Este já é o segundo texto que escrevo para esta secção desta semana. Apesar de ter deixado o tudo pronto achei que lhe faltava algo, faltava a magia de algo e não era do natal.

O texto original que até pode vir a ser publicado um dia, depois de o editar era sobre o Nintendo World Cup, jogo que vinha no pack de 3 da minha primeira NES, oferecida pelos meus pais como prenda de Natal conjunta a mim e aos meus irmãos no ano em que foi lançada em Portugal, talvez 90 ou 91, não me lembro bem. O Sérgio sabe dessas coisas e é capaz de me vir corrigir. Mesmo sendo mais ligado à época preferi mudar, já pela terceira vez o tema desta semana, que originalmente era sobre o The Legend of Zelda: The Minish Cap que depois passou para jogos de Wrestling e depois para Nintendo World Cup, e agora vai ser sobre uma jóia da brilhante coroa que é o catálogo da Nintendo DS: Professor Layton and the Curious Village.

Talvez por inspiração no texto do Ricardo na semana passada, ou apenas porque é um dos meus jogos favoritos nessa consola achei que a prenda que vos ia dar esta semana era escrever sobre um dos jogos mais brilhantes dos últimos anos. É verdade que muita gente não gosta dos jogos de Professor Layton, nem os acha assim tão bons, mas isso pode ser estendido a qualquer área das artes ou entretenimento. Enquanto é de consenso geral considerar Leonardo Da Vinci um dos maiores escultores da história da humanidade, as suas obras perdem todo o valor para mim quando comparadas com algumas de Antonio Corradini ou todas as de Gian Lourenzo Bernini, portanto não é de admirar que o meu gosto pelo equilíbrio perfeito conseguido em The Curious Village seja superior ao da maior parte dos jogadores, rapazes-ventoinha da Nintendo ou não.

Para aqueles que não conhecem, Professor Layton and the Curious Village foi criado pela Level-5 e lançado no Japão em 2007 (resto do mundo em 2008), a Nintendo DS já tinha 3 anos e começava a consolidar a sua consistência no mercado das vendas mas acima de tudo na produção de jogos. Para quem começou cedo com esta consola sabe que grande parte do seu catálogo sofria de um problema comum, que era a insistência de alguns developers em utilizar o touch screen à força mesmo que sem sentido. Vários jogos perdiam a sua qualidade porque controlar o personagem, disparar, lutar ou fosse o fosse tinha que ser feito no touch screen porque estava lá assim como os motion control da Wii. Professor Layton não foi dos primeiros jogos em que os controlos eram adequados, mas foi dos primeiros em que eram perfeitos para o ambiente e estilo. Combinado com toda a temática usar o stylus era tão intuitivo como… qualquer coisa intuitiva e natural.

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A utilização do touch screen até podia ser exímia e ter dado um lição a quase todos os developers que criaram jogos para a DS nos seus longos anos seguintes, mas não era o que de melhor tinha Professor Layton. O jogo em si tinha uma espécie de aura misteriosa, uma magia peculiar que fazia dele algo único em que conseguia tornar algo parado em algo emocionante e também que todas as peças do seu puzzle encaixassem perfeitamente umas nas outras. Apesar de ser um jogo de puzzles e enigmas quase em linha dos primeiros Brain Age/Training que o precedem o que a Level-5 fez foi colocar esses, e outros enigmas clássicos ou novos num ambiente muito específico, o de uma aldeia na qual todos os habitantes tinham uma espécie de vicio por enigmas, como se toda a gente fosse o Riddler mas com menos tendências sociopatas. Professor Layton e o seu aprendiz Luke têm um enorme enigma para resolver, o da Maçã de Ouro (cujos pormenores vou deixar de fora deste texto para quem nunca jogou) e para isso deslocam-se à aldeia de St Mystere. É ai que decorre acção do jogo utilizando uma combinação perfeita de arte gráfica e música ambiente que nos coloca totalmente dentro da aventura mas para avançar somos forçados a mostrar o nosso valor através da nossa perícia mental, algo que é pouco testado nos jogos de hoje em dia, resolvendo todos os enigmas que os habitantes da aldeia nos colocam, sem os resolver não há maneira de avançar na história, o que podia ser frustrante mas não é, pelo menos nunca foi para mim.

Além de uma história interessante, apesar de um pouco triste, é também aí que o jogo mostra o seu valor, tanto pela maneira como desenvolve o seu enredo, desenrolando o enigma da Maçã de Ouro sem que o jogador o faça realmente pois é descobrindo as outras soluções que desbloqueia as sequências de acção que levanta o véu do mistério da aldeia como pela qualidade fantástica das animações que o fazem. Lembro-me de quando joguei pela primeira vez a ver a introdução animada, com o Professor e o Luke no seu carro, o queixo caiu. Figurativamente falando. Em 2008 já tínhamos avançado imenso no que diz respeito à tecnologia dos jogos e da animação mas aquilo era muito mais do que eu esperava da DS, numa consola de sala, num PC era corriqueiro mas na portátil da Nintendo?

Não sendo um jogo para todos os gostos mas por conseguir conciliar tantos elementos que tinham todas as probabilidades de não dar certo juntos, Professor Layton and the Curious Village é daqueles jogos que devia ser obrigatório não só para jogadores mas para quem ensina e aprende videojogos como um exemplo que a plataforma deve ajudar o jogo e o jogo não deve forçar a si mesmo os elementos da plataforma.