Máquinas de arcada: um objecto místico para os mais novos, para os mais velhos um assustador dispositivo produzido à base das ondas mentais de Victor Gaspar de de Manuela Ferreira Leite mas com diversão à mistura e menos neo-liberalismo. Assim sendo houve uma série de géneros que vibravam no início da década de 1990 na minha Family Game, mas que brilhavam em todo o esplendor tecnológico e visual nestas máquinas, cujo hardware ultrapassava largamente o que tínhamos domesticamente à nossa disposição. Mas aqui existia apenas um senão: para funcionarem precisavam de engolir umas moedinhas de 20$00 que eram uma circunferências prateadas com um eneágono inscrito, e pouco tempo depois moedas de 50$00, semelhantes às anteriores mais com um diâmetro ligeiramente maior.

Ir a cafés de bairro que possuíssem uma máquina destas era sempre desculpa para ir pedir à família uma moedinha para ir jogar. E essa moeda tinha de ser o mais rentabilizada possível, e toda a habilidade era posta à prova para que o tempo de jogo daquela moeda se prolongasse ao máximo das nossas capacidades. Se há um género que testava a nossa capacidade enquanto jogadores e o equilíbrio do tempo de jogo que uma singela moedinha durava eram sem dúvida os shoot’em ups ou schmups.

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E depois deste momento de pura e desnecessária partamos para o que nos traz aqui hoje: DoDonPachi Resurrection um schmup que apetece jogar numa máquina de arcada daquelas que comem moedas com uma voracidade quase infinita.

Sem me armar aos cucos a fingir que já tinha ouvido falar desta série, tenho de admitir que ler Resurrection junto a um título de uma franquia que me é totalmente nova só me trouxe uma certeza: este é pelo menos o segundo título a ser lançado. Mas graças a essa mui-valiosa ferramenta de pesquisa chamada Wikipedia descobri que este é na realidade o quinto título da série, lançado para arcadas em 2008, e lançado este mês para o Steam.

Já aqui falámos várias vezes de um certo revivalismo do mercado indie para com os schmups, algumas vez com maior ou menor sucesso mas com uma característica comum: todas as abordagens nos querem levar para um género que nasceu e cujo habitat natural é sem sombra de dúvida as máquinas arcadas.

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Tendo esse factor em linha de conta, DoDonPachi Resurrection demonstra-nos a eficácia de manter o pressuposto do jogo, e as linhas directrizes do que conduz à produção de um bom manic shooter/bullet hell, e coloca-nos no seu vertical shooting uma das mais elementares, porém eficazes.

DoDonPachi circunda-nos um pequeno ecrã que rapidamente fica preenchido por projécteis, e onde temos de resvalar literalmente pelos intervalos da chuva para conseguir evitar ser atingidos.

As animações estão ao nível do que nos habituámos e onde a fasquia do magnânimo Metal Slug atirou todo o mercado das arcadas e o regozijo de ver a própria programação a encher a área visível de tantos elementos que cedo julgamos ter os reflexos do Flash ou do Quicksilver.

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Apesar de curto, DoDonPachi Resurrection é um jogo para ser desfrutado como um schmup da sua qualidade: em pequenos tragos, a fazer render ao máximo as moedas de 50$00 que já não fisicamente necessárias mas que servem de “cenoura” à melhoria das habilidades e dos reflexos. E por momentos no ecrã do computador voltar às velhinhas e saudosas máquinas e à verdadeira sensação de desafio que eles carregavam em si, sob o peso da madeira e do cinescópio do CRT.