Há semanas que ficamos a olhar para o papel em branco à espera de um tema para um artigo e o branco do papel reflecte o vazio de ideias que temos na nossa mente. É que o que se passa é que tentamos ser originais, tentamos ter ideias novas para artigos de forma a cativar os leitores, e temos a mesma ideia a “martelar” a nossa cabeça como um martelo pneumático. Ironia de quem tenta escrever: a repetição da mesma ideia quando tentamos fugir dela.

Então aqui vai. Não vou fingir que tenho aqui uma mega-ideia original cheia de pensamentos profundos, quando a única coisa que me apetece fazer é falar sobre os videojogos que não me saem da cabeça…aqueles que provavelmente já falei um cento de vezes este ano.

2016 está a acabar. Finalmente. Nunca estive tão feliz de ver um ano pelas costas. É quase um cliché dizer que 2016 foi um ano péssimo. Já todos nos cruzámos com memes no Facebook onde se banaliza o quão mau foi este ano. Pelos fabulosos artistas que vimos partir, pelas calamidades irreais e irracionais, políticas e sociais a que assistimos, pela mudança climatérica que se aproxima sem dó, mesmo sem darmos conta.

Tudo isso é para mim quase secundário face ao que 2016 me roubou e jamais me devolverá. Ao tamanho vazio que me deixou. À escuridão em que me envolveu e onde apenas a luz do amor do marido foi capaz de iluminar o caminho da saída. Sim – 2016…foste um ano que me testaste ao limite. A loba quase se perdeu na floresta e por pouco não encontrou o caminho de volta. Fizeste-me verter mais lágrimas que em toda uma vida. Vai-te F…r 2016! Não perderei nem mais uma linha deste artigo contigo.

No meio deste tornado, experiências de videojogos foram mais uma vez a terapia onde eu, psicóloga, recorri para sarar algumas feridas e expulsar cá para fora a mágoa que se ia acumulando. Se o marido trouxe a Luz, os videojogos trouxeram os mundos alternativos onde a realidade cruel não entrava. Nada como, quando se pensa que já não se aguenta mais, ligar o comando da nossa consola e deixar que a depressão se cale a cada capítulo que vamos jogando na nossa jornada. Doce terapia que tanto me apaixona.

Num ano cheio de polémicas, saídas há muito antecipadas, alguns “flops” e jogos mais uma vez adiados, 3 experiências marcaram o meu ano de videojogadora.

Comecemos pelo primeiro, que ouvi dizer que é sempre por aqui que se deve começar.

Uncharted 4. Ahhh Naughty Dog que excelente maneira tiveste de acabar a saga de Nathan. Que aventura excepcional. Um jogo com melhores cenas de acção que todos os filmes do género da última década. Arriscaria a dizer mesmo, que todos os filmes desde o início deste milénio. Que história tão bem contada, que gráficos tão absolutamente estonteantes, que desempenho de vozes tão real. A jogabilidade tão simples e intuitiva como sempre. A Naugthy Dog sempre nos trouxe o sentimento aventureiro de Indiana Jones através de Nathan Drake e em Uncharted 4 transformou uma saga numa referência para qualquer jogo de Acção/ Aventura que possa chegar. Tornou-se quase “cool” falar mal de Uncharted 4. Foram milhentas as vezes que li ou ouvi as célebres e (algumas vezes) pseudo-intelectuais frases: “Não é um jogo, é um filme”, “ é demasiado linear e previsível”. Bom, pode até ser. Não concordo absolutamente nada, mas toda a gente tem direito à sua opinião. Para mim foi uma aventura fabulosa – divertida, frenética, bem escrita, com todos os elementos que sempre procurei em Indiana Jones. E mais não poderia pedir.

Enquanto aguardava pela aventura pela qual ansiei tantos anos, encontrei refúgio vezes sem conta em Bloodborne – para mim, um jogo de uma Década. Aqui a Aoussa navegou pelas ruas de Yarnham e matou todos os demónios – os que existiam nos frames do ecrã e aqueles que se encontravam na sua mente. Deixei que o sangue contaminado desta cidade maldita me infectasse as veias e todos os meus pensamentos. Viciei-me nos sons. Prendi o meu pensamento a cada inimigo que conquistava. Apaixonei-me pela banda sonora. Senti-me uma jogadora como Nunca antes me tinha sentido. Como se conquistar Bloodborne fosse uma etapa do meu crescimento que não consigo identificar. The Hunter’s Dream tornou-se o meu santuário. A ele regresso de tempos a tempos…sempre que a Loba necessita sentir a adrenalina da caça.

Se comecei pelo Alfa, terminarei com o Ómega. O meu jogo do Ano. Aquele do qual falarei daqui a muitos e muitos anos. The Last Guardian permitiu guardar o melhor para o fim. Dizer-me: “Alexa, não importa o quão escuro esteja, podes sempre encontrar o caminho”. Mostrar que uma espera de 11 anos parece pouco para uma viagem emocional destas. Fumido Ueda brindou o mundo com Trico. Trouxe-nos uma ligação com um NPC que jamais experienciei. Ao longo das cerca de 12/13 horas que passei no jogo consegui rir, irritar-me, e chorar….chorar tanto. No final, a viagem de uma Vida. Nas asas de Trico descobrimos que desistir não é opção. Descobrimos que sacrificamos o mais profundo de nós quando amamos alguém, seja qual for a forma desse amor: um Cônjuge, um Amigo, a Mãe, Pai, os Avós, um Filho….Descobrimos que os Videojogos são uma Arte ímpar, capaz de contar uma história de uma forma completamente singular e irrepetível para o jogador. The Last Guardian será a minha última viagem enquanto jogadora em 2016. Quero permanecer com a memória deste jogo marcada em mim e deixar que o sabor das asas de Trico me transportem para 2017.

E assim resumo o meu ano de videjogadora. As aventuras que tatuo em mim. Aquelas que me seguirão sempre.

Aguardo já 2017. Anseio God of War mais que qualquer outra coisa que se prevê no próximo ano. Kratos e eu “conhecemo-nos” há muito e “entendemo-nos” bem. Não nos julgamos. Observo ansiosamente Death Stranding. Kojima e Survival Horror é uma combinação de sonho.

Adeus ano maldito. Vai-te de uma vez embora. Game Over para ti! Perdeste! A Alexa ainda aqui está. Levantou-se e continua a lutar. Em 2017 ela regressará e nas lágrimas que deixaste, escreverá os próximos sorrisos.

Que venha o próximo ano. Estou pronta para mais viagens. Para alimentar a imaginação com Mundos que apenas aqui, entre os botões da minha consola, consigo percorrer. Afinal, o meu corpo terá sempre espaço para mais tatuagens.