A Hora do Meh#11

Esta semana trouxe-me duas coisas novas na minha vida que eu não sei se deva pensar: “Ganhei algo que ainda não sei bem o que é” ou “Teria sido tão mais feliz sem ter isto”.

Praticamente ao mesmo tempo que recebi o jogo SkyTime, um jogo no qual os meios de pesquisa mais usuais nada encontram – e aqui refiro-me a Google, YouTube ou mesmo Twitch – comecei a assistir a uma série original da RTP Play, até agora única no mundo, Os Jogadores. Infelizmente, ambas as experiências foram inesquecivelmente desagradáveis, cheias de cliché e de um argumento vazio.

SkyTime é um jogo em que carregamos no Play e temos uma pequena introdução na qual tudo tem ausência de conteúdo. Ora, um brilhante cientista saiu com a família para comprar chocolate quente e no momento em que se distraiu a família já não estava no mesmo sítio e ele automaticamente soube que algo estava mal, equipou-se com uma chave inglesa, um relógio e uma luva e estava pronto para os resgatar. Ao mesmo tempo que isto ocorria, na série atrás referida, eu era atirado para uma realidade alternativa na qual uma equipa Portuguesa tinha chegado às finais europeias de eSports, onde apesar de existir a alusão ao League of Legends (apenas por pequenos vislumbres de imagens de jogo), não existe qualquer referência ao mesmo durante a série. E é então que de repente somos atirados para uma viagem que mais parece uma bola saltitona entre o passado e o presente irreal da série.

Portanto somos um cientista que faz parkour numa realidade ultra-alternativa na qual saltamos de prédios para carros voadores e de carros voadores para prédios com torres defensivas nos sítios mais ilógicos para a mente racional… Pois, para mim esta foi uma tentativa barata de imitação de um cenário futurista do Mirror’s Edge, idêntica à tentativa de criar um ambiente adolescente vivido n’Os Jogadores, na qual existiu a mesma premissa de imitação mas da emblemática série Os Morangos Com Açúcar. A forçosa criação de conflitos infantis, pouco exemplares e realistas entre as personagens e a tentativa que SkyTime tem de nos colocar obstáculos colocando as torres defensivas nos locais mais óbvios e patéticos, demonstram o pouco esforço que os criadores deste conteúdo colocaram nas suas respectivas obras.

Os erros são constantes. SkyTime tem desde bugs em que não conseguimos subir rampas que estão lá especificamente para usarmos como impulso para salto, assim como a impossibilidade de saltarmos encostados à parede de forma a subirmos para o limite do prédio. Surpreendentemente, numa tentativa desesperada de subir para a ponta de um prédio descobrimos que se ficarmos a pressionar a tecla de salto tornamo-nos o Homem-Aranha do futuro e conseguimos trepar qualquer inclinação, permitindo assim passar qualquer nível. Já a série Os Jogadores presenteia-nos com sucessivas cenas com erros críticos de representação, falhas por falta de atenção ao pormenor e, por último o pior dos casos, falta de conhecimento do tema principal da série: o Mundo dos eSports e como ele funciona no seu todo. Por exemplo existe uma cena em que um dos protagonistas, que apesar da falta de informação aponta para uns 18 a 20 anos de idade, decide informar a mãe que vai para Espanha de comboio na manhã seguinte para fazer um Tryout (teste de admissão) para uma equipa espanhola. Já a mãe demonstra-se incomodada mas passiva, dizendo numa tentativa de parecer chateada “quando voltares conversamos”, onde invés de vermos uma cara de chateada observamos uma cara triste à beira do choro. Questiono-me se realmente esta é a atitude de maioria dos pais que muitas vezes nem têm noção do que é uma competição de eSports. Há ainda outros momentos em que o rapaz jogador entra no suposto comboio com destino a Madrid e no visor podemos ler “Destino: Azamb…”, problemas de réperage que não ajudam a criar a melhor envolvência para a série.

Outra das cenas que considerei emblemáticas na negativa, entre as dezenas que verifiquei, foi o momento em que existe uma entrevista para a TV ao membro feminino da equipa, na qual é realizada a questão “como é ser uma rapariga no meio de homens?” e a personagem age de uma forma incrivelmente surpreendente ao ficar ofendida com a pergunta, respondendo que é algo normal, após referir ainda que sempre jogou com rapazes e que não entende a questão. Em seguida a jogadora vira costas à entrevistadora e assim se dá um dos momentos mais ridículos desta história, quando na realidade no mundo dos eSports as raparigas ainda optam por jogar em equipas unicamente femininas devido à discriminação que persiste nos dias de hoje (vide este artigo da Galinha Psicóloga Maria João Andrade) e que isso é principalmente afirmado pelas próprias jogadoras competitivas existentes (que infelizmente ainda não são muitas).

Mas voltando a SkyTime, uma das funções que este jogo nos deixa ao nosso dispor é a possibilidade de abrandar o tempo, o que na realidade para alem de o fazer também nos dá a capacidade de voar distâncias maiores, permitindo-nos na prática passar um jogo de obstáculos sem sequer ter de ultrapassar um único, desde que escalemos todos os edifícios e saltemos de prédio para prédio.

Para resumir, a experiência de jogar SkyTime foi bem inferior às expectativas, pois quando olhamos para a descrição e para o único trailer existente na Steam ficamos à espera de um jogo de obstáculos super emocionante e com uma duração acima do habitual em que a adrenalina reina, mas aquilo que recebemos é exatamente o oposto. O jogo é lento e cheio de erros, morremos através de paredes com tiros que passam por elas, morremos porque caímos em buracos que apesar de existirem somos iludidos a achar que a velocidade de corrida não nos deixa cair, conseguimos subir paredes e obstáculos que se víssemos de uma perspetiva de terceira pessoa estaria pelo nível da cintura da nossa personagem. Enfim, compreender a lógica deste jogo é de facto uma experiência alucinogéna.

Portanto em SkytTme, para além da falta de originalidade na forma como o jogo foi pensado, a construção dos níveis também está incrivelmente simples e óbvia, deixando-nos com vontade passar umas boas horas gastas no Mirror’s Edge. Assim como n’Os Jogadores o tema eSports e o guião construído nos deixam claramente a desejar ansiosamente a comédia onde Will Ferrell irá fazer-se passar por um jogador profissional de eSports contracenando com jogadores profissionais das equipas Evil Genious e Fnatic (sim isto vai acontecer!).

Por ultimo resta-me apenas dizer “Barry Allen, por favor, preciso urgentemente de um Flash Point!”.