Todos temos aquele ou aqueles jogos que merecem uma atenção diferente dos restantes títulos que passaram pelas nossas mãos. Jogos que recordamos sem conseguir esconder um sorriso nos lábios e que ponderamos voltar a visitar quando tal recordação surge. Para mim Silent Hill é um excelente exemplo.

Sou o primeiro a admitir que a minha experiência com Silent Hill não começou da melhor maneira. Dei os primeiros passos por esta cidade fantástica com Silent Hill: Origins para a PSP. Não sabia mais nada a não ser que se tratava de um survival horror e que Valtiel me valha se não adorei cada momento. A maleabilidade da cidade para com quem a visita, dos seus habitantes (tanto os humanos como os monstros), a descoberta de quem o nosso protagonista realmente é e do seu verdadeiro propósito, demonstraram ser horas bem passadas, ao ponto de dar por mim a completar a 100%. A história pessoal de Travis Grady é tragicamente bela e o seu relacionamento com Alessa Gilespi é bastante poético, mas o que mais me fascinou foi a cidade em si, um sítio que assume a forma dos nossos demónios e que nos abriga a confrontá-los, como uma espécie de amigo que é duro nas suas afirmações mas igualmente verdadeiro nas suas intenções. Isso cativou a minha atenção.

De seguida passei para Silent Hill: Shattered Memories, também para a PSP. Aqui o interesse e a curiosidade surgiram muito antes de o menu inicial se apresentar. Naquele aviso em fundo vermelho em que era dito que o jogo jogava o jogador tanto quanto ele o joga deixou-me entusiasmado, e de certa forma não desapontou. Aqui temos a história do primeiro título da série somente contada de uma forma diferente. Harry Mason tem um acidente de carro na famosa cidade e quando acorda descobre que a sua filha adoptiva não está com ele e prontamente decide procurá-la. Este é um dos dois segmentos que fazem o jogo. O outro leva-nos para o escritório de um psicólogo que nos vai fazendo perguntas e submetendo testes. Como amante de Psicologia, isto para mim era ouro sobre azul, e o facto de estar a ser avaliado apenas tornava as coisas interessantes. Com o tempo terminei o jogo, e fiquei satisfeito não só com todo o desenrolar como com o fim com que fui presenteado. Contudo, outras visitas a este título atiraram, infelizmente, por terra a premissa por detrás daquele aviso inicial.

Com estes dois títulos arrumados, dei por mim a querer mais, e por fim a altura de me aventurar por onde tudo começou presenteou-se, e lá estava eu de novo a ajudar Harry Mason a procurar a filha adoptiva no primeiro Silent Hill. Aqui a cidade já não se moldava à personalidade de Harry Mason, mas sim de Alessa Gilespi que tinha sofrido às mãos do culto de Silent Hill que através dela queria trazer o seu deus para este mundo. A forma como tudo se desenrola é soberba e a complexidade dos vários quebra-cabeças é um grande extra a este jogo que é sem dúvida uma obra-prima.

E com isto a minha atenção centra-se naquele que para mim e para muitos é o melhor jogo da série, Silent Hill 2. É o título que pegou naquilo que era bom no original e fez com que fosse ainda melhor. Melhor história, melhor banda sonora, melhores visuais, melhor ambiente. O que é que se pode pedir mais? Aqui acompanhamos James Sunderland que regressa a Silent Hill após receber uma carta da sua falecida mulher e que pedia para se encontrar com ela. Aqui é que está a face da cidade que sempre me fascinou, a face daquele amigo que nos obriga a enfrentar os nossos problemas até os ultrapassarmos. Tal é o propósito do icónico Pyramid Head e poder acompanhar James Sunderland na sua demanda por redenção é qualquer coisa de especial.

Passando para o terceiro título, uma vez mais mudamos de protagonista, e seguindo a linha do título original, agora assumimos o papel de Heather Mason que se vê a ser chamada para Silent Hill, não só por causa dos pesadelos que tem tido como também descobre que o seu pai, Harry Mason, foi morto por um monstro a mando de Claudia, responsável pelo culto de Silent Hill. É uma narrativa mais simples, pelo menos à superfície, mas bem executada. Aqui destacaria mais o aspecto estético, nomeadamente os níveis da feira (aquela casa de horrores está mesmo no ponto) e claro que não podia deixar de referir aquela sala com o espelho.

Ao passar para Silent Hill 4: The Room é que as coisas começam a ficar feias. Adorei a imersão que a vista em primeira pessoa confere e a intriga associada à narrativa (como é que não se há de gostar de acompanhar notícias de vários homicídios cujo modus operandi pertence a um assassino que já morreu?), mas as constantes transacções entre o quarto e as várias dimensões que Henry Townshend visita (nomeadamente para esvaziar o nosso inventário) dão uma certa quebra à tão desejada fluidez, quebra essa que é mais acentuada assim que chegamos à segunda metade de jogo e temos que visitar os mesmos sítios outra vez. Silent Hill 4: The Room tem os seus momentos, é verdade, mas não deixa de se sentir que é um jogo de surviva horror com o nome Silent Hill colado por cima.

Silent Hill 5: Homecoming é o próximo passo e aqui seguimos as passadas de Alex Shepherd, um soldado das forças especiais que acaba de regressar a casa. Só a cena introdutória foi o suficiente para me deixar animado quanto ao que viria a sair daqui, como se aquela experiência que os títulos anteriores me presentearam se fosse voltar a repetir, e, de certa forma, assim foi. A história é cruelmente macabra e a sua frontalidade é o ponto mais forte deste título. É óbvio que aqui o foco do jogo foi o combate, sendo Alex o protagonista mais capaz quando comparado com os anteriores, mas no caso dele até se justifica. Contudo, apesar deste e de outros pormenores mais mecânicos, a história não foi propriamente prejudicada e vê-la desenrolar com todas as suas reviravoltas tem o seu quê de satisfatório.

Restar-me-ia falar de Silent Hill: Downpour e de Silent Hill: Book of Memories. Contudo, ainda não joguei o primeiro porque a oportunidade ainda não surgiu (tenciono fazê-lo mesmo sabendo como foi recebido pela crítica) e quanto ao segundo prefiro pensar que não existe.

Poderia dizer que, fora o parágrafo anterior, tinha aproveitado até ao tutano tudo o que Silent Hill tinha para oferecer. Inclusive vi os filmes e acredito que o primeiro não é mau de todo e até o recomendo a quem quer saber o que é Silent Hill mas não quer jogar os jogos. Quanto ao segundo, digo o mesmo que disse sobre o Book of Memories. Contudo, afinal havia mais. Em 2014 foi anunciado um demo jogável de seu nome P.T., demo esse que rapidamente vim a saber que se tratava de um novo Silent Hill. Face ao facto de não me ser possível jogar o jogo dada a ausência de uma PS4, vi e revi vários playthroughs e em todos eles eu estava com um rasgado sorriso na cara. Podia finalmente voltar àquela cidade! Mas, infelizmente, como todos sabemos, tal não será possível, porque todo o projecto foi cancelado. Fiquei atónito. Não queria acreditar que algo como isto seria realmente cancelado, mas assim foi, estando mais que incerto o futuro do nome Silent Hill.

Já perdi a conta à quantidade de textos que escrevi e partilhei sobre ou baseados em Silent Hill. Já perdi a conta à quantidade de vezes que dei por mim a citar Mary Sunderland: “In my restless dreams, I see that town”. Já perdi a conta à quantidade de vezes que queria simplesmente perder-me no nevoeiro e enfrentar os meus demónios.