Este ano no Rubber não podia acabar sem um conjunto dos inevitáveis Top 10 do ano. No meu caso calha pessimamente porque o meu ritmo de jogador é descomprometido de qualquer contrariedade temporal. Quantos jogos de 2016 joguei este ano? Os que avaliei… Uns dois… Ou três? Nenhum particularmente bom e alguns particularmente maus. Olhando para o panorama de jogos lançados teremos certamente uns quantos jogos memoráveis. Quantos deles terão mudado a indústria? Atrevo-me a dizer nenhum… Pelo menos quando comparados com o Top 10 dos jogos de 1986. Há 30 anos atrás. Não te acreditas? Então vamos a isso.

10) Super Mario Bros: The Lost Levels

É Mario com mais níveis… Mario com mais níveis é bem bom! Uma versão 2.0 que só teremos a possibilidade de descobrir na SNES em 1993… Não deixa de ter sido lançado em 86 para o leitor de disco da NES… Há que começar com algum jogo!

9) Bubble Bobble 

Este primeiro jogo é meia batota (outra?). A versão que eu joguei só surgiu em 88… Mas o jogo original, a versão arcade, que em pouco difere da versão NES, saiu efetivamente em 1986.

Hoje em dia os dragões de Bubble Bobble são mais recordados pela série dos Puzzle Bobbles mas na minha opinião este Bubble Bobble merece alguma consideração. Não tenho grande paciência para estes arcade classics mas há dois que ainda jogo com prazer: Pang (Buster Bros) e Bubble Bobble. Há muito de Mario Bros (sem o Super) neste jogo e pouco mais para dizer. Níveis fechados, uma mecânica baseada em bolhas que tanto servem de plataforma como arma… Um jogo simples e viciante e com dois dragões. Não preciso de muito mais.

8) Ikari Warriors

Ikari Warriors é o meu “Contra”… Entende-se, o meu jogo 8 bits com dois tipos tronco nus com headbands na cabeça e metralhadoras nas mãos. (só chegaria a jogar ao Contra III na SNES). Existem dezenas de jogos dentro deste estilo sendo fundamentalmente derivados de shoot-them-ups mas com tipos em vez de naves. A consumir com aquele amigo especial.

7) Defender of the Crown

Nunca fui muito dado a jogos de estratégia. Falta-me esse requinte. Agora um jogo de estratégia com mini-games rudimentares graficamente impressionantes? Count me in!

Conheci o jogo através da Atari ST de um primo mais velho que venerava o jogo. Naquela altura, algures no princípio dos 90, o jogo tinha perdido alguma identidade no meio do gaming de disquetes que eu resumia ingenuamente às produções LucasArts. Olhando para trás, não é difícil imaginar o entusiasmo que o jogo terá provocado pois a qualidade gráfica supera de longe a média das produções da altura. Hoje em dia a imersão visual é quase um dado adquirido mas naqueles tempos era necessário uma certa dose de imaginação para interpretar visualmente os gráficos rudimentares. A possibilidade de um jogo ser efetivamente um vídeo interativo era uma meta futurista prevista para algures no século XXII. Os jogos da Sega CD ou a paixão por um Dragon’s Lair são coisas difícil de entender para o jogador moderno mas quem por lá passou sabe que estávamos disposto a grandes compromissos para lá chegar.

Defender of the Crown é um bom jogo de estratégia mas é acima de tudo um simulador de feudalismo que conseguiu cativar a imaginação de muitos através da sua imersão visual.

6) Out Run 

Conduzir um super desportivo descapotável com uma senhora ao nosso lado é um sonho fácil de vender. Out Run é nas palavras do seu criador um “driving” game. Enquanto criança foi um devorador de moedas… Jogo engraçadito pensava eu na altura. Anos mais tarde a minha lua de mel resumia-se a eu conduzir um super desportivo descapotável pela Costa Oeste dos Estados Unidos… Coincidência? Talvez não, talvez não…

5) Metroid

Metroid é um Metroidvania… Antes destes se terem tornado uma obsessão para os criadores artesanais do espaço indie. O que é um Metroidvania? Essencialmente um jogo em que passamos a maior parte do tempo completamente perdidos, revisitando dia após dia os mesmos cenários. A Resolução para os problemas situa-se algures entre o colega de recreio informado ou atirar a consola pela janela fora. Os jogos são relaxantes dizem eles.

1986 É marcado por esta nova tendência que substitui a sequência de níveis por um espaço aberto condicionado pelos nossos upgrades. Uma espécie de sandbox primitivo. Metroid não se reduz a estas características e é também um survival horror tanto pela sua dificuldade como pelo seu bestiário claramente inspirado pelos filmes Alien do James Cameron (Aliens estreia em 1986). Confesso que na altura este aspecto me passou ao lado. Joguei isto num Game Boy e o único aspeto potencialmente assustador nessa plataforma é não conseguir um lugar na sombra. Para mim Metroid destaca-se pelo salto da personagem. Parece estúpido mas o mortal prolongado da Samus confere à personagem uma ligeireza singular para um jogo de plataforma daquela altura. Para além disso a Samus inaugura o braço canhão do meu querido Megaman. Uma arma que nunca perderá o seu encanto.

4) Castlevania

O Pontapé de saída da saga Belmont começou em 1986. Em muitos aspectos um jogo bastante parecido com Metroid e no entanto, a meu ver, superior pela sua tonalidade e o carisma do seu universo. Explorar um gigantesco castelo enquanto somos assediados por criaturas diversas passa melhor quando a personagem tem um chicote. Naquela altura, o BDSM ainda não tinha sexualizado a ferramenta, o chicote era essencialmente a arma do aventureiro mais famoso do planeta: Indiana Jones. Vampiros? Chicotes? Banda Sonora que ainda hoje não me saiu da cabeça? Epá que se lixem os Game Overs. Um verdadeiro triplo A dos 80 e uma franquia que ainda hoje não perdeu do seu charme.

3) Dragon Quest

A Saga de JRPG criminalmente ignorada no ocidente nasceu em 1986. Não há muito para dizer para além de que este jogo é responsável pela criação de quase todos os pilares que definem (definiam) o género… Talvez por ser o primeiro. Yuji Horii inspirou-se no Wizardry e deu-lhe o seu toque nipónico para formar uma das sagas mais consistentes de todos os tempos. Cada episódio de Dragon Quest inscreve-se na linhagem direta do seu antecessor. Dragon Quest não precisa de se modernizar ou adaptar-se aos alegados gostos do “estrangeiro”. Parado no tempo? Cada um terá a sua resposta. Na parte que me toca Dragon Quest preserva ainda hoje o charme dos primeiros dias.

A minha história pessoal com o Dragon Quest surge tardiamente através dos emuladores e de uma série de animação: Dragon Quest: Dai no Daiboken, conhecida em França como “Fly” ou “Fly, o Pequeno Guerreiro” para os que tiveram a sorte de a ver na Locomotion. Explicaram-me que o Anime tinha um jogo. Explicaram-me que o jogo tinha como diretor artístico o Akira Toriyama… Saquei a ROM e a minha relação com a franquia perdura ainda hoje.

2) The Legend of Zelda

Haveria tanto para dizer sobre este jogo e no entanto não tenho quase nada de novo a acrescentar. Vou optar pela abordagem pessoal.

A primeira vez que vi The Legenda of Zelda foi na casa de uma prima. No meio de um conjunto cinzento, eis que me aparece um exuberante cartucho dourado pimp. No sticker o nome Zelda e um brasão. Toques de preciosismo do primeiro jogo aristocrático. Já na altura, Zelda era lançado com a arrogância de um embrulho da cor com que se fazem prémios.

Quem jogou Zelda pela primeira vez não terá imediatamente percebido a dimensão do fenómeno. The Legend of Zelda é a condensação de um conjunto de ideias que já existiam mas que ficaram sempre aquém das suas manifestas ambições. A Natureza excepcional deste jogo é ter conseguido concretizá-las através de um produto visualmente coerente e um gameplay intuitivo. Um miúdo de 6 anos podia perfeitamente jogar este jogo sem sofrer o martírio de uma dificuldade disfarçada de conteúdo. Equipado com o mapa e a linha de apoio telefónico Nintendo, passamos umas quantas horas em Hyrule… Mal sabíamos nós que tínhamos aqui um produto tão vanguardista.

1) Alex Kidd in Miracle World 

Nada mais nada menos que o meu favorito do ano. Alex Kidd in Miracle World é para mim tão underrated como a consola que o fez nascer: A Master System. Algures entre uma criança e um macaco, Alex é a primeira mascote da Sega e a resposta à crescente popularidade do picheleiro italiano. Quase todos os que tiveram uma das primeiras Master System tiveram este jogo incluído na consola. No meu caso, a Master System de um tio que já a considerava obsoleta. Foi a minha primeira consola. Um ano após o lançamento de Super Mario Bros, Alex Kidd in Miracle World é a resposta da firma da consola preta. Um platformer que, apesar de algumas semelhanças, distancia-se bastante das mecânicas do Mario. Alex não salta por cima dos seus inimigos e prefere destruir cenários e adversários sacando do seu punho gigante. Lembram-se de poder comprar uma moto no Super Mario? um helicóptero? Pois, no Alex Kidd tudo isto era possível. Não havia nada mais satisfatório do que conseguir os créditos suficientes para adquirir um duas rodas e percorrer o universo colorido – bem mais colorido que os do Mario – a toda velocidade sem consideração pelo inevitável embate que me levaria ao Game Over. Alex Kidd in Miracle World tem um grande sentido de humor. Nunca percebi porque raio os confrontos com os bosses de fim de nível se limitavam a um jogo de pedra, papel e tesoura. As minhas incursões nostálgicas permitiram-me finalmente entender o peculiar sentido de humor do jogo.

Alex Kidd é um jogo extremamente difícil mas com uns primeiros níveis suficientemente acessíveis para um puto poder brincar horas a fio. Lembro-me da minha mãe a passar a ferro enquanto jogava, a dar-me dicas e a perder a cabeça quando a minha falta de reflexos resultava em mais um Game Over.

Há neste minha visão muita subjetividade bem sei… Mas Alex Kidd é objetivamente um grande jogo. Certamente não o melhor desta lista mas sem dúvida o meu preferido.

O que aconteceu ao Alex Kidd? A personagem teve a infelicidade de uma sucessão infeliz de jogos medíocres num curto espaço de tempo. Em vez de recuperar a fórmula do primeiro, a Sega foi experimentando integrar o Alex em todo tipo de jogos, descaracterizando a personagem até tornar-se irrelevante enquanto o Sonic ia ganhando terreno no coração dos jogadores dos 1990.