Naquela que é usualmente uma das semanas mais atarefadas para grande parte do mundo ocidental, mergulhamos em 3 indies que nos levam a zonas diferentes, a destinos incertos e a mundos desconhecidos. Nesta road trip indie, temos apenas uma certeza: o ponto de chegada não é, nem passa por qualquer shopping center. Porque a onda de entropia natalícia ameaça consumir tudo à sua passagem.

Conflict of Heroes: Awakening the Bear

Com a eleição de Trump para a Casa Branca dir-se-ia que a tensão com o Urso histórica, a Mãe-Rússia, terminou. Conflict of Heroes: Awakening the Bear remete-se a outro período negro para lá dos Urais da História da Humanidade, a muito saturada (do ponto de vista de adaptações) mas sempre presente Segunda Guerra, que nos dá para pensarmos nos erros que infelizmente vamos repetindo ano-após-ano.

Em mais uma excelente adaptação de um jogo de tabuleiro com a temática da guerra, Conflict of Heroes do designer Uwe Eickert, Awakening the Bear traz o melhor das mecânicas de estratégia de CoH para a interactividade do computador.

Com sistemas usuais em muitos outros wargames, Conflict of Heroes: Awakening the Bear leva-nos, e à sua estratégia por turnos, à ofensiva germânica pelo bloco soviético, que acabou por tornar-se num dos momentos mais marcantes (e definidores do curso da Segunda Grande Guerra).

Dentro da sua aparente simplicidade herdada da transposição do tabuleiro para o ecrã, há diversas camadas tácticas que vamos destapando e descobrindo a cada nova jogada, provando que apesar de nem sempre ser verdade, mas que muitas vezes um bom e premiado jogo de tabuleiro pode ser um bom videojogo.

Destination Ares

Muitas viagens são árduas, dolorosas mas memoráveis acima de tudo. Que o digamos nós e a minha (terrível) ideia de ir e vir a Colónia de comboio a partir de Lisboa. A viagem dos pobres humanos na nave onde a acção de Destination Ares decorre é possivelmente mais difícil do que a nossa foi. Mas apenas por uma pequena margem.

Descrito pelo seu autor Patrick Scott como um impiedoso jogo de gestão de recursos, Destination Ares leva-nos para um ambiente explorado pelo aclamado FTL mas com twists interessantes que tornam o jogo não só mais desafiante como também mais desesperante.

Somos a IA da nave, que tenta a todo custo salvaguardar a vida da tripulação humana a bordo, tendo como maior adversários…a própria tripulação. É que apesar de sermos a maquinal, fria e cibernética IA que controla a nave, todas as tarefas e acções têm de ser cumpridas pela tripulação, que não é controlada por nós.

Portanto das duas, uma, ou escolhemos confiar na Humanidade e na sua capacidade temporária de ultrapassar a sua própria estupidez ou temos de confiar na dificuldade adaptável do jogo para nos ajudar em tempos de excessiva aflição.

Ainda em Early Access, Destination Ares é uma excelente abordagem ao género, e que nos fará perder ou ganhar um bocadinho de fé na nossa espécie. Ainda que estas sejam apenas representações virtuais.

Alicemare

Muitas outras viagens são tristes, e cada fotografia ou memória evocam um pesar no coração e na alma que nos marcam, e ao qual não conseguiríamos ser indiferentes nem que o desejássemos.

Alicemare é o segundo jogo de  △○□× também chamado da forma mais legível Miwashiba, um game designer cujo jogo anterior LiEat, o colocou na rota da atenção da cena independente japonesa, publicado, pela óbvia e esperada Playism.

É um pequeno RPG (na forma) mas cuja linha condutora é a de uma história de terror interactiva, em que o seu reduzido preço (2,99€ no Steam) o transforma numa interessante aposta, à medida que seguimos o desmemoriado Allen pela trama que ele vai desenrolando.

Alicemare evidencia-se não só pela sua narrativa, que parte de lugares-comuns do género e rapidamente trilha um caminho próprio, mas acima de tudo pela sua linha estética melancólica, a sua paleta fria quase aquecida por pequenos apontamentos, onde a tristeza da banda-sonora ajudam a compor uma das viagens mais depressivas que um videojogo curto pode trazer.