmorecendo por falta de leitores até que finalmente se apercebeu que não valeria a pena continuar. Não trazia qualquer tipo de vantagem para a revista. Talvez o público fosse demasiado jovem para aquele tipo de artigos, talvez os artigos fossem maus, talvez ambos, talvez coisa nenhuma…. foi a primeira vez que me deparei com o fracasso profissional de algo que tentei alcançar. Mais que a dor da falha, lamentei profundamente pensar que poderia ter desapontado o Rogério – alguém que merecia o melhor de cada um na sua equipa. Parei de escrever nessa altura. Nunca parei de jogar.

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Anos mais tarde, fui convidada para escrever sobre videojogos num blog feminino. Escrevi 3 artigos e saí. Não sou feminista e não consigo identificar-me com o isolamento de género: “isto é só para homens”….”isto é só para mulheres”… Não consigo. O meu cérebro é demasiado “misto” – não aceita isolamento.

Em 2015, conheci o Ricardo Correia e a minha aventura no galinheiro começava. A imprensa escrita mudou muito desde os primeiros passos na reunião com o Rogério. A revista em papel foi praticamente substituída pelo digital, os programas de TV substituídos por canais de Youtube, as redes sociais dominaram todo o mercado. A era em que todos opinam – mesmo quem não tem uma opinião formada. A era em que o sucesso ou qualidade do trabalho é medida por número de likes e comentários.

Sou uma pessoa por natureza muito Positiva. Tento ver o lado melhor em Tudo. As redes sociais permitem-nos partilhar opiniões e iniciar discussões de ideias com pessoas que muito provavelmente não conheceríamos de outra forma. Passarmos horas a falar das nossas aventuras em videojogos, rirmos com as vezes que morremos em determinado jogo, pedir ajuda às comunidades online para nos poderem ajudar com aquele “Boss” que nos está a esgotar… nada disto seria possível sem a era digital e as redes sociais.

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Adoro esta experiência – a experiência de poder partilhar a minha Paixão com outras pessoas. No meio desta partilha, cheguei a descobrir e a conquistar verdadeiros Amigos “virtuais” – pessoas que se tornaram especiais na minha vida ainda que não as conheça pessoalmente.

Tive também a imensa Sorte de conhecer outros excelentes redactores de outras publicações online, ou editores de canais de Youtube, com os quais aprendi e me enriqueceram enquanto pessoa e jogadora. Rui Parreira, Mike Silva, Rui Pinheiro – digo os vossos nomes publicamente porque não deveremos ter medo ou vergonha de falar das pessoas que admiramos.

Por cada artigo que fui escrevendo tentei aprender mais e descobrir o que poderia fazer melhor. Li todos os comentários que alguma vez foram feitos aos meus artigos e tentei responder a todos.

Não consigo descrever o quão me sinto absolutamente abençoada por cada pessoa que lê algo que escrevo e raramente encontro palavras para poder agradecer aos comentários positivos que me fazem.

Com os comentários negativos faço ainda mais o exercício de ler e aprender com eles – o que posso apreender e fazer melhor?

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Aos comentários que simplesmente tentam destruir e ofender…sem criticar nada em concreto mas criticando tudo – encolho os ombros e continuo. O ódio é um desperdício de energia e apenas posso lamentar por alguém que leva a vida a tentar destruir atrás do conforto do seu teclado sem coragem para enfrentar o mundo lá fora.

Um ano e meio depois da minha transformação em galinha de borracha, dei início juntamente com o marido, a uma série de Podcasts. São tão divertidos de gravar. Cansativos mas divertidos. Sem edição, sem script– só um casal à conversa. Já teimei mais que muito que quero gravar em Inglês. Eu sei – parece muito estúpido, mas no que toca a videojogos, o meu cérebro raciocina primeiramente em Inglês. Isto é muito estúpido ou é só estupido? Em minha defesa devo dizer que na minha vida profissional, passo 9 horas do meu dia a falar e a escrever em inglês pelo que se tornou quase uma primeira língua – em videojogos isso é ainda mais exacerbado. Tanto vou teimar que ainda vou experimentar.

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Penso em todos os planos e projectos que quero concretizar com o Rubber Chicken e não só, projectos em paralelo, e penso como o Ricardo Correia e o João Machado merecem o melhor de mim. Duas pessoas cujo excelente profissionalismo apenas pode ser equiparado à força de carácter. Sinto que não consigo… que me arrasto… que bloqueio e não faço nada. Acho que o meu cérebro está, pela primeira vez que me conheço, a exigir uma pausa. O ano de 2016 está finalmente a mostrar como me atropelou…

Quero fazer Mais do que estou a fazer – Post-Scriptum em texto escrito em português e numa versão vídeo em inglês, Reviews no mesmo formato (português e Inglês), colaborações, entrevistas, desafios – quero fazer mais…mas para isso preciso parar, permitir-me chorar e sentir o que 2016 me fez, para depois poder limpar as lágrimas e continuar.

2016 ainda tem 4 meses inteiros à minha frente – eu ainda posso transformar este ano numa Imensa Vitória!