Há algum tempo que queria criar uma rubrica nova no Rubber.

Sim mais uma, acho que não temos que cheguem e quero mais, mas esta não é minha, ou de alguns membros específicos, é de toda a gente inclusive dos nossos leitores que podem e devem participar quando lhes apetecer.

Depois de debater muito no nome da mesma apresento-vos o PopCorner.

Eu lembro-me de que quando cresci com videojogos havia uma separação, jogos não se misturavam com nada, viviam na sua bolha, mas agora já não. De um jogo de vídeo podemos ter BDs, filmes de animação, filmes live action, romances (aqueles livros cheios de palavras sem desenhos e com uma história), séries de TV e tudo mais. E o contrário também acontece, jogos nascem de tudo e mais alguma coisa e eu adoro isso. Portanto o PopCorner usando o trocadilho de Popcorn, e Pop Corner, vai ser esse cantinho onde os jogos se vão poder misturar com a cultura pop e nós vamos falar sobre eles. Não tem dia nem autor fixo, vai simplesmente acontecer quando acontecer.

Para inaugurar e celebrando o anúncio do regresso de uma das minhas series favoritas de animação faço a pergunta. Porque é que os autores/guionistas não conseguem tratar do tema base com respeito?

Quantas vezes vemos filmes baseados em jogos nos quais apenas o nome é comum? Resident Evil? Alone in the Dark? Até o péssimo Street Fighter que consegue ser filme horrível baseado num jogo que depois dá a luz a um abominável jogo baseado nesse filme? E porque é que muitas vezes quando têm uma óptima licença nas mãos as produtoras não conseguem produzir um jogos minimamente decente?

Há excepções, a maior para mim será tratada no meu próximo artigo, mas a pior é do genial Young Justice e do seu jogo Young Justice: Legacy.

Young Justice é uma serie de animação da Warner Bros. que tentou pegar e reavivar o TimmVerse. Universo de series e filmes de animação da WB/DC de onde saíram as Batman: The Animated Series, Superman: The Animated Series, Justice League, Justice League Unlimited. Anos após estas terminarem e depois de algumas series que fugiram ao estilo destas como Batman The Brave and Bold, apareceu do nada Young Justice, e foi algo completamente inovador no seu mundo.

Young Justice introduziu uma estética, personagens e temáticas completamente diferentes ao habitual por se focar não nos heróis principais da DC Comics como Batman o seu estandarte já quase rasgado de tanto uso, mas sim nos seus sidekicks e alguns personagens criados para a série. Inspirado especialmente nos Teen Titans de George Pérez foca-se nesta equipa de assistentes como agentes principais. Tem as suas falhas e alguns aspectos irritantes para alguns apesar de explicados durante a série como alguns comportamentos de Miss Martian, a sobrinha de J’onn J’onnz o Martian Manhunter ou Ajax como era traduzido nas velhas edições que comprava em miúdo, e mesmo assim consegue no seu geral ter um conteúdo coerente, adulto e muitas vezes mais negro e pesado do que se espera numa série de animação ocidental, mas sem ser apenas pelo choque.

Os problemas destes adolescentes que estão a entrar na idade adulta e se querem afirmar como membros da sociedade (a sua mascarada e na geral) é algo com que todos nós nos podemos identificar, por mais jovens ou não que sejamos quando vemos a série. E em parte é essa a magia de Young Justice, ao não nos mostrar o mundo habitual do invulnerável Superman, da poderosa Wonder Woman ou do imbatível Batman, conseguimos ter uma relação mais empática com os personagens que estamos a ver. É mais fácil olhar para o Robin (Dick Grayson), Kid Flash (Wally West) ou Speedy (Roy Harper) e perceber que eles querem aos mesmo tempo afastar-se e impressionar os seus mentores e figuras paternais. Todos nós já lá estivemos e percebemos esses conflitos internos.

Os autores conseguem criar os conflitos interiores melhores entre mentores e pupilos especialmente no que diz respeito a Aqualad e Superboy. Aqualad sendo filho de Black Manta um dos maiores vilões de Aquaman tem aí um mentor invulgar no inimigo do seu pai, e é constantemente dividido entre os dois homens para quem ele olha em busca de exemplo, puxado entre a sua lealdade pela sua família ou pelo seu rei. E Superboy, um clone criado de células geneticamente combinadas de Clark Kent e Lex Luthor, que apenas tenta receber a aprovação do seu mentor que o afasta constantemente. Young Justice tem um Superman quebrado e com falhas humanas que é muito raro ver, em vez do habitual exemplo do certinho e correcto, é um mentor horrível na minha opinião, e isso é óptimo, Superboy tem que gerir a sua relação com os seus dois “pais” ausentes enquanto aprende a viver com os seus colegas.

Outro ponto forte desta série é introduzir personagens totalmente novas como Miss Martian e esta versão de Aqualad, sem ter que passar por infindáveis histórias de origem (os senhores dos filmes da DC e Marvel deviam tirar notas enquanto vêem a série) e podemos perceber as motivações deles sem explicações com esquemas e desenhos e aulas extra que são normais nos filmes, tudo o que é implícito é compreensível sem ser fã de BD, e ao fazer isto conseguem dar ao espectador uma janela para este mundo através de personagens de escalão B, mas sem perder o mini mo de qualidade.

Falando em escalões, não nos podemos deixar enganar pelo facto de ser uma equipa de sidekicks, os arcos principais das duas primeiras séries tinham-nos a enfrentar alguns vilões de peso, e o cliffhanger da terceira temporada que está agora a iniciar produção promete algo apocalíptico.

Portanto nós temos bons personagens, boas histórias, personagens icónicas (que já eram ou tornaram-se assim com a série) é basicamente uma receita de sucesso sem esforço nenhum, certo?

Não! Completamente errado, como é normal nestas situações.

A Warner Bros, tratou deste tema da mesma maneira que trata de todas as suas licenças não-Batman, sem respeito, cuidado ou profissionalismo e criou um jogo de aventura completamente horrível na sua jogabilidade e ambiente. Tosco, com gráficos e comandos datados, sem história ou conteúdo, podia ser algo feito sem os nomes e era igualmente mau. Este tipo de má aproximação a um universo e a um bom conteúdo irrita-me a um nível de melga numa noite de verão.

Se nunca viram, aconselho vivamente que sigam Young Justice, se gostarem da série (ou não) aconselho que se afastem do jogo. O meu próximo PopCorner será sobre o oposto.

Até lá!