Ataque dos Clones capicua (#33)

Há mais de 4 anos concorri à equipa do Rubber. Depois de ter tido a confirmação de que tinha sido aceite como redactor aproveitei a oportunidade para conhecer os seus editores na banca do Rubber Chicken na extinta Meo XL Party, hoje Lisboa Games Week. E quando lá cheguei o Rubber, em parceria com a Sony PlayStation, estavam a desenvolver um torneio de um jogo clonado de outro jogo que eu adoro. Falo de PlayStation All-Stars Battle Royale.

playstation-all-stars-battle-royale-everybody

Quando pensamos em clonagem ou hacking ou “ripoffing” (neologismo?) é usual pensarmos automaticamente em pequenos estúdios chineses habituadíssimos em clonar jogos e espetá-los em cartuchos de plástico baratos e coloridos e enviá-los para o mundo todo, mas nem sempre é assim. No caso de PlayStation All-Stars Battle Royale a cópia descarada provem de um dos maiores agentes deste nosso mercado, que só não é mais descarada porque era difícil espetar um nome como Hyper Beat Siblings num jogo.

A linha de pensamento da malta da Santa Monica e da Sony PlayStation deve ter sido simples: perante o gigantesco e tremendo sucesso de Super Smash Bros., replicar a fórmula parecia algo simples e pré-exemplificado. Criar um fighting game crossover de diversas franquias propriedade da Sony para além de alguns jogos de third parties associados às suas consolas. Em teoria a tarefa parecia simples, mas falha num elemento básico onde o sucesso da Nintendo era quase imediato:

A PlayStation não contem um grande número personagens com uma identidade/valor próprio que vendam por si só e que se ajustem a este tipo de abordagem.

Super Smash Bros. inclui no seu gigantesco elenco personagens mais “realistas”. A inclusão de Solid Snake ajusta-se dentro de todo o estilo cartoonizado ou mesmo “abonecado” de grande parte do elenco. E por outro lado ter Mario, Luigi, Yoshi, Donkey King, Kirby, Pikachu e mais dezenas de personagens cuja propriedade intelectual e valor de mercado são tão fortes que juntos tornam aquilo que é um excelente jogo num ainda melhor produto comercial.

playstation-all-stars-battle-royale-17

Dentro da lógica meio divertida de “pancadaria a brincar” que PlayStation All-Stars Battle Royale quis mimetizar da Nintendo, e pensando nos muitos personagens que lhe são propriedade, e a realidade é que pouco há que funcione como um conjunto para além de Crash (que nem foi incluído), Fat Princess, Sly, Ratchet, Clank, Sir Daniel Fortesque, Jax e Daxter. E a lista fica por aqui. A PlayStation sabia que pelas suas limitações teria de encher o restante elenco com personagens cujas franquias são mais fortes do que eles próprios, e cujo nome provavelmente os jogadores mal reconheciam. Cole McGrath, Raiden, Sweet Tooth, Clonel Radec são totais desconhecidos quando falamos dos jogos a que pertencem, respectivamente Infamous, Metal Gear Solid, Twisted Metal e Killzone. E o resultado foi simples: uma cópia a papel químico de SSB mas sem uma ínfima parte do seu charme e daquilo que a série da Nintendo melhor nos traz: diversão quase sem sentido com um elenco de personagens cujo valor individual contribui para o que é possivelmente o melhor crossover de qualquer manifestação cultural. E que nem nomes como Nathan Drake, Kratos e mesmo Big Daddy conseguiram sequer justificar a sua presença desconexa.

ps-all-stars-battle-royale-10

PlayStation All-Stars Battle Royale foi um teste, falhado, de tentar mimetizar o sucesso indiscutível da Nintendo em algumas áreas que são totalmente alheias à PlayStation. E aqui talvez tenha existido um pequeno sinal de desinspiração e de soberba da Sony: há uma distância abismal entre o poder nominal de uma franquia e do peso isolado do seu protagonista. E PlayStation All-Stars Battle Royale é a prova disso.