Não sei se este é um título que alguém queira lutar por ele. Uma espécie de Liga do Nojo (sem qualquer referência à Liga Portuguesa de Futebol, juro) onde é ponto assente que o campeão indiscutido por esta coroa de “Melhor jogos sobre vómito de sempre” pertence a Eggggg (com 5 Gs, peço desculpa por algum G falhado ao longo deste artigo) – The Platform Puker.

A primeira dúvida com que nos cruzamos é: mas como é que um jogo de plataformas sobre vómitos, com sons de regurgitação, e com as mais diversas cores para os jactos de vomitado expelido pode ser bom? A resposta é simples: o ónus não está no vómito, mas sim no que se consegue fazer com ele. E o que o estúdio norueguês Hyper Games fez tem apenas um nome: vómito. Perdão, genial.

Para o olhar estético mais atento, a primeira indagação que surge é sobre a proximidade artística de Eggggg com as séries contemporâneas do Cartoon Network. Com uma paleta cromática vibrante e quase infantil, um traço de contorno bem definido e espesso, Eggggg parece uma boa adaptação de uma série do famoso canal. E ajuda a esta dúvida a percepção que todas as animações são sublimes, e estão a anos-luz de grande parte dos jogos indie que encontramos em qualquer plataforma. E ainda maior surpresa é percebermos que este é um jogo exclusivo mobile.

A narrativa do jogo é simples (sim, um brilhante jogo mobile de 3,99€ sobre vomitar tem mais enredo que o Star Wars Battlefront): Gilbert, o protagonista quer ir a uma festa de anos, mas é impedido pela sua Tia Daisy. Para a confrontar entra numa trip de estupefacientes (só isto explicaria o mundo digno de André Breton por onde andamos*) e começa a consumir ovos de galinha. Mas infelizmente o pobre Gilbert sofre de uma alergia extrema a esse bem tão precioso cá da Capoeira, facto que o obriga a vomitar de imediato.

Sendo que grande parte dos inimigos com os quais Gilbert se cruza são galinhas cibernéticas, há sempre uma pequena lágrima que se solta sempre que vomitamos até à morte um pobre galináceo. Ou isso ou é a falta de habituação aos brilhantes e realistas sons do vomitado que o jogo possui.

Como puzzle platformer (e que puzzle platformer diria!) Eggggg coloca-nos no controlo de algo simples: carregar no ecrã para que o vómito de Gilbert o projecte em estilo de salto, e carregar na extremidade do ecrã para onde queremos que ele corra. Entre os famosos wall jumps, e muitos outros poderes que mudam a cor ao nosso vómito e lhe conferem habilidades especiais, Eggggg é um magnífico jogo do género. Com um estilo artístico brilhante e uma apurada atenção ao detalhe, passando pela exímia animação de cada componente do jogo, e terminando num desafiante puzzle platformer que até inclui boss fights.

Nunca esperei dizer isto, mas agora que o ano termina é bem possível que Eggggg seja o melhor jogo mobile que joguei em todo o ano. E a surpresa não é pela sua surpreendente qualidade mecânica e artística que nos faz sentir uma vontade imensa de o ver num ecrã maior, adaptado ao PC ou na nossa TV da sala. Mas porque debaixo disto tudo penso na tremenda genialidade do estúdio norueguês e do duo de artistas Brosmind de conseguirem num conceito estranhíssimo em torno de vomitar e transformá-lo nesta verdadeira pérola dos videojogos.

Eggggg – The Platform Puker está disponível para Android e iOS.

*ou será uma espécie de choque anafilático?